Comunicação Oral

02/11/2023 - 13:10 - 14:40
CO19.2 - Fomes, interseccionalidades nas políticas públicas em Alimentação e Nutrição

48035 - A INTERSECCIONALIDADE DA FOME NO CAMPO E NA CIDADE: UMA ANÁLISE ESTRATÉGICA DA VIGILÂNCIA ALIMENTAR E NUTRICIONAL EM MINAS GERAIS
MICAELA MARQUES SANTANA ALVES - ENSP/FIOCRUZ, MARLY MARQUES DA CRUZ - ENSP/FIOCRUZ, ROBERTA GONDIM DE OLIVEIRA - ENSP/FIOCRUZ, SANTUZZA ARREGUY SILVA VITORINO - ENSP/FIOCRUZ, CARLA RENATA DOS SANTOS MARQUES - ENSP/FIOCRUZ


Apresentação/Introdução
A fome é um problema de relevância global que em 2017 afetava 11% da população no mundo. O Brasil tem um histórico de fome internacionalmente evidenciado na agenda pública desde a década de 1930. O Brasil saiu do mapa da fome em 2014, mas retornou após o golpe jurídico-parlamentar e mudanças de governo. A Segurança Alimentar e Nutricional e a Soberania Alimentar não foram priorizadas e passou a ser foco de desmonte. Em 2020 durante a pandemia de Covid-19, o inadequado enfrentamento do Estado, crise sanitária, política, econômica, social e desmonte de políticas públicas agravaram o cenário da fome. Os estudo sobre a Insegurança Alimentar na Pandemia de Covid-19, “I e II da REDE PENSSAN, apontaram que em 2020 19,1 milhões e em 2022 mais de 33 milhões estavam em Insegurança Grave, ou seja, em situação de fome. A fome ganhou importância social, política e epidemiológica pelo seu aumento exponencial. Evidenciar o tema da fome passa também pela história de continentes que foram e em alguma medida continuam sendo colonizados, explorados e expropriados e tiveram suas populações escravizadas. Nesse sentido, como modalidade de genocídio, a fome a partir da interseccionalidade, se caracteriza por demarcar corpor racializados, genderizados e territorializados e de uma classe social.

Objetivos
Analisar como a fome se apresenta e qual a pertinência da ações de Vigilância Alimentar e Nutricional na Atenção Primária à Saúde, a partir da interseccionalidade, na resposta à situação de fome nos territórios em municípios de Minas Gerais.

Metodologia
Trata-se da descrição metodológica de uma pesquisa de doutorado desenvolvida na Ensp/Fiocruz, aprovada pelo CEP/Ensp parecer n 6.049.735 que está sendo realizada como desdobramento da pesquisa avaliativa participativa ‘Análise dos usos e influências da pesquisa “Avaliação da implantação da VAN na APS em municípios de grande porte populacional de Minas Gerais.”’ Será descrito o arcabouço teórico que esta pesquisa se ancora as etapas metodológicas desenvolvidas durante a produção dos dados.

Resultados e discussão
O fenômeno da fome é um mecanismo de demarcação de gênero, raça, classe e território. A fome é no capitalismo um mecanismo de controle e uma modalidade de genocídio dos povos negro e indígenas nos países e continentes que foram expropriados no período colonial. Ao utilizarmos as lentes da interseccionalidade como ferramenta analítica e política queremos analisar e compreender a fome, anunciando os corpos e territórios atravessados por ela, como categorias analíticas que interseccionam diferentes características e opressões. Queremos trazer ao estudo a discussão de como a interseccionalidade, a partir das políticas de saúde, concretizadas em intervenções como a VAN e a APS, podem ser ferramentas estratégicas na realização de ações de VAN, diagnóstico, monitoramento e combate à fome. Trata-se de uma análise estratégica (AE) da VAN, que está sendo realizada a partir das três dimensões da AE, escolha dos problemas, escolha dos objetivos e pertinência da parceria estratégica. Está sendo realizado um estudo de abordagem qualitativa e quantitativa com a finalidade de analisar como a fome se apresenta e qual a pertinência da ações de VAN na APS, a partir da interseccionalidade, na resposta à situação de fome nos territórios dos municípios de Montes Claros e Uberlândia, MG, após o desmonte das políticas públicas no Brasil e com a pandemia de Covid-19. O estudo se apoia no referencial teórico-metodológico das ciências sociais em interlocução com as ciências da saúde, dentre elas a 'Saúde Coletiva’ e a ‘Avaliação em Saúde’. Estamos utilizando métodos mistos na produção dos dados. Como fontes primárias: entrevistas semiestruturadas com gestores, movimentos sociais e profissionais de saúde de territórios urbanos e rurais. Como fontes secundárias: pesquisa bibliográfica, análise documental e análise de indicadores relacionados à fome em diferentes sistemas de informação. Também serão utilizados dados secundários da pesquisa “Avaliação da implantação da VAN na APS em municípios de grande porte populacional de MG.”’. Para analisar esses dados, será realizado análise documental, análise descritiva e análise de conteúdo.

Conclusões/Considerações finais
Espera-se com os resultados da pesquisa compreender a pertinência da VAN num cenário em que temos a fome como um dos problemas estruturantes presente nos territórios assistidos pela APS. Discutir a fome a partir da intersseccionalidade, nomeando os corpos e territórios atravessados. Acreditamos que desenhar e analisar a situação de fome nos territórios assistidos pela APS nos municípios, possibilitará conhecer à natureza dos problemas existentes relacionados à alimentação e nutrição da população, principalmente a fome, e compreender a pertinência da VAN nesse contexto, considerando todos os aspectos da população, compreendendo o grau de contribuição dessa intervenção para o problema da fome, a partir do conhecimento das ações desenvolvidas no setor saúde e intersetorialmente.