Comunicação Oral

02/11/2023 - 13:10 - 14:40
CO16.5 - Populações LGBTQIA+ e cuidados em saúde

48108 - ACOLHIMENTO EM SAÚDE A ADOLESCENTES E JOVENS TRANS NA CIDADE DE SÃO PAULO
VICTOR HUGO FELIX DOS REIS LOPES - IPUSP, ISABELLA SILVA DE ALMEIDA - FMUSP, JAMILE SILVA GUIMARÃES DE JESUS - FMUSP, JOSÉ RICARDO DE CARVALHO MESQUITA AYRES - FMUSP, VERA SILVIA FACCIOLLA PAIVA - IPUSP


Apresentação/Introdução
A política nacional de atenção integral à saúde de adolescentes e jovens (A&J) conferiu relevo à integralidade da atenção à saúde e ao trabalho intersetorial e interdisciplinar de ações de prevenção de agravos e de promoção da saúde. Nessa perspectiva, em janeiro de 2023, no município de São Paulo, consolidou-se a Rede Sampa Trans, com o intuito de ofertar atendimento por equipe multiprofissional para pessoas em processo de afirmação de gênero, ampliando o oferecimento para adolescentes e jovens. Entre os objetivos da Rede Sampa Trans estão a garantia de acesso, a oferta de cuidado integral e resolutivo em saúde, acompanhamento longitudinal e intervenções articuladas entre saúde e outras políticas públicas, como a educação.
Este estudo, é desenvolvido no âmbito da pesquisa-intervenção multisetorial, em escolas e unidades de saúde “Vulnerabilidades de jovens às IST/HIV e à violência entre parceiros: avaliação de intervenções baseadas nos direitos humanos” (2019-2023), que adaptou-se ao cenário de crise sanitária dos últimos três anos pautando, além da prevenção de IST/HIV, a Covid-19 e os sofrimentos psicossociais emergentes entre adolescentes e jovens na sindemia instaurada. Em 2023, no município de São Paulo, depois de 3 anos em 4 escolas públicas de ensino médio, aprofundamos o trabalho de campo em UBSs em três Supervisões Técnicas de saúde da cidade - Ipiranga, M’Boi Mirim e Campo Limpo, buscando a compreensão do modo de apreensão das necessidades de saúde dos A&J nos serviços de APS, em particular no que se refere à saúde sexual e reprodutiva.


Objetivos
Ampliar a discussão sobre o acolhimento e oferta de cuidado integral aos adolescentes e jovens focalizando o processo de afirmação de gênero no âmbito das UBS.

Metodologia
Este trabalho compartilha resultados da análise preliminar da investigação em duas das quatro UBS e reflexões sobre o percurso do eixo “unidades de saúde” do Projeto Temático. Para tal foram utilizados os instrumentos metodológicos: observação dos serviços e atividades; conversas e entrevistas semiestruturadas com os profissionais das UBS e interlocutores intersetoriais e entrevistas semiestruturadas com jovens entre 16 e 23 anos, moradores do território.

Resultados e discussão
A atenção às pessoas em processo de afirmação de gênero no município de São Paulo vinha sendo experimentada em pontos específicos da rede de saúde, como no Ambulatório de Transtorno de Identidade de Gênero e Orientação Sexual do Hospital das Clínicas (Amtigos-HC); UBS Humberto Pascale; Centro de Saúde Escola Barra Funda. Dada a recente consolidação da Rede Sampa Trans e ampliação dos pontos de atenção, nos chamou a atenção durante a observação do campo o modo como dois dos cenários-campos se organizam e desenvolvem ações direcionadas a essa população, principalmente aos adolescentes e jovens, população de interesse de nossas investigações.
Em um dos cenários notamos ter havido uma reorganização do serviço. Logo na recepção há um cartaz indicando o direito de uso do nome social. No fluxo de atenção deste cenário, por auto demanda, adolescentes e jovens acionam o agente comunitário e/ou agendam uma consulta com o profissional médico de referência através do app “Agenda Fácil” e solicitam o acompanhamento em saúde. À observação, segue-se o protocolo municipal - anamnese, solicitação de exames, avaliação dos exames, encaminhamento para avaliação com o psicólogo(a) da UBS, encaminhamento para o serviço de referência para acompanhamento de equipe especializada - endócrino/ ginecologista no AMA/HD.
No outro cenário percebemos que o atendimento fica dependente do esforço individual do enfermeiro responsável pelo programa dentro da unidade, desde o primeiro contato com o usuário, que em geral é realizado informalmente no território nos momentos de almoço ou chegada e saída do trabalho, até o processo de cadastro, encaminhamento e contato posterior com as pessoas que desejam realizar o acompanhamento na unidade. Os demais profissionais se mostram menos preparados para o atendimento de modo geral, encaminhando as demandas diretamente ao enfermeiro, utilizando o “nome morto” (nome de registro) dos usuários bem como os pronomes errados.

Conclusões/Considerações finais
A existência de políticas públicas e legislações específicas não assegura que os direitos das pessoas sejam garantidos. Processos continuados de educação em saúde dos profissionais, familiares e comunidades apresentam-se como estratégicos para a efetivação de práticas afirmativas e das políticas públicas. Da mesma forma, a integralidade da saúde pressupõe que acesso e qualidade da atenção estejam lado a lado. Logo é insuficiente responder aos protocolos sem que haja escuta qualificada, acolhimento e responsividade às demandas trazidas pela população em processo de afirmação de gênero. Há um percurso a ser percorrido pela recém constituída Rede Sampa Trans e efetivação das medidas de cuidado à população de adolescentes e jovens trans em todo o município.