02/11/2023 - 13:10 - 14:40 CO16.4 - Gênero, produção de saberes e Saúde Coletiva |
47530 - INVISIBILIDADE DE CORPOS TRANS EM ESTUDOS QUALITATIVOS SOBRE A FOME: REVISÃO SISTEMÁTICA QUALITATIVA IGOR MYRON RIBEIRO NASCIMENTO - UFBA, IDÁLIA OLIVEIRA DOS SANTOS - UFBA, EVERLY CAROLINE DA CRUZ TEIXEIRA - UFBA, WILER DE PAULA DIAS - UFBA, TIAGO PRATES LARA - UFBA, MAYANA SANTOS SILVA EVANGELISTA - UFBA, ÍTALO MATEUS MATTOS DOS SANTOS - UNIFACS, ² TOMÉ CAPETA SOLUNDO - UFBA, MARCOS PEREIRA - UFBA
Apresentação/Introdução A experiência da transgeneridade é marcada por processos discriminatórios e privação de direitos básicos, podendo estar associada à uma ruptura do vínculo familiar, o que se estende-se às dinâmicas das ruas. Dessa forma, provoca discussões sobre o alcance das políticas sociais ao tentar proporcionar um estado de bem-estar social. Por conseguinte, compreende-se por Segurança Alimentar e Nutricional (SAN), o direito de todas pessoas ao acesso a alimentos com qualidade nutricional e higienicossanitário, de produção sustentável, que respeitem a diversidade social, econômica e cultural da população, e que tenha um olhar direcionado àqueles que possuem maiores vulnerabilidades socioeconômicas, como crianças, idosos, pessoas em situação de rua, pessoas com deficiência, lares monoparentais, povos tradicionais, povos quilombolas, pessoas LGBTQIA+ e entre outros. Apesar da alimentação adequada ser um direito constitucional, indispensável e inerente à dignidade humana, o Estado falha em garantir o direito à alimentação da sua população, pois quase 60% da população brasileira encontra-se em insegurança alimentar (IA) e um pouco mais de 33 milhões estão vivenciando-a de forma grave. Além disso, evidencia que a fome é interseccional, ao destacar que as mulheres negras, chefes do lar e de classe menos abastadas, apresentam maior suscetibilidade a situações de IA. Além do mais, destaca-se a falta de informações sobre identidade de gênero em inquéritos nacionais sobre a temática, o que configura uma problemática de negligência frente a compreensão do status de vida da população trans.
Objetivos Analisar como a produção da literatura científica está discutindo a relação entre identidade de gênero trans e a SAN; e compreender como a vulnerabilidade e o estigma influenciam o processo de estabelecimento da fome.
Metodologia Realizou-se uma revisão sistemática qualitativa, seguindo as diretrizes do grupo Cochrane - Qualitative and Implementation Methods. A busca foi direcionada aos estudos que problematizam a relação da identidade de gênero não hegemônica com a Insegurança Alimentar e Nutricional e a fome. A estratégia de busca foi realizada nas plataformas de bases de dados eletrônicas: Web of Science, MEDLINE, EMBASE, Central e LILACS. Os descritores utilizados foram: Pessoas transgênero, Minorias sexuais e de gênero, Segurança alimentar, Insegurança Alimentar; Identidade de gênero, e seus respectivos sinônimos na língua inglesa: Transgender persons; Sexual and Gender Minorities; Gender identity; Food security; Food insecurity. Os dados foram discutidos com base no referencial teórico da interseccionalidade, e a compreensão dos conceitos de vulnerabilidade e estigma.
Resultados e discussão Foram identificados 521 estudos nas bases de dados. Após a exclusão dos estudos duplicados, 501 foram mantidos. Realizou-se a leitura dos títulos e resumos e foram excluídos 495 estudos que não atenderam os critérios de inclusão. Após a íntegra e avaliação da qualidade, 4 artigos foram incluídos. Três estudos buscaram identificar a relação entre a fome, ou insegurança alimentar, na população de pessoas Transgênero e Não-binárias (TGNB), e um buscou compreender essa relação em um contexto do HIV. Identificou-se que as pessoas TGNB enfrentam altos níveis de estigma social, rejeição e discriminação. Dessa forma, uma discriminação multinível baseada em gênero e a vitimização por membros da família, no trabalho e na comunidade, além de fatores estruturais incluindo a escassez de alimentos nutritivos, a dificuldade no encontro e permanência em um emprego e o destino do dinheiro, seja para aquisição de alimentos, compra de hormônios, pagamento de contas e entre outros, foram colocadas sobre a experiência de insegurança alimentar das pessoas do TGNB. Logo, uma análise interseccional sobre essa dinâmica é fundamental para compreensão das disparidades sociais, vide os impactos diferenciados exercidos pelas questões interpostas pelo gênero, a classe e a raça. Dessa maneira, verifica-se que essas categorias exercem influência no surgimento de transtornos alimentares e problemas de autoimagem, atrelado à IA. No entanto, foi observado que os participantes do TGNB apresentaram variadas experiências de estratégias de enfrentamento da fome, sobretudo por meio da resiliência. Diante disso, destaca-se a importância do surgimento da “família escolhida”, formada por amigos/as e familiares, além, em alguns casos, da busca por um maior nível educacional, a fim de enfrentar a discriminação.
Conclusões/Considerações finais Desse modo, destaca-se que há uma relação entre a identidade trans com SAN, marcada por uma possível experiência de fome diante de um contexto de estigma, vulnerabilidade social e estrutural. Entretanto, foi identificado que redes de apoio são cruciais para minimizar o impacto do estigma social sobre esse grupo. Além disso, evidencia a existência de uma lacuna na literatura que busque identificar a relação da fome, sociabilidade e barreiras estruturais aos corpos trans.
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