02/11/2023 - 13:10 - 14:40 CO25.2 - PICs em saúde e direitos ao cuidado: epistemologias, práticas e formação integral nos serviços |
46263 - O CUIDADO E A DÁDIVA NO ASSOCIATIVISMO CIVIL E NO ATIVISMO NAS REDES POR DIREITOS À SAÚDE. MARTHA CRISTINA NUNES MOREIRA - IFF/FIOCRUZ
Apresentação/Introdução o presente trabalho explora a epistemologia do cuidado, não restrito aos circuitos oficiais do que entendemos por saúde ou terapêuticas, e nos reenvia às ondas feministas e decoloniais. Seu objeto é um olhar para o cuidado que pode se configurar no ativismo nas redes sociais e nas associações civis, quando o que está em jogo é um circuito de dádivas, materializadas no apoio, no vínculo e nas lutas por reconhecimento e reparação. A expressão do associativismo civil e do ativismo nas redes pode ganhar contornos disto que poderíamos compreender como mais uma configuração do cuidado. Nas pesquisas que vimos conduzindo temos nos perguntado sobre estas formas de trabalho onde homens e mulheres, na sua maioria mulheres, se apresentam a partir das lutas por direitos, reparação, reconhecimento, ampliação de vínculos e oferecimento de informações relacionadas aos estados de saúde complexos de seus filhos e filhas. Ao nosso ver há que se assumir uma racionalidade reticular, onde podem vir a circular dons e contra-dons, participação, reivindicação, símbolos de associação e solidariedade. A ideia de simbólica associativa - cunhada por Paulo Henrique Martins - nos servirá de apoio para olhar o cuidado nas redes e associações civis, nas páginas das associações e de ativistas, onde as agendas promovem visibilidade pública. Nesses ambientes importa fazer circular as informações e lutas por direitos através dos vínculos, relações e interações. A arena de disputas se complexifica, possibilitando ou não o surgimento de alianças entre os diversos movimentos em sua base associativa. Nesse caso convidamos para essa reflexão Martins (2011), que reivindica, assumindo a perspectiva das trocas sociais via Teoria da Dádiva (Mauss, 2003), uma articulação entre macro e micro processos sociais. A conexão entre esses processos se dá através do simbolismo, ou da circulação simbólica que permite retomar a discussão sobre associativismo reivindicando um lugar estratégico à subjetividade. Martins (op. Cit.) aponta para a necessidade de recuperar os fundamentos subjetivos dos processos de constituição de alianças e solidariedades que vão permitir ou não lógicas associativas mais permanentes, reconhecedoras da esfera pública como lócus verdadeiramente democrático e participativo, superando o reconhecimento somente através da identidade setorializada.
Objetivos Explorar à luz da teoria da dádiva contemporânea e da epistemologia do cuidado, o ativismo e associativismo civil no campo das situações de saúde complexas, que incluem as pesquisas com a emergência sanitária do ZIKA vírus e outros movimentos de lutas por cuidado como reparação (COVID, síndrome pós-polio).
Metodologia Ensaio teórico tendo por base fontes de pesquisas relacionadas às etnografias digitais e aos ambientes associativos. Trabalhamos na vertente interacionista simbólica, a fim de produzir um diálogo produtor de sentidos sobre a simbólica associativa de associações civis e de ativistas digitais na luta pelo direito à saúde de crianças e adolescentes vivendo com deficiências e condições de saúde complexas e raras, nas quais se incluem a síndrome congênita do zika, e mais recentemente os movimentos associativos da COVID19 e síndrome pós-poliomielite.
Nesse caminho pretendemos acionar a interface entre simbólica associativa, vulnerabilização e invisibilidade pública, cuidado como política e a vida mediada por adoecimentos crônicos raros, complexos e cursando com deficiências.
No que concerne à perspectiva analítica nos aliamos à perspectiva das redes na lógica da racionalidade reticular, tal como proposto por Martins (2011). Para esse autor um olhar sobre a racionalidade reticular possibilitaria aprofundar os fundamentos subjetivos dos processos de constituição de alianças e solidariedades. A necessidade de compreensão do simbolismo da ação social pode contribuir para refletir sobre a representação política pela ótica de uma responsabilidade fundada na permanência, e na reparação.
Resultados e discussão Identificamos as intersecções entre os circuitos de cuidado e as articulações com a circulação da dádiva entre estranhos que compartilham lutas por direitos e reparação. O trabalho de organizar as associações civis e atuar como ativista nas redes implica em um trabalho de cuidado que se engaja como política, investimento na participação e reparação.
Conclusões/Considerações finais Apostamos na urgência de ampliar as leituras sobre cuidado em suas metamorfoses contemporâneas onde o vínculo se configura nas intersecções entre o mundo digital e os ambientes presenciais. Estas configurações podem ser nomeadas como cuidado, pelo trabalho que despende na organização, no investimento nos vínculos sociais e no dar / receber / retribuir que se expõe quando as necessidades de saúde revelam-se complexas. Há neste cuidado também um acento na reparação.
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