Comunicação Oral

02/11/2023 - 13:10 - 14:40
CO25.4 - Regionalização, intersetorialidade e saúde digital na APS

47831 - INTEGRALIDADE NA ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE: ANÁLISE DAS AÇÕES DE CUIDADO PRESTADAS POR TRABALHADORES DA UNIDADE DE SAÚDE DA FAMÍLIA
DAVID RICARDO MOGROVEJO PALACIOS - UFMT, RUTH TEREZINHA KEHRIG - UFMT, SILVIA ANGELA GUGELMIN - UFMT


Apresentação/Introdução
A integralidade, enquanto um dos princípios doutrinários do Sistema Único de Saúde, o SUS brasileiro, vem se configurando como um processo de contínua construção quanto a suas dimensões, eixos ou sentidos. A atenção primária à saúde, articulada à estratégia de saúde da família no âmbito do SUS, tem por diretriz central de intervenção gerar mudanças no modo de produção das ações de saúde e na forma de organização dos serviços e práticas, ambas comprometidas com a consecução dos princípios finalísticos do SUS: a universalidade, a equidade e a integralidade.

Objetivos
O objetivo do estudo foi analisar as ações de cuidado prestadas por trabalhadores de duas unidades de saúde da família, sendo uma urbana e uma rural, a partir do princípio da integralidade em saúde.

Metodologia
Nesta pesquisa foi construído um desenho conceitual-metodológico para analisar as ações de cuidado na Atenção Primária à Saúde, baseado nas contribuições de Ricardo Bruno Mendes-Gonçalves sobre a organização do processo de trabalho em serviços de saúde; de Luiz Carlos Cecílio a partir das necessidades de saúde, como conceito estruturante da integralidade em saúde; de Rubem Mattos sobre os sentidos da integralidade da atenção, e de José Ricardo Ayres sobre a integralidade no cotidiano da atenção à saúde. Trata-se de estudo de caso com abordagem qualitativa, utilizando para a produção dos dados a entrevista semiestruturada, a observação direta e o grupo de discussão. Foram selecionados todos os trabalhadores de duas unidades de saúde da família localizadas uma em área urbana e uma em área rural, de município de pequeno porte no estado de Mato Grosso (Centro-Oeste, Brasil). Por meio da análise temática de conteúdo foi construído três blocos temáticos: eixos da integralidade, integralidade nas ações de cuidado, e o cuidado pela equipe de saúde da família através dos grupos de discussão.

Resultados e discussão
As ações de cuidado analisadas à luz do princípio da integralidade foram sustentadas em três momentos que nos permitiram observar o valor e o sentido do saber/fazer humanizante do trabalho em saúde. O “quê” da integralidade foi manifestado pelas finalidades das ações em resposta às necessidades. As necessidades foram percebidas principalmente pela geração de vínculo e acolhimento através da escuta qualificada, colocando-se como dispositivos que permitem captá-las a partir do reconhecimento das vulnerabilidades de cada sujeito. As finalidades das ações em saúde ficam claras e se manifestam nos encontros entre trabalhador e usuário, visando principalmente à prevenção de agravos e promoção da saúde. O “como” da integralidade” foi entendido pelas articulações entre saberes e serviços e as interações entre trabalhadores e usuários. As articulações foram representadas pela composição e integração de saberes interdisciplinares, trabalho multiprofissional e em equipe e por ações intersetoriais com apoio da gestão na coordenação de um cuidado em rede. As interações foram caracterizadas pela construção da intersubjetividade no cotidiano de seus espaços de trabalho através da capacidade para compreender, reconhecer e incorporar as perspectivas dos sujeitos envolvidos. Logo, apresentamos o cuidado como categoria reconstrutiva, destacando: o acolhimento e geração de vínculo, o trabalho multiprofissional, as ações intersetoriais e o apoio da gestão como aproximações que potencializam a integralidade, resgatando a participação da comunidade e o trabalhador da saúde. Os problemas de acesso, a abordagem medicalizada e os desafios organizativos e da gestão foram identificadas como dificuldades que limitam o cuidado. O cuidado coletivo, foi revelado pelo trabalho das equipes através dos grupos de discussão. Para as equipes, o cuidado está presente nos momentos de encontro com os usuários, extrapolando o plano técnico e padronizado ao perceber que esse usuário quer algo a mais. A humanização percorreu as falas coletivas das equipes como aquela aproximação do ser humano colocando-o no centro das práticas de cuidado.

Conclusões/Considerações finais
Os resultados evidenciaram que a integralidade se materializa no momento assistencial dos encontros desses trabalhadores com os usuários, configurando uma micropolítica do processo de trabalho que é perceptível através das ações que os conduzem a produzir cuidado de acordo com a realidade local do território. A integralidade representa aquele horizonte para repensar e reconstruir as práticas de cuidado, analisá-la então, permite dar sentido a um trabalho que defende a vida e garante um estado de bem-estar.