Comunicação Oral

02/11/2023 - 13:10 - 14:40
CO18.2 - Mídias digitais e política pública de saúde

47988 - EMOÇÕES E VACINAÇÃO: ESTUDO DO COMPARTILHAMENTO DE IMAGENS SOBRE VACINA NO TWITTER
FÁBIO GOMES GOVEIA - UFES/ICEPI, FABIO LUIZ MALINI DE LIMA - UFES/ICEPI, FRANCIS SODRÉ - UFES/ICEPI, LORENZO PICCOLI - UFES


Apresentação/Introdução
Os debates sobre desinformação, manipulação de notícias, informações enganosas - as popularmente conhecidas como fake news - ganharam os holofotes nos últimos anos. Grandes eventos como a eleição do ex-presidente norte-americano, Donald Trump; a saída do Reino Unido da União Européia; o pleito presidencial na França em 2017 e as eleições no Brasil em 2018 e 2020, são alguns dos eventos que revelam o impacto das circulação de notícias falsas no campo político (Del Vicario et al., 2016; Ferrara, 2017; Entman & Usher, 2018; Bastos & Farkas, 2019; Bastos & Mercea, 2019).
Mas o impacto da circulação de desinformação não é observada apenas no campo político. A emergência da pandemia do Novo Coronavírus (Covid-19) pela Organização Mundial de Saúde (OMS) em março de 2020, mostrou que o fenômeno das notícias falsas também é caso de saúde pública. Na verdade, muitos estudos já evidenciaram a atuação de desinformação e dos bots nos movimentos de contestação à vacinação em diversos países (Sacramento, 2018; Broniatowski et al., 2018).
Por isso, um cenário que já se desenhava dramático com a maior pandemia dos últimos 100 anos ficou ainda mais grave, uma vez que a própria OMS alertou que junto com o surto global de Covid-19 estamos enfrentando também uma “infodemia”. A entidade mais importante de saúde do mundo diz que, por conta do excesso de informações, “algumas precisas, outras não”, a população tem dificuldades para “encontrar fontes idôneas e orientações confiáveis” quando precisa (OPAS, 2020). Entre os problemas causados pela infodemia, a OMS destaca ainda que as pessoas podem ficar mais ansiosas, deprimidas ou com dificuldades para realizar demandas importantes. Por esses motivos, a infodemia que vivenciamos revela a urgência de estudos sobre a difusão de desinformação nas redes sociais (Zarocostas, 2020; Donovan, 2020).

Objetivos
Investigar as emoções contidas nas imagens que circularam no Twitter sobre vacina e Covid-19 entre 2020 e 2023.

Metodologia
No que compete a este estudo, o escopo está justamente em entender qual o papel das emoções contidas nas imagens que circulam nas redes sociais e sua relação com as desinformações que podem impactar no aumento da hesitação vacinal. Para isso usamos metodologia mista, com técnicas da Análises Automatizadas e Supervisionadas (Manovich, 2009; Manovich, Douglas & Zepel, 2012) e também da Análise de Conteúdos (Niederer, 2018; Rose, 2016). A abordagem quantitativa permitiu observar as principais emoções presentes nas imagens.
Ao identificar as imagens, procedemos o processamento desse material a partir de métodos digitais (Rogers, 2013; Antunes et al., 2016; Marres, 2017; Goveia, 2019).
O corpus de pesquisa compreende um total de cerca de 7 milhões de tweets publicados no Brasil com o termo “vacina” em português entre 10 de outubro de 2020 e 7 de março de 2023. Deste total foram extraídas 105.990 imagens, que passaram pelo tratamento digital para a identificação das faces, que somaram mais de 80.831 recortes. Sobre esses dados foram aplicados processamentos computacionais para a extração das emoções presentes nas imagens.

Resultados e discussão
O resultado do processamento das imagens coletadas foi uma visualização em formato histograma que apresenta as principais emoções presentes nas imagens. O maior cluster compreende as imagens classificadas automaticamente como “neutras”, num total de 24.034 imagens. O grande volume compreende grande massa de imagens contendo máscaras nos rostos, uma vez que o período de coleta foi marcado pelo uso da medida não-farmacológica para contenção do vírus da COVID-19.
O segundo maior agrupamento compreendeu as imagens classificadas automaticamente como “felizes”: 21.863. Isso ocorre em função do grande volume de publicações meméticas e também por haver grande circulação de mensagens vinculadas ao período de realização da Copa do Mundo de Futebol. O terceiro maior conjunto é de imagens, com 20.014 faces identificadas, compreende as emoções de tristeza e raiva combinadas.


Conclusões/Considerações finais
O estudo de imagens que circularam no Twitter entre 2020 e 2023 com temáticas sobre vacina demonstra que os aspectos emocionais devem ser considerados em futuras investigações. A associação de grandes eventos, como a Copa do Mundo de Futebol, influencia a forma como as pessoas reportam suas mensagens acerca de vacina nas redes sociais. Os aspectos negativos também possuem relevância quando os usuários reportam mensagens no Twitter.