02/11/2023 - 13:10 - 14:40 CO20.2 - Saúde reprodutiva e atenção ao parto: iniquidades e violências |
46669 - HIERARQUIAS REPRODUTIVAS E ITINERÁRIOS DE ABANDONO: UMA REVISÃO NARRATIVA DA MORTE MATERNA A PARTIR DE SUAS “SOBREVIVENTES” STEPHANIA G. KLUJSZA - IESC/UFRJ, RAQUEL LUSTOSA DA COSTA ALVES - UFPE
Apresentação/Introdução No Brasil, a razão de mortalidade materna é um problema de saúde pública historicamente atravessado por marcadores sociais da diferença, onde gênero, classe, raça, escolaridade, região, idade e deficiência se intersectam na intensificação da vulnerabilidade. Em específico, por ser prevenível e evitável em 90% dos casos de acordo com Observatório Obstétrico Brasileiro (OObr, 2022), a morte materna nos aproxima de um cenário marcado pelo distanciamento de meninas, mulheres e pessoas que gestam com as suas escolhas, tanto na falta de informação e garantias de planejamento familiar em seus itinerários de vida, quanto na falta de acesso e disponibilidades de recursos assistenciais em saúde, como no pré-natal e no acompanhamento puerperal.
Objetivos Face ao contexto exposto, gostaríamos de propor uma revisão narrativa do conceito de hierarquia reprodutiva a partir da pesquisa que as duas autoras realizam acerca da temática. Essa aposta tem como objetivo recuperar e compreender o itinerário de abandono que mulheres situadas em diferentes hierarquias reprodutivas enfrentam no Brasil.
Metodologia Enquanto a primeira autora tem se dedicado a refletir sobre os impactos da Morte Materna em Recife/PE em sua pesquisa de doutorado, a segunda autora tem acompanhado a formação de estudantes em obstetrícia para pensar a violência obstétrica em maternidades do Rio de Janeiro/RJ na sua pesquisa de pós-doutorado. Nesse sentido, optamos por fazer uma revisão bibliográfica e narrativa sobre hierarquias reprodutivas, trazendo especialmente etnografias, a fim de adensar a discussão sobre justiça reprodutiva a partir de quem “sobrevive”, isto é, levando em consideração a experiência, a partir destes relatos, de pessoas que sofreram violência obstétrica e não morreram, mas também pela perspectiva de quem perdeu uma familiar por morte materna.
Resultados e discussão A revisão de narrativas nos permite defender o argumento de que são mortes além de evitáveis, continuamente produzidas. De acordo com Mattar e Diniz (2012), as hierarquias reprodutivas se relacionam com a aceitabilidade e a legitimidade que algumas mulheres têm no exercício de suas maternidades, enquanto, por outro lado, há maternidades desencorajadas e, portanto, deslegitimadas a serem vividas. Para as autoras, neste segundo aspecto, muitas mulheres vivenciam a maternidade sem suporte social e se tornam ainda mais vulneráveis e fragilizadas pela ausência de políticas adequadas aos seus contextos de vida. Como exemplo, mulheres negras enfrentam mais dificuldades durante o ciclo gestacional-puerperal, têm menos tempo de pré-natal, menos assistência e sofrem mais peregrinações para parir. Esse conjunto de violações resulta em agravos em saúde e, em casos mais drásticos e não incomuns, na morte de muitas dessas mulheres que compõem as maiores estatísticas de morte materna e violência obstétrica.
Conclusões/Considerações finais Mesmo com os acordos transnacionais em que o Brasil é signatário, com a criação de comitês de mortalidade materna e as estratégias de disseminação das informações sobre saúde sexual e reprodutiva, as mortes maternas continuam figurando um problema evitável na saúde pública e que precisa de estratégias coordenadas entre diferentes segmentos na sociedade, particulamente que levem em consideração as histórias e as experiências de quem tem suas vidas atravessadas por dificeis itinerários de abandono e morte.
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