Comunicação Oral

02/11/2023 - 13:10 - 14:40
CO16.5 - Populações LGBTQIA+ e cuidados em saúde

47157 - IDENTIDADE DE GÊNERO E NECESSIDADES DE SAÚDE NA VIVÊNCIA DE PESSOAS TRANSEXUAIS
GABRIEL HARA DE ANDRADE - UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA "JÚLIO DE MESQUITA FILHO", ELEN ROSE LODEIRO CASTANHEIRA - UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA "JÚLIO DE MESQUITA FILHO", CAROLINA SIQUEIRA MENDONÇA - UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA "JÚLIO DE MESQUITA FILHO", BEATRIZ MENESES OLIVEIRA DA SILVA - UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA "JÚLIO DE MESQUITA FILHO"


Apresentação/Introdução
Introdução
As especificidades da saúde LGBTQIA+ ainda são desconhecidas por grande parte dos profissionais de saúde, apesar de avanços e da existência da Política Nacional da Saúde LGBT (2013). A sigla LGBTQIA+ (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Transexuais, Queer, Intersexuais, Assexuais e Outras Identidades) procura dar visibilidade e legitimidade às diferentes identidades de gênero e orientação sexual, como forma de combate às iniquidades e às ações homofóbicas e transfóbicas. O presente trabalho propõe uma aproximação com as necessidades de saúde e demandas assistenciais de pessoas representadas pela letra T (pessoas transexuais, travestis e transgêneros). Tem a finalidade de dar visibilidade a essa temática, contribuir com a formação de profissionais de saúde e incentivar o aumento de ações para melhoria da atenção à saúde desses indivíduos.


Objetivos
Objetivos
Compreender a percepção de pessoas transexuais sobre a capacidade de resposta dos serviços de saúde a suas necessidades a partir de experiências vivenciadas.


Metodologia
Metodologia
Pesquisa observacional, qualitativa, realizada por meio de 10 entrevistas semiestruturadas, entre 2021 e 2023, sendo 5 com mulheres transexuais e travestis e 5 com homens transexuais, em região do interior paulista. Foi realizada análise de conteúdo na modalidade temática. As entrevistas foram numeradas com a letra E seguida de numeração.


Resultados e discussão
Resultados e discussão
Foram identificadas quatro categorias: “A Descoberta do Gênero”, “A Transição”, “O Reconhecimento” e “A Falta de Capacitação Profissional”.
Na primeira, destaca-se o processo de autoconhecimento, as dificuldades de expressão social e como isso afeta sua individualidade e sua saúde.
“Isso não é fácil, sabe, é um momento assim, bem turbulento, porque assim, tudo é difícil [...] , você não se encaixa em nada.[...] eu tinha que me montar escondida...” (E1)

“[...] é que dentro de um corpo masculino, dentro de mim, eu me sentia uma alma feminina [...] então eu acabava tendo um pouco de preconceito comigo mesma...” (E2)

Em “A Transição”, identificou-se etapas de afirmação da identidade de gênero e as deficiências do sistema de saúde. Por falta de apoio ou de opção as pessoas realizam essas etapas sem amparo profissional, como hormonioterapia por conta própria. A demanda por procedimentos estético-cirúrgicos que melhorem a qualidade de vida e amenizam sofrimentos não têm respaldo nos serviços de saúde.
[...] , fui me transformando e fazendo tudo por conta[...] e aí começam as transformações né, é realizador, o peito começa a crescer, infelizmente vem algumas coisas ruins junto né, [...]”(E2)

“[...] não tinha conseguido trocar meu nome, não tinha conseguido tratamento hormonal, aí o que eu fiz?[...] comecei a fazer meu próprio tratamento sozinha, que eu me arrependo amargamente [...]”(E1)

“O Reconhecimento” destaca as dificuldades em alcançar o status de sujeito de direitos, a importância do nome social e o quanto essa questão é sensível. Apesar de ser um direito, nem sempre é reconhecido tanto nos serviços quanto nos processos legais, causando grandes constrangimentos. Destaca-se também a importância da imagem que a pessoa trans exibe para a sociedade ser passável sem que seja uma condição de sofrimento.
“Eu sempre acreditei que eu vou trocar o meu nome um dia, não sei como, mas vou[...]”(E2)

“[...]minha mãe me acolheu e desde então eu comecei a minha transição. Não foi nada fácil, tanto é que, eu não tenho contato com o meu pai, até hoje [...]”(E3)

“A Falta de Capacitação Profissional” discute os problemas enfrentados no sistema de saúde, quanto a seu funcionamento e falhas na atenção à população trans. Destaca-se a falta de capacitação e de disponibilidade de profissionais na atenção às demandas específicas e até mesmo às demandas gerais e corriqueiras.
“[...] o que eu percebi muito na rede pública é que eles não tão preparados para lidar com transexual nem com pessoas de gênero da LGBTQ[...]”(E4)

“[...] ele (o médico) falou assim ‘não sei o que passar para você, não sei, porque [...] ‘na minha época não tinha essas coisa’ ele usou o termo ‘coisa’... ‘essa coisa de trans, como vocês falam? Trans?!’ [...]”(E2)


Conclusões/Considerações finais
Considerações Finais
É nítida a falta de conhecimento sobre a transexualidade. Os profissionais de saúde, e mesmo a população em geral, desconhecem o contexto de vida e saúde dessa população e a necessidade de capacitação profissional. Faz-se necessário desconstruir preconceitos e tabus que permeiam e dificultam a incorporação de ações simples, como o uso do nome social nos serviços de saúde. Além disso, a vivência dos entrevistados aponta questões como a falta de conhecimento dos profissionais sobre as opções de tratamento e encaminhamento disponíveis, bem como os fluxos existentes. Falta compreensão sobre as demandas, o contexto e as dificuldades dessa população, mas principalmente reconhecimento de seus direitos sociais com grande repercussão para a qualidade de vida e saúde das pessoas trans.