02/11/2023 - 13:10 - 14:40 CO16.3 - Produção do cuidado, gênero e intersecionalidade |
47613 - A PRODUÇÃO DE CUIDADO EM SAÚDE NO ENCONTRO COM A MULHER NEGRA: RELATO DE EXPERIÊNCIAS POR MEIO DA ESCRITA DE CARTAS MARCELA DE LIMA SILVA - UFRJ
Contextualização Pesquisa realizada na cidade de Florianópolis no ano de 2017 apontou que muitos profissionais de saude sabem da existência da Política Nacional de Saúde Integral da População Negra, porém nao a consideram necessaria ou importante na produção de cuidado.
Esse não reconhecimento de uma politica de Estado não ameniza as desigualdades em saúde e reforçs praticas violentas e racistas contra a população negra.
Descrição O presente trabalho foi escrito para a conclusção da disciplina Racismo e Saúde: população negra, desigualdades e determinantes sociais no Programa de Pós-graduação em “Bioética, Ética Aplicada e Saúde Coletiva (UFRJ), ministrada pela Professora Sonia Beatriz dos Santos.
Período de Realização A disciplina ocorreu de 12/04/2022 a 02/08/2022 de forma remota. Este trabalho foi apresentado na conclusao da disicplina como pré requisito para aprovação na mesma.
Objetivos Sensibilizar os profissionais quanto a construção de práticas de cuidado não racistas em saude ginecologica de mulheres negras.
Resultados Espera-se desenvolver um cuidado decolonial e mais humanizado em se tratando da saude da mulher negra, coforme preconizado pela PNSIPN.
Aprendizados A escrita de cartas contando a minha jornada, enquanto mulher negra, na busca por cuidados em saúde me permitiu dar lingua aos meus afetos e podendo nomear as violencias que sofri. Na escrita somos afetados pelas alegrias e dores do mundo, que provocam a criação de procedimentos de intervenção capazes de traduzir as sensações e percepções frente ao que vemos, ouvimos e tocamos e ao que vê, ouve, toca, em meio a deslocamentos múltiplos de sentidos.
A escolha por este dispositivo metodologico (carta pessoal) se dá por acreditar que ela seja um instrumento de leitura acessivel a todas e que pode gerar conexao entre o leitor e o autor.
Análise Crítica O Ministério da Saúde publicou a Portaria nº 992 cujo objeto foi instituir a Política Nacional de Saúde Integral da População Negra. Em 2017, na cidade de Florianópolis, foi realizado um estudo com 115 profissionais de saúde residentes ou preceptores de um programa de residência médica.
Ao serem questionados sobre a existência da Política Nacional de Saúde Integral da População Negra, 75,65% afirmaram saber que a política existe. A maioria considera o PNSIPN importante para alcançar a equidade no Sistema Único de Saúde (82,61%). Mesmo a maioria afirmando conhecer a Política em questão, apenas 19 respondentes (16,52%) afirmam tê-la lido e a maioria diz nunca ter utilizado tal política em sua prática profissional.
Muitos usuários desconhecem que existe uma política pública de saúde da população negra. Tal política não surte efeito, pois não há como exigir do poder público algo que não se conhece. No caso das mulheres negras, os indicadores de saúde são reveladores das desigualdades raciais enfrentadas.
A condição de saúde de um sujeito tem, dentre muitos fatores, uma determinação social. Essas desigualdades na saúde se devem em grande parte ao que chamamos de racismo estrutural. Muitas das iniquidades apontadas até agora poderiam ser minimizadas se o atendimento clínico tivesse conhecimento da PNSIPN.
No caso da saúde, o uso da linguagem como meio de manutenção e legitimação das desigualdades sociais e raciais permite a criação, cotidianamente, de novos mecanismos para a não oferta de um atendimento profissional adequado e equitativo. Preconceito (in)consciente, ignorância, desatenção ou aceitação de estereótipos racistas que colocam segmentos populacionais em desvantagem.
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