02/11/2023 - 13:10 - 14:40 CO26.2 - Maternidades negras insurgentes, complexas e desafiadoras |
46037 - MATERNAGEM, VULNERABILIDADES E DIREITOS HUMANOS – A EXPERIÊNCIA DE UM GRUPO DE TRABALHO INTERSETORIAL NA REGIÃO CENTRO DE SÃO PAULO CAROLINA PERRACINI - NGH/SES/SP, RAQUEL CLEIDE DA MOTA CARVALHO - NGH/SES/SP, KATIA CILENE OLIVEIRA GIRALDI - DEFENSORIA PÚBLICA DO ESTADO DE SÃO PAULO, FABIANA DA SILVA PIRES - CRSCENTRO/SMS/SP, CLEUSA ABREU - NGH/SES/SP
Contextualização Em 2016, uma maternidade da região centro de São Paulo foi orientada a ampliar a discussão dos casos de bebês de mulheres em situação de rua e/ou usuárias de substâncias psicoativas. Concomitantemente, a Coordenadoria Regional de Saúde da Região Centro da Secretaria Municipal de Saúde de São Paulo também foi acionada para acompanhar casos de gestantes em situação de vulnerabilidade. Iniciou-se uma aproximação visando a produção de um cuidado ampliado e a garantia de direitos.
Com o tempo, as discussões foram ficando cada vez mais complexas, exigindo composição com a Defensoria Pública e assistência social para apoio das equipes e orientações junto aos casos.
Hoje a experiência deste Grupo de Trabalho (GT) conta com composição intersetorial, participação de profissionais de serviços de saúde (maternidade, consultório na rua, atenção básica, saúde mental), serviços da assistência social (centro de acolhida, acolhimento familiar, SIAT) e Defensoria Pública do Estado de São Paulo.
Descrição O GT instiga a produção de um cuidado que potencialize a vida, valorizando e reinventando encontros entre profissionais, usuárias e gestores.
Entende-se a tecnologia leve do encontro como “práticas que desenvolvemos para nos relacionarmos com os sujeitos, como construímos vínculos, gestão do coletivo e das equipes, processos de trabalho, resolução de conflitos, que só tem materialidade em ato.” (Merhy, 2000, p.111).
São realizados encontros mensais para discutir casos, utiliza-se uma planilha com informações sobre casos cadastrados no território, para acompanhamento longitudinal.
Para continuidade das trocas e apoio entre as equipes ao longo do mês, recorre-se a um grupo de WhatsApp; São realizados atendimentos compartilhados entre equipes de serviços diferentes, usuárias e rede familiar e havendo urgência, promove-se encontros mais frequentes com a rede, para aprofundamento de casos mais complexos.
No exercício da reinvenção das práticas de cuidados, em 2022 implantou-se a “Roda de Conversa” entre usuárias, profissionais e gestores. Um novo espaço de encontro com inclusão de usuárias e de escuta de suas necessidades de saúde.
Período de Realização 2017 até hoje.
Objetivos Propor modos de produzir o cuidado e redes, que assumam como elemento fundamental o desejo de gestantes em situação de vulnerabilidade; Construir um olhar não moralista e normalizador sobre a maternagem, sobre a vida e as escolhas dessas mulheres; Potencializar saberes e práticas que tenham como eixo a expansão da vida; Discutir e acompanhar a continuidade do cuidado de gestantes em situação de vulnerabilidade, desde o pré-natal, parto, e depois no puerpério; Assegurar que todas as possibilidades de manutenção de vínculos (materno, paterno, rede socioafetiva) sejam esgotadas antes do processo de judicialização, visando a garantia dos direitos humanos das mulheres e dos bebês.
Resultados Pactuações com o território: construção coletiva da planilha dos casos; fluxo do SAMU de urgências obstétricas do território com a maternidade; fluxo para ambulatório de alto risco; visita à maternidade para estimular o vínculo; oferta de Implanon após o parto; e fluxo específico de atendimento junto a Defensoria Pública.
De 2020 a 2022 foram acompanhadas em média 73 mulheres por ano, com faixa etária média de 30 anos, maioria parda/preta, com diagnóstico de uso de substâncias psicoativas, em situação de rua, com vínculos familiares fragilizados e com histórico/situação de violência de gênero. Desse total de 220 mulheres, apenas 27 casos foram judicializados (12,27%).
Em 2022 foram realizadas duas “Rodas de Conversas”, com a participação ativa das mulheres assistidas no GT, produzindo um espaço de fala, trocas de experiências, afecções e desejos, onde discutiu-se os diferentes olhares sobre o cuidar e o ser cuidado.
As ressonâncias nas equipes são: apoio mútuo e incansável; ampliação do cuidado e expansão de vidas; abertura para outras possibilidades de existências dessas mulheres; análise constante dos processos de trabalho (interno e externo); parceria potente com a Defensoria Pública.
A experiência foi compartilhada com outras regiões do município e do estado de São Paulo, dando visibilidade a esta população e disparando outros processos de produção de cuidado em redes.
Aprendizados A atuação junto a gestantes em situação de vulnerabilidade é um processo desafiador e convoca cotidianamente as equipes à experimentação e reinvenção de novas formas de cuidar que vitalizem as vidas. Exige abertura para composição intersetorial, uma vez que o cuidado deve ser ampliado e ao mesmo tempo compreendido em sua singularidade, respeitando desejos e garantindo os direitos humanos tanto das mulheres quanto de seus bebês.
Análise Crítica O GT é uma experiência potente para a produção do cuidado em redes. Essa experiência está fundamentada nas diretrizes: clínica ampliada, inclusão do usuário, cogestão e produção de redes; da Política Nacional de Humanização/SUS.
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