47212 - SAÚDE BUCAL DE QUILOMBOLAS: ANÁLISE DAS INIQUIDADES E DIFICULDADES DE ACESSO À ATENÇÃO ODONTOLÓGICA TIAGO PRATES LARA - ISC/UFBA, EVERLY CAROLINE DA CRUZ TEIXEIRA - ISC/UFBA, IDÁLIA OLIVEIRA DOS SANTOS - ISC/UFBA, WILER DE PAULA DIAS - ISC/UFBA, IGOR MYRON RIBEIRO NASCIMENTO - ISC/UFBA, MAYANA SANTOS SILVA EVANGELISTA - ISC/UFBA, GABRIEL DIONIZIO BATISTA LIMA - ISC/UFBA
Apresentação/Introdução As condições de saúde bucal afetam diretamente na qualidade de vida por fazerem parte da saúde geral, acarretando assim, em danos de cunho social. Logo, quando prejudicada, apresenta impactos no convívio social e é representada por desordens na mastigação e fala, bem como alterações no padrão alimentar para além dos danos sistêmicos na saúde geral, tais como a má nutrição e forte contribuição no surgimento e/ou agravamento de doenças crônicas não transmissíveis. De tal forma, ao compreender o processo de constituição da sociedade brasileira, percebe-se que há um histórico de negligências à população negra, afetando (in)diretamente as condições e qualidade de vida. Entretanto, como resposta ao processo de escravocrata, os quilombos, oriundos dos povos africanos, foram sendo construídos como movimento de resistência, produção e organização social. Esse grupo, historicamente excluídos, apesar de sua luta constante para o exercício da vida, enfrentam desigualdades e barreiras para uma vida digna e plena. Por isso, necessitam, em urgência, de ações políticas e serviços públicos de qualidade. Há de se pontuar que o povo negro representa a maior parte da população brasileira, mas é mais escassa em termos de condições digna de vida, em especial as comunidades quilombolas. Dos poucos estudos realizados nestas comunidades, grande parte destaca carências a nível de infraestrutura básica e de saúde. Nesse sentido, avaliar a condição de saúde bucal considerando a raça/cor da pele pode expressar a existência de iniquidades raciais, bem como direcionar as ações do governo sobre este grupo.
Objetivos O trabalho tem por objetivo analisar a condição de saúde bucal e dificuldades de acesso à atenção odontológica em comunidades quilombolas.
Metodologia Trata-se de uma pesquisa quali-quantitativa, cujo enfoque busca dar conta de investigar os determinantes sociais das condições de saúde bucal da população quilombola, tais como: características sociodemográficas; condições de trabalho, renda e escolaridade; condições ambientais e sanitárias do território; o acesso a políticas públicas; e estratégias locais de promoção da saúde. Para a avaliação clínica das condições de saúde bucal, serão coletados dados sobre a presença de dentes cariados, perdidos e/ou obturados via índice CPO.
Resultados e discussão Pode-se afirmar que o racismo é uma forma sistemática e contínua de discriminação em que a raça é o principal fundamento, manifestando-se por meio de práticas conscientes ou inconscientes que culminam em criar ou perpetuar desvantagens ou privilégios para indivíduos, a depender do grupo racial ao qual pertençam. (ALMEIDA, 2019). São esses atributos que fazem do racismo um “fabricante” e multiplicador de vulnerabilidades (LOPES, 2004). A falta de imparcialidade do Estado Brasileiro frente às desvantagens materiais e simbólicas acumuladas pela população negra ao longo dos anos tem-se revelado um grandioso fracasso, seja no campo social ou na saúde. (LOPES, 2004). Os Determinantes Sociais em Saúde (DSS) são fatores socioeconômicos, psicológicos, comportamentais, culturais e étnicos/raciais, que têm importante influência na ocorrência de problemas de saúde, seus agravos, bem como fatores de risco nas populações, auxiliando na compreensão de que as iniquidades em saúde estão intrinsecamente relacionadas às desigualdades políticas, econômicas, sociais e raciais, e tais dimensões impactam tanto nas formas de nascer, viver, trabalhar, envelhecer, adoecer e morrer. Isso evidencia que o racismo faz parte da determinação social da saúde, afetando a população negra em todas as etapas da vida (WERNECK, 2016; DOS SANTOS, 2020). A negligência do Estado é uma das maneiras encontradas para mostrar à sociedade quem está no controle e quem tem o direito de bem viver e quem não deve ter. Mbembe chama isso de necropolítica e o Estado brasileiro reproduz com maestria. No caso de pessoas residentes em ambientes rurais, como é o caso dos quilombolas, o cenário epidemiológico acentua-se e tem impacto direto das dimensões apontadas por Souza, em virtude do limitado acesso aos serviços odontológicos, evidenciando, assim, pessoas com elevada prevalência de edentulismo e patologias bucais (MIRANDA, 2020; CACONDA, 2021). A manutenção destas condições de ausência de dentes e presença de lesões em boca se perpetuam pelo acesso reduzido aos serviços de saúde de atenção especializada, e quando o fazem, há uma repulsa associada ao racismo institucional (SOUZA, 2020).
Conclusões/Considerações finais Entende-se o papel crucial da saúde coletiva em identificar as relações existentes no processo de determinação social da saúde que impactam diretamente na Saúde da População Negra, de naturezas social, econômica, política, cultural, ambiental, geográfica e relacional, e as intersecções entre estas.
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