Comunicação Oral

02/11/2023 - 13:10 - 14:40
CO19.3 - Práticas alimentares e o cuidado alimentar e nutricional: narrativas, sentidos e cartografias

47340 - REFLEXÕES DECOLONIAIS A PARTIR DE ENCONTROS PARA EDUCAÇÃO NUTRICIONAL E CULINÁRIA VEGETAL EM UMA COMUNIDADE DO RIO DE JANEIRO
PATRICIA PENNA FERREIRA - UERJ


Contextualização
Este trabalho se propõe a tecer um breve relato da experiência de encontros para educação nutricional com degustação de culinária vegetal em uma comunidade no Rio de Janeiro. Os encontros foram facilitados pela autora do trabalho que é graduanda em nutrição e em ciências sociais. O conteúdo apresentado nos encontros foi desenvolvido por uma instituição de saúde americana e foi traduzido para o português. Os encontros envolviam a apresentação de um tema nutricional, como por exemplo os benefícios das leguminosas para nossa saúde, na sequência o preparo de 2 a 3 receitas que em seguida eram degustadas. Os grupos eram formados por em média de 10 mulheres, que se inscreviam voluntariamente para participar de 5 encontros, durante 5 semanas.

Descrição
Como seria a primeira vez que o programa era apresentado no Brasil, a facilitação procurou entender as necessidades locais e fazer ajustes conforme necessário. Alguns pontos a serem evidenciados: As receitas preparadas para degustação seriam de alimentos de origem vegetal, os encontros duravam em torno de 2 horas, e iniciavam com um conteúdo sobre educação nutricional, um questionário para fixar o conteúdo explicado, o preparo das receitas, explicando os ingredientes utilizados e finalmente a degustação.

Período de Realização
O período de realização dos encontros foi entre outubro e dezembro de 2021.

Objetivos
O objetivo dos encontros era ampliar os conhecimentos das participantes sobre os benefícios e preparos de alimentos de origem vegetal através das demonstrações culinárias com prova e da educação nutricional sobre alimentação vegetariana estrita. Com estes elementos combinados, esperava-se gerar também um interesse sobre esta forma de alimentação, pelo viés dos benefícios para a saúde e por poder ser mais econômica.

Resultados
As participantes sempre se mostraram entusiasmadas durante os encontros, contudo a expectativa de que após a demonstração e degustação elas colocariam em prática os aprendizados, não se traduziu exatamente desta forma. Criamos um ambiente acolhedor com uma escuta ativa, com momentos de partilha no grupo que se mostraram ser muito eficazes para reproduzir saberes existentes de cada uma das participantes e no grupo como um todo. O resultado foi a formação de um grupo unido e potente que se ajudava com dicas de preparos culinários, ditos saudáveis pelas próprias participantes que extrapolaram a temática proposta inicialmente. A questão dos preparos com alimentos exclusivamente vegetais causou certo estranhamento entre a maioria das participantes, e foi necessário um cuidado e respeito considerando as vivências e práticas culinárias de cada uma naquele espaço.

Aprendizados
Com a facilitação do encontro ficou muito claro desde o início que seria muito importante ouvir, estar com a escuta atenta. Os momentos mais ricos do curso, como as participantes chamaram, foram justamente aqueles de partilha, quando cada uma trazia dificuldades com relação a alimentação, como questões de custo de alimentos, falta de tempo para cozinhar, outros problemas relacionados a comida ou ao comer em excesso alimentos que elas reconheciam como não saudáveis, muitas falas de doenças relacionadas com a alimentação, receitas compartilhadas, ideias e formas de preparo.

Análise Crítica
A proposta de se trazer um programa elaborado em um outro país, criado em outro idioma, por mais que seja eficaz no contexto onde foi criado, na experiência relatada, e no caso no Brasil, em uma comunidade, com 70% das participantes autodeclaradas pretas e pardas, precisou de muitos ajustes para fazer sentido para quem de fato o programa se destinava. Cada vez mais se torna-se necessário e fundamental que os protagonistas da situação, possam participar da construção do que irão fazer parte. Este é um caminho decolonial que precisa ser trilhado, em conjunto com reparação, justiça racial e a dívida histórica existente após mais de 350 anos de escravidão.