Comunicação Oral

02/11/2023 - 13:10 - 14:40
CO26.2 - Maternidades negras insurgentes, complexas e desafiadoras

45944 - MULHERES EM SITUAÇÃO DE RUA NO BRASIL: ENCRUZILHADA INTERSECCIONAL
LAÍS MARTINS COSTA ARAUJO - PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA (PUC-RIO), NILZA ROGÉRIA DE ANDRADE NUNES - PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA (PUC-RIO), RICARDO WILLIAM GUIMARÃES MACHADO - PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA (PUC-RIO) / ASSISTENTE SOCIAL CREAS DE QUEIMADOS


Apresentação/Introdução
As questões relacionadas à população em situação de rua (PSR) poderiam ser abordadas sob diferentes enfoques. Isso porque é um fenômeno que está atrelado às transformações socioeconômicas das sociedades capitalistas, muito eficientes na (re)produção da miséria e da desigualdade (KRENZINGER; ANSARI; GUINDANI, 2017).
Diante da complexidade da temática é preciso compreender as perspectivas históricas, sociais, políticas e econômicas que demonstram como certas estruturas contemporâneas se interrelacionam no caso da população em situação de rua, situando tal fenômeno como uma manifestação severa da questão social.
Pretende-se aqui trazer algumas notas que norteiam a análise sobre a desigualdade no Brasil a partir de uma visão interseccional, que compreende que determinantes como classe, raça, gênero, geração, sexualidade, etnia, nacionalidade e outros, interagem e se sobrepõem a partir da lógica de poder e subordinação.


Objetivos
Apontar para a convergência de fatores interseccionais, determinantes para o fenômeno da população em situação de rua no Brasil, que subordinam as mulheres nessa condição às mais diversas violências e violações.

Metodologia
Esse relato foi realizado a partir de pesquisa bibliográfica feita na base de dados SCIELO - Brasil através dos descritores “intersecccionalidade” and “situação de rua”. Foram pesquisados artigos que tivessem os operadores booleanos em todos os campos (título, autor e ou assunto), em português, sem recorte temporal. Os dois artigos localizados (MARQUES; et al., 2021; SOUZA; TANAKA, 2021) nessa busca, somados a outras referências acadêmicas sobre a temática, fundamentaram os argumentos apresentados.

Resultados e discussão
Identificamos que o fenômeno da PSR no Brasil está relacionado ao nosso processo sócio-histórico, à herança colonial-escravocrata-racista-capitalista, que submeteu o povo negro às mais profundas condições de desigualdades como a falta de trabalho, de saúde, de alimentação adequada, de educação, de condições dignas de moradia, etc (CAMPELLO et al., 2018; BIROLI; MIGUEL, 2015; BARROS et al, 2022).
Existem poucos dados oficiais sobre a PSR no Brasil (SOUZA; TANAKA, 2021), mas as informações disponíveis apontam para uma população majoritariamente negra, masculina, pobre e marginalizada. Apesar das mulheres em situação de rua serem minoria numérica, segundo estudos diversos (CINACCHI et al, 2021), essas ficam ainda mais expostas às violações e violências (de natureza física, psicológica, material ou simbólica), as quais a PSR é submetida cotidianamente, sobretudo, pela lógica opressora, machista, racista e capitalista que permeia nossa sociedade. Logo, podemos dizer que há uma encruzilhada entre gênero, raça e classe que potencializa as vulnerabilidades enfrentadas pelas mulheres em situação de rua (CINACCHI et al, 2021; BARROS et al, 2022).


Conclusões/Considerações finais
A leitura à luz da interseccionalidade permite afirmarmos que o racismo, machismo, patriarcado, e outras lógicas de opressão e dominação como também a de classe, se conformam reciprocamente e são capazes de restringir ou potencializar a trajetória de determinados grupos em detrimento de outros.
Diante do contexto de crise sanitária, social, política e econômica que o país enfrenta, no qual as desigualdades se aprofundam, e os direitos sociais são cada vez mais escassos (MARQUES; et al, 2021), as grandes cidades são o foco dessa realidade e, descortinam a cada esquina situações de desigualdade e pobreza, demarcadas pela encruzilhada interseccional (BIROLI; MIGUEL, 2015). Desta forma, reduzir a pobreza não significa necessariamente diminuir a desigualdade social. É preciso garantir direitos, além de acesso a bens de consumo.
Assim, se faz ainda mais necessário que estejamos atentos a historicidade dos processos, compreendendo os variados determinantes políticos, sociais, culturais e econômicos que emolduram esse cenário desolador.