02/11/2023 - 13:10 - 14:40 CO16.5 - Populações LGBTQIA+ e cuidados em saúde |
47570 - A COMPREENSÃO DE LUTO PRESENTE NAS RODAS DE CONVERSAS COM AS MÃES DE USUÁRIOS E USUÁRIAS DO AMBULATÓRIO TRANSEXUAL E TRAVESTI DE NATAL: UM RELATO DE EXPERIÊNCIA CLÉA PATRÍCIA PEREIRA DOS SANTOS - UFRN, MARIA ÂNGELA FERNANDES FERREIRA - UFRN, OSWALDO GOMES CORRÊA NEGRÃO - UFRN, ELIANA COSTA GUERRA - UFRN, JOÃO BOSCO FILHO - UERN, BRÍGIDA GABRIELE ALBUQUERQUE BARRA - UFRN, CLAYNARA GIOVANNA BEZERRA - UFRN, MARIA LUIZA DE SOUSA BELÉM - UFRN, TÚLIO DE ARAÚJO LUCENA - UFRN
Contextualização Este relato de experiência foi composto pela equipe do Ambulatório Transexual e Travesti de Natal a partir da inserção dos usuários e usuárias do serviço. Foi possível a participação em modalidades grupais do acolhimento com as mães, mediadas por profissionais do serviço, supervisor de campo da Universidade Federal do Rio Grande e alunos do PET SAÚDE. Essas atividades possibilitaram o desenvolvimento de uma escuta atravessada diretamente pelo tema do luto não reconhecimento ou não validado e não aceito socialmente. Essas reflexões são levantadas nas reuniões com a equipe do ambulatório TT, sendo debatidos temas de gênero e ética no cuidado em saúde. A prática em um serviço de saúde direcionado à população transsexual e travesti exige um resgate histórico acerca do modo como essa população acessa a saúde, visibilizando um posicionamento ético-político de busca e efetivação de direitos, tal como de implementação e acesso a políticas públicas em saúde.
Descrição O trabalho em questão trata-se de um estudo descritivo, qualitativo, do tipo relato de experiência, com o objetivo de narrar vivências construídas a partir de rodas de conversas sobre processos de lutos realizadas com mães de usuários e usuárias do Ambulatório Transexual e Travesti do município de Natal, mediadas por profissionais de enfermagem, psicologia e serviço social do serviço, acompanhadas por Alunos do Programa de Trabalho e Educação para a Saúde (PET - SAÚDE), por professor do curso de Psicologia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte e por um psicológo convidado que atua em Centro de Referência em Luto. Participaram das rodas, com duração média de 03 horas, 10 mães; foram feitos trabalhos com elaboração de cartazes, escrita de cartas e diálogos a partir de fotos dos filhas e filhos antes da transição. As narrativas apontaram para os lutos não reconhecidos e não autorizados dessas mães, que explicitaram as dificuldades de lidar com as dores não validadas ou socialmente aceitas, com o filho ou filha que não corresponde ao sexo de nascimento.
Período de Realização A experiência relatada foi realizada de março a maio de 2023, com uma roda de conversa por mês.
Objetivos Narrar as experiências construídas a partir das rodas de conversa sobre os lutos vivenciados por mães de usuários e usuárias do Ambulatório Transexual e Travesti do município de Natal
Resultados As rodas de conversas possibilitaram as narrativas de mães que em muitos momentos não conseguem explicitar suas dores quanto aos sentimentos de perdas vivenciados a partir dos processos de transição de filhos e filhas transexuais. Expostas suas falas, foi possível perceber que existem inúmeros lutos, os quais não são reconhecidos ou autorizados de serem falados, fazendo com que as mesmas tenham dificuldades de reconhecerem essas dores como lutos e consequentemente pedir ajuda para os seus processos de elaboração.
Importante também destacar que durante as rodas, foi possível perceber o discurso de mães que apontam o processo de transição como um momento de morte do filho anterior, para o nascimento do filho ou filha trans, condição que gera sofrimento, em especial, porque em alguns momentos essa compreensão sobre a morte não é legitimada, sendo negado, portanto o direito de se viver o luto que está presente no contexto de mortes concretas ou simbólicas dos sujeitos. A proposta do grupo com as mães possibilitou a circulação da palavra capaz de contemplar os anseios tão presentes em suas histórias de vida. Ao final do terceiro encontro, as relações horizontais permitiram que trocas acontecessem, contribuindo com a formação de um vínculo entre as participantes, condição importante para que o espaço das rodas funcionasse como um lugar acolhedor para que as mães sintam seus afetos validados nessa fase do luto não reconhecido, decorrente do rompimento da heteronormatividade.
Aprendizados As trocas de experiências possibilitadas pelas rodas de conversa permitiram aos profissionais e mães dos usuários e usuárias acessarem as vivências de cada participante, suas dores, perdas e lutos. As participantes acolheram a transição dos filhos e filhas e compartilharam os bons sentimentos que persistem na memória afetiva da relação construída antes da transição. A participação dos estudantes do PET Saúde foi de grande relevância, pois, no processo formativo nas universidades, a temática relativa à saúde LGBTQIAPN+ não é pauta ou tem espaço ainda pequeno nos currículos e processos de ensino e aprendizagem.
Análise Crítica O olhar para os processos de lutos vivenciados por mães de filhos e filhas transexuais ainda é um desafio a ser enfrentado pelos serviços de saúde. As fragilidades dos profissionais de saúde no acolhimento das mães dos filhos e filhas no processo de transição, destaca-se como uma questão a ser trabalhada tanto na formação acdêmica, quanto na educação permanente e nos processos de trabalho.
O cuidado centralizado no usuário é uma das propostas do Sistema Único de Saúde que valida lutas sociais e polítiicas públicas LGBTQIAPN+.
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