Comunicação Oral

02/11/2023 - 13:10 - 14:40
CO26.2 - Maternidades negras insurgentes, complexas e desafiadoras

48167 - CAROLINA E OS DESAFIOS DA MATERNIDADE NO CONTEXTO DA SITUAÇÃO DE RUA
GILHEY COSTA SANTOS - ENSP/FIOCRUZ, TATIANA WARGAS DE FARIA BAPTISTA - IFF/FIOCRUZ, PATRICIA CONSTANTINO - ENSP/FIOCRUZ


Apresentação/Introdução
O debate sobre as experiências de mulheres em situação de rua e seus bebês colocam na centralidade das discussões o hiato entre as práticas de cuidado, garantias de direitos e os desafios que essas maternidades - subalternas, complexas e insurgentes - colocam para a organização dos serviços públicos de saúde, assistência social, justiça e defensorias. Este é um tema que traz um adensamento de precariedades e vulnerabilidades em um cenário desfavorável e, até recentemente, marcado por retrocessos no campo das políticas públicas e dos direitos humanos.


Objetivos
Este é um estudo sobre mulheres negras e pobres que engravidam ou descobrem-se grávidas no contexto da situação de rua. Aqui, mobilizamos a história e a voz de Carolina, mulher negra, que passou pela gestação no contexto da situação de rua na cidade do Rio de Janeiro, além de mobilizar experiências de agentes de Estado, inseridos em um Fórum de debates sobre a temática, assim, buscamos reconhecer desafios que se colocam às políticas e serviços públicos pelas experiências de maternidade no contexto da situação de rua.

Metodologia
Esta é uma pesquisa que se constituiu na medida em “caminhava” pelo cotidiano da cidade da cidade do Rio de Janeiro, ouvindo histórias que conjugam dor e sofrimento, mas também resistência, ativismo, sonhos, afetos e experiências de cuidado e garantias de direitos. Trata-se de etnográfico que consistiu no acompanhamento das reuniões do Fórum de Maternidades, Drogas e Convivência Familiar da Cidade do Rio de Janeiro, reconhecendo no Fórum não institucionalizado de construção de políticas, organização de redes e compartilhamentos de vivências e experiências de agentes de Estado inseridas no contexto de cuidados e garantias de direitos às mulheres em situação de rua e seus bebês.


Resultados e discussão
As mulheres no contexto da situação de rua são minorias, apesar disso, algumas pesquisas tem mostrado que as mulheres em situação de rua apresentam maior vulnerabilidade para as infecções sexualmente trasmissíveis, incluindo, o HIV/AIDS, maior vulnerabilidade para sofrerem violências, incluindo, a ocorrência de estupro, além de violências institucionais, em reprovação ao fato de serem mulheres e estarem na rua e ou usuárias psicoativo. Assim, a situação de rua, pensada inclusive do ponto de vista da construção de políticas pública, como uma questão do universo masculino e, sob certos aspectos, “problemas de homens negros e pobres”, tem como causa e efeito a subrepresentação/invisibilização das mulheres.
Situação diametralmente diferente é vivida por essas mulheres ao engravidarem ou descobrirem-se grávidas, momento em que ascendem a uma agenda de políticas públicas, não por serem mulheres em situação de rua ou por ser usuárias de psicoativo, mas sobretudo, por estarem grávidas.
No que diz respeito às mulheres que se descobrem ou engravidam em situação de rua o Censo da cidade do Rio revela um dado preocupante: a queda no acesso às consultas de pré-natal, apesar da expansão das equipes de Consultório na Rua, bem como, da recomposição e fortalecimento da Atenção Primária em Saúde, pelo menos, nos últimos dois anos.

Conclusões/Considerações finais
O desejo de maternar pode favorecer a construção de outros sentidos e projetos de vida, ele por si só não garante sustentabilidade aos projetos em longo prazo, pois pesam sobre essas mulheres desigualdades geracionais.