02/11/2023 - 13:10 - 14:40 CO17.2 - Territórios, identidades e sofrimentos - narratividade e cuidados em saúde mental de crianças e adolescentes |
47540 - PERCORRENDO A REDE DE QUEM PRECISA DE REDE: ITINERÁRIOS DE ADOLESCENTES EM BUSCA DE CUIDADO EM SAÚDE MENTAL EM UM MUNICÍPIO PAULISTA DE MÉDIO PORTE ROSÂNGELA SANTOS OLIVEIRA - UNICAMP, ROSANA ONOCKO-CAMPOS - UNICAMP
Apresentação/Introdução Historicamente o cuidado de crianças e adolescentes esteve relegado às instituições da assistência social e educação com caráter filantrópico e tutelar. Quando se trata da Política de Saúde Mental Infanto-Juvenil (SMIJ), observa-se uma lacuna assistencial histórica no setor saúde com a inserção tardia no debate da Reforma Psiquiátrica Brasileira (RPB). De tal modo, que o planejamento e construção de políticas públicas para esta população, em acordo com os princípios do SUS e do ECA, também são recentes. Dentre os princípios indicados por esta política, destaca-se a importância de uma rede de atenção psicossocial de base territorial, na qual os Caps infanto-juvenis são tidos serviços estratégicos na organização de cuidado e a intersetorialidade como um princípio fundamental.
Trata-se de uma pesquisa qualitativa por meio do desenho dos itinerários terapêuticos. Os Itinerários Terapêuticos podem ser utilizados para pensar indicadores de acesso à rede, resolutividade da assistência em saúde e também compreender a percepção sobre a experiência de cuidado, incluindo as redes não convencionais dos sujeitos entrevistados (SOUZA e ZAMBENEDETTI, 2018).
Objetivos O estudo objetivou analisar o itinerário terapêutico de cinco adolescentes (2 homens e 3 mulheres) entre 14 e 17 anos na busca por cuidado em saúde mental em uma cidade paulista de médio porte, elaborados a partir do conteúdo de entrevistas abertas e em profundidade, norteados por um roteiro prévio, com os próprios adolescentes. Para tal, os seguintes objetivos específicos foram traçados: 1) Investigar quais os pontos da rede oferecem cuidado em saúde mental aos adolescentes e quais são os fluxos existentes quando se refere à busca de cuidado em saúde mental de adolescentes no município; 2) Identificar os aspectos facilitadores e dificultadores de acesso e resolução no cuidado em saúde mental de adolescentes; 3) Contribuir para reflexão e qualificação das políticas públicas e práticas profissionais em saúde mental voltadas aos adolescentes no município.
Metodologia As entrevistas foram gravadas e após a transcrição e leitura destas, realizamos a construção de narrativas e confecção da representação visual dos itinerários terapêuticos narrados pelos entrevistados, utilizamos a perspectiva de Onocko-Campos (2011) de que se trata de um processo intersubjetivo, ou seja, situado num espaço transicional (MIRANDA; ONOCKO-CAMPOS, 2010; WINNICOTT, 1971 apud ONOCKO-CAMPOS, 2011), perspectiva afinada com a hermenêutica crítica de Paul Ricoeur (Ricoeur, 1990 apud Onocko-Campos, 2014). Esse estudo foi submetido e aprovado por um Comitê de Ética de Pesquisa e familiares e adolescentes tomaram ciência e assinaram respectivamente o TCLE e TALE.
Resultados e discussão A análise parcial dos dados, os itinerários terapêuticos dos adolescentes se mostraram diversos, a família foi relatada pelos adolescentes como a primeira opção na busca de cuidados de si, embora, alguns deles refiram terem demorado a compartilhar as dificuldades com os pais com intuito de que “fosse passar” (sic). Dois deles relataram terem buscado a Unidade Básica de saúde para relatarem sobre suas questões de saúde mental, um deles foi encaminhado para acompanhamento no ambulatório e outro para um Caps adulto do munícipio.
Notou-se que no caso em que o primeiro acesso para busca de cuidado em saúde mental foi a Urgência e Emergência no município não houve articulação para continuidade do cuidado na rede, sendo que a família e o adolescente tiveram de manter a busca por um cuidado que fosse resolutivo.
A maioria dos adolescentes entrevistados passaram a apresentar sinais e sintomas em saúde mental após período da pandemia, destacando o retorno escolar como processo de readaptação. Assim, ao passo que a escola apareceu nas entrevistas como lugar de socialização, de reencontro com os colegas após o período da pandemia, também figurou como um lugar que traz angustia e até sofrimento devido as pressões existentes, sendo necessário acionar a rede intersetorial para acessar a rede de atendimento no setor saúde,
Quanto ao acompanhamento atual, os adolescentes estavam em acompanhamento com psiquiatra e psicólogo, sendo que apenas dois não estavam em uso de psicotrópicos. Relataram satisfação e melhora com o tratamento recebido, porém consultas individuais/familiares uma vez ao mês. Apenas um adolescente relatou a ausência de grupos para adolescentes no ambulatório tendo em vista que já teria experimentado essa oferta terapêutica fora do munícipio.
Conclusões/Considerações finais Tais dados demonstram que a escuta da experiência de adolescentes em busca de cuidado pode elucidar aspectos da rede de cuidado acessada por eles – formal (saúde, assistência social, educação, etc.) ou informal e quais as potências e entraves desta rede. Os adolescentes entrevistados apresentavam queixas leves em saúde mental, sendo uma limitação deste estudo avaliar os itinerários terapêuticos de adolescentes com sofrimento grave no município.
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