02/11/2023 - 13:10 - 14:40 CO25.3 - Trabalho, trabalhadores e a pluralidade do cuidado: equipes e a relação com saberes e práticas |
47124 - A CONCEPÇÃO DE REABILITAÇÃO DE UMA EQUIPE NASF NO CONTEXTO DO CUIDADO À PESSOA COM DEFICIÊNCIA NAIRA LAÍS ARAÚJO DE JESUS - UFBA, THALIA CRISTINE NOVAES DE VASCONCELOS - UFBA, ANA FLÁVIA DOS SANTOS CÔRTES - UFBA, VLADIMIR ANDREI RODRIGUES ARCE - UFBA
Apresentação/Introdução Os Núcleos Ampliados de Saúde da Família e Atenção Básica (NASF-AB), no âmbito de suas atribuições na Atenção Primária à Saúde (APS), têm atuado diretamente no cuidado à população com condições crônicas, incluindo as Pessoas com Deficiência (PcD’s). Desse modo, a perspectiva de reabilitação que orienta as práticas destas equipes pode tanto fortalecer o movimento emancipatório construído pelo segmento de PcD’s, quanto apenas perpetuar uma lógica fragmentadora e medicalizante, que não corrobora com a perspectiva do modelo biopsicossocial de deficiência.
Objetivos Assim, buscou-se conhecer a concepção de reabilitação de uma equipe NASF de uma Unidade de Saúde da Família em Salvador, Bahia.
Metodologia Trata-se de uma pesquisa qualitativa exploratória do tipo estudo de caso, parte de um estudo guarda-chuva, que busca compreender como se estruturam as práticas de reabilitação no âmbito da APS. Foram realizadas entrevistas remotas em profundidade, no período de julho/2020 até fevereiro/2021, com três profissionais da equipe NASF diretamente envolvidas em práticas de reabilitação desenvolvidas em uma Unidade de Saúde da Família em Salvador, BA, sendo duas terapeutas ocupacionais e uma fisioterapeuta. Cada entrevista foi finalizada em, aproximadamente, dois encontros de uma hora e o roteiro de perguntas semiestruturado incluiu duas etapas. A primeira etapa consistiu na identificação das práticas de reabilitação conduzidas pela equipe. Já a segunda etapa contou com perguntas específicas acerca da percepção das terapeutas sobre questões inerentes ao processo de trabalho no NASF. As falas foram transcritas e organizadas em planilhas, onde foram categorizadas e analisadas, tendo como enfoque principal do presente trabalho o eixo temático “concepção de reabilitação” e como recorte específico, a seguinte pergunta: “o que é reabilitar para você?”. A partir desta, buscou-se investigar qual a concepção de reabilitação norteadora no trabalho do NASF estudado.
Resultados e discussão As perspectivas de reabilitação apresentadas pelas profissionais remetem mais fortemente à ideia de recuperar uma função perdida ou de aproximar essa função o máximo possível do padrão de normalidade. Apesar disso, em todas as respostas, destacaram-se alguns cuidados importantes nesse processo: considerar o contexto sócio-histórico-cultural do indivíduo e o que faz sentido para ele em suas atividades cotidianas, bem como suas potencialidades reais ao traçar um processo de reabilitação. Nesse sentido, ainda que haja um predomínio da concepção de reabilitação apoiada no modelo biomédico, centrada no indivíduo e no corpo em tratamento, nota-se uma importante busca pela construção de um olhar mais ampliado em direção a diferentes dimensões deste sujeito, evidenciando a existência de um processo de tensionamento de uma perspectiva hegemônica, com consequente abertura para a construção de práticas que dialogam com o modelo biopsicossocial de deficiência. Este processo aparentemente contraditório representa uma importante oportunidade para o fomento à consolidação de uma reabilitação abrangente, que vai além do enfoque sobre o corpo, mas que expande o objeto da ação para as barreiras, na qual os usuários são ativos e participativos de seu cuidado, numa perspectiva emancipatória.
Conclusões/Considerações finais Conclui-se que, na realidade estudada, as práticas de reabilitação são subsidiadas por uma lógica que se encontra tensionada pelo modelo biomédico hegemônico, mas que já reflete nuances de uma visão mais ampliada sobre as PcD’s e seu processo de reabilitação, elemento importante para a implantação de práticas orientadas pelo modelo biopsicossocial de deficiência. Assim, observa-se um caminho promissor para o futuro da equipe, muito em função das próprias características do território, que é dinâmico e vivo e que também tensiona os serviços e profissionais a ampliarem o objeto de suas práticas, mas que deve ser permanentemente apoiado, sendo necessária a inclusão da pauta da reabilitação ampliada e do modelo biopsicossocial da deficiência nos espaços de Atenção Primária à Saúde, a fim de fortalecer a oferta de um cuidado integral, inclusivo, emancipador e anti-capacitista. Esta questão se faz ainda mais necessária, no momento em que mudanças na política da Atenção Básica têm sido conduzidas no âmbito federal, a exemplo da criação das equipes multiprofissionais de Atenção Primária à Saúde, que substituirão os NASF, e que demandarão esforços no sentido de não configurarem a reprodução de uma APS seletiva e fragmentada.
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