44993 - O USO INTENSIVO DO WHATSAPP NO ENFRENTAMENTO DA PANDEMIA DE COVID-19: GESTÃO DO CUIDADO, DESGASTE E VULNERABILIDADE
LUÍS FERNANDO NOGUEIRA TOFANI - UNIFESP, ANDRÉ LUIZ BIGAL - UNIFESP, FERNANDO TUREK - UNIFESP, LUMENA ALMEIDA CASTRO FURTADO - UNIFESP, ROSEMARIE ANDREAZZA - UNIFESP, ARTHUR CHIORO - UNIFESP
Apresentação/Introdução
Em março de 2020 a Organização Mundial de Saúde designou a COVID-19 como pandemia, devido a sua veloz disseminação entre seres humanos e em diversos países. O enfrentamento à crise sanitária trouxe novos desafios, exigindo resiliência e plasticidade dos sistemas de saúde, em particular no Sistema Único de Saúde no Brasil. As limitações impostas pelas medidas de isolamento social e a necessidade de atendimento a uma demanda crescente e desconhecida demandou transformações nas práticas em saúde durante o período pandêmico. A restrição de atividades presenciais e de contatos pessoais potencializou a comunicação através de tecnologias digitais, que, embora já em uso, emergiram no contexto de crise como parte da solução. O uso destas tecnologias vem sendo eficaz no aumento da abrangência da atenção à saúde com ações de gestão, assistência, ensino e pesquisa, sendo recomendada para expandir a oferta de serviços ligados aos cuidados em saúde. Dentre as possibilidades de uso de ferramentas digitais de comunicação, destaca-se o WhastApp: um aplicativo utilizado em serviços móveis de telefonia que oferece suporte ao envio e recebimento de textos, fotos, vídeos e documentos, assim como chamadas de voz. O uso deste aplicativo foi intenso por profissionais de saúde como tecnologia digital de comunicação durante a pandemia. Desta forma, emergem algumas questões: Como as novas tecnologias digitais de comunicação, em especial o WhatsApp, foi utilizado no contexto da pandemia? Quais inovações e arranjos foram potencializados? Quais os desafios visibilizados?
Objetivos
O objetivo deste estudo é analisar o uso do aplicativo WhatsApp na gestão, no processo de trabalho e no cuidado à saúde no enfrentamento da pandemia de COVID-19.
Metodologia
A pesquisa tem natureza qualitativa, sendo caracterizada como estudo de casos múltiplos. O campo do estudo foi constituído por duas regiões de saúde no estado de São Paulo, sendo selecionados três municípios de cada por porte populacional. Foram realizadas entrevistas abertas com gestores, coordenadores de serviços e trabalhadores do SUS, abordando questões referentes à gestão, assistência, vigilância e cuidado à saúde de pessoas em vulnerabilidade no contexto da pandemia. Os resultados foram organizados em quadros, considerando-se quatro dimensões: 1) formação profissional, ensino e pesquisa; 2) comunicação entre profissionais nos serviços de saúde; e 3) relação profissional-usuário; e 4) gestão em saúde. A análise do material empírico teve como referencial teórico a Análise Institucional, utilizando-se dos conceitos de analisador, implicação e instituído-instituinte.
Resultados e discussão
O uso do WhatsApp potencializou processos instituintes de novas práticas de gestão, de trabalho e de cuidado em saúde numa perspectiva viva, comunicativa, produzida em ato, principalmente a partir dos desafios trazidos para o enfrentamento ao quadro pandêmico. Os resultados apontam ainda para a sobreimplicação de trabalhadores e gestores, configurando por vezes situações de desgaste pela comunicação constante e em tempo integral através do aplicativo, com potencial comprometimento da própria saúde. Também evidenciam práticas que já vinham sendo produzidas na informalidade e que emergiram como um processo acelerado de institucionalização não-formal, em resposta às exigências práticas da emergência sanitária, constituindo-se em novos arranjos de comunicação e regulação do acesso. Os desafios são as questões éticas e a preservação do sigilo profissional pelo compartilhamento de dados individuais, bem como possíveis iniquidades produzidas no cuidado pela exclusão de usuários em condições de vulnerabilidade e sem acessibilidade digital.
Conclusões/Considerações finais
O enfrentamento à COVID-19 foi um momento singular no mundo contemporâneo, exigindo plasticidade dos sistemas de saúde. Práticas micropolíticas que eram produzidas na informalidade emergiram em processo acelerado de institucionalização como resposta à emergência sanitária. O uso do WhatsApp tornou-se um arranjo que tem potencializado processos instituintes de novas práticas de gestão, do trabalho e do cuidado em saúde numa perspectiva mais viva, comunicativa, produzidas em ato. Estas práticas, muitas vezes implicadas com a defesa da vida, têm exigido comunicação constante e em tempo integral de gestores e profissionais de saúde, produzindo uma inseparabilidade entre o mundo do trabalho e a vida pessoal, configurando muitas vezes situações de desgaste, com potencial comprometimento da própria saúde dos dirigentes e trabalhadores do SUS. Aprofundar o olhar sobre o uso dessa ferramenta visibiliza o desenvolvimento de processos relacionais e de comunicação, centrais para a produção e gestão do cuidado. Refletir sobre o uso do WhatsApp coloca indagações de como as ferramentas de comunicação em geral seguirão atravessando a produção e a gestão do cuidado e como as muitas formas de trabalho, instituídas durante a pandemia, serão incorporadas no cotidiano de forma segura, ética e inclusiva.
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