47355 - OUTRA PROPOSTA DE CENSO DEMOGRÁFICO: UM RELATO DE EXPERIÊNCIA ACERCA DO PROCESSO DE CONSTRUÇÃO DO CENSO QUILOMBOLA NO/COM A ASSOCIAÇÃO QUILOMBOLA DE CASTAINHO ANA LETÍCIA CORDEIRO DE MELO - GRADUADA EM PSICOLOGIA PELA UNIVERSIDADE DE PERNAMBUCO (UPE), CAMPUS GARANHUNS, ANDRESA LIRA SILVA - MESTRANDA EM SAÚDE PÚBLICA, INSTITUTO AGGEU MAGALHÃES, FIOCRUZ-PE, INGRID JESSIANE VIEIRA LIMA - MESTRANDA EM PSICOLOGIA PRÁTICAS E INOVAÇÃO EM SAÚDE MENTAL - UPE, JÚLIA IRENO DI FLORA - RESIDENTE EM SAÚDE COLETIVA COM ÊNFASE EM AGROECOLOGIA - UPE, JOSEANE SILVA LOPES - GRADUADA EM LICENCIATURA EM PEDAGOGIA, PELA UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO (UFAPE), PROFESSORA DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS (EJA) CAMPO NO QUILOMBO DE CASTAINHO E MEMBRO DA DIRETORIA DA ASSOCIAÇÃO QUILOMBOLA DE CASTAINHO (AQC), JUCELINO MENDES BARBOSA - PRIMEIRO TESOUREIRO DA ASSOCIAÇÃO QUILOMBOLA DE CASTAINHO (AQC), MARÍLIA VILELA FERRO - GRADUADA EM PSICOLOGIA PELA UNIVERSIDADE DE PERNAMBUCO (UPE), CAMPUS GARANHUNS, SUELY EMILIA DE BARROS SANTOS - PROFESSORA ADJUNTA DA UNIVERSIDADE DE PERNAMBUCO - UPE, THALITA ANALYANE BEZERRA DE ALBUQUERQUE - MESTRANDA EM SAÚDE E DESENVOLVIMENTO SOCIOAMBIENTAL - UPE, WANESSA DA SILVA GOMES - PROFESSORA ADJUNTA DA UNIVERSIDADE DE PERNAMBUCO - UPE
Contextualização A construção desse censo quilombola surgiu em 2017, enquanto uma demanda da Associação Quilombola de Castainho (AQC), sendo abraçada pelo projeto de extensão “Um Pé de Saúde”, da Universidade de Pernambuco (UPE). A iniciativa surge a partir da necessidade das lideranças comunitárias de conhecerem melhor as informações demográficas do território. O questionário utilizado no censo foi construído de modo colaborativo e consentido no âmbito da AQC.
Descrição O censo quilombola é um instrumento importante para entender aspectos sociais, econômicos, culturais e sanitários do território e conhecê-lo quantitativa e qualitativamente. Assim, conseguimos realizar diagnósticos territoriais participativos, de maneira equânime e colaborativa. As perguntas que compõem o instrumento utilizado versam sobre: constituição da família e dados sociodemográficos; condições de renda; moradia; educação; empregabilidade e produção de agricultura familiar; necessidades de saúde; práticas de cuidado; atividades de lazer; as políticas nacionais de saúde da população negra e do campo; avaliação dos serviços de educação, saúde e assistência social da comunidade.
As entrevistas acontecem mensalmente, a partir do trabalho com lideranças da AQC, estudantes, docentes e técnicas extensionistas do projeto de extensão “Um pé de Saúde” e residentes do programa de Residência Multiprofissional Integrada em Saúde Coletiva com ênfase em Agroecologia da UPE. Periodicamente, são realizadas oficinas para atualização de informações nos mapas físico e digital, marcação de pontos e tabulação dos dados, e montagem de estratégias para a continuidade do trabalho.
Período de Realização A construção do questionário iniciou no ano de 2017, havendo atualizações deste instrumento em 2021 e 2022. As entrevistas iniciaram em 2018 e estão no processo de finalização.
Objetivos Esse estudo objetiva relatar a experiência de realização de um censo quilombola a partir da integração entre técnicas e estudantes extensionistas e residentes em saúde, com a AQC.
Resultados Segundo lideranças, o movimento porta-a-porta do censo, tem contribuído com a AQC, pois se percebe melhor algumas demandas da comunidade. A identificação de necessidades de saúde comuns à população permite um melhor planejamento, o que pode ser favorecido pela articulação com a Unidade Básica de Saúde que atende o território e com as residências em saúde que ali atuam.
Chama-nos a atenção, a negativa das famílias diante do questionamento acerca do conhecimento das políticas específicas voltadas para a população negra e para a população do campo, o que pode ser objeto de intervenção, no sentido de educação e mobilização da população nesta temática.
Aprendizados A construção do censo tem revelado a sua potência no que tange o processo de aprendizado, pois o método de trabalho com a comunidade coloca o diálogo de saberes em ação, apontando caminhos para ações territorializadas que se dediquem a alcançar transformações no processo de mobilização e organização social do quilombo, bem como a promoção de autonomia.
Esse processo nos ensina a importância do trabalho em equipe, multiprofissional e intersetorial e, proporciona um olhar mais sensível para as singularidades territoriais daquele lugar; compreendendo e potencializando os múltiplos saberes que aferem sentidos e significados aos lugares e às práticas sociais ali existentes.
Ainda, é possível compreender o que promove saúde e processos de adoecimento para as pessoas da comunidade. Essas interações têm fortalecido os vínculos criados, além de possibilitar a construção de ações e projetos potencializadores das atividades já existentes no quilombo, bem como o acolhimento de possíveis demandas, em busca de práticas cada vez mais emancipatórias, comunitárias e coletivas.
Análise Crítica No desconstruir o conceito de um censo demográfico conhecido previamente, é proposto a construção coparticipativa que promove um processo de autonomia relativa, no qual a comunidade produz informação sobre si mesma, no movimento de conhecer para transformar. Essa dinâmica tem sido outro elemento importante desse caminhar.
Enquanto desafios, esbarra-se na morosidade no processo de realização das entrevistas, digitalização das informações coletadas e desfecho deste censo; dificuldade de compreensão de alguns moradores da comunidade sobre qual é a finalidade da realização do censo; dificuldade que tivemos em perguntar algumas questões do instrumento, principalmente as ligadas ao gênero, sexualidade, drogas e religiosidade, onde sempre nos perguntamos: como driblar o silenciamento dessas informações em virtude do estigma que as atravessam?
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