02/11/2023 - 13:10 - 14:40 CO28.2 - Crítica ao pensamento político e sanitário neoconservador |
46579 - REVISÃO SISTEMÁTICA SOBRE A RELAÇÃO ENTRE GESTÃO SANITÁRIA DA COVID-19 E O CONSPIRACIONISMO DO “MARXISMO CULTURAL” ANA PAULA ANDRADE PICCINI GOMES - USP, LEONARDO CARNUT - UNIFESP
Apresentação/Introdução Não é novidade que as teorias conspiratórias – um conjunto de narrativas que têm como objetivo sustentar uma percepção social e política – compõem o âmago histórico das sociedades humanas. Essas teorias, que ganham voz principalmente em momentos históricos de crise, como podemos observar nos argumentos sobre a “Nova Ordem Mundial”, da “Falácia do Aquecimento Global”, entre outros consolidados no ideário popular.
Entre esta profusão de teorias da conspiração, uma delas tem sido frequentemente vociferada no mundo e, especialmente no Brasil: o “marxismo cultural”. Esta teoria conspiratória designa um conjunto de estratégias que teriam sido desenvolvidas pela Escola de Frankfurt e por Antonio Gramsci e posta em prática pela esquerda mundial, objetivando a destruição da cultura ocidental. Isto tem sido combinado com sucesso no Brasil com outra teoria: a da “Ameaça comunista no Brasil”, uma crença de que o país estaria à beira de se converter ao comunismo.
A pandemia da COVID-19 fomentou ainda mais o solo fértil de tais teorias conspiratórias. Grupos que creem no “marxismo cultural”, por exemplo, têm propagado um conjunto de argumentos de que sustentam várias teses negacionistas da ciência como o antivacinismo e outras descrenças na ciência relacionadas a tratamentos e imunização de COVID-19 atribuídas a grupos de esquerda ou uma suposta dominação da “esquerda mundial”. Estes argumentos têm gerado consequências catastróficas para a saúde pública.
Toda essa problemática ainda se conjuga com a ascensão do neofascismo no contexto complexo da conjuntura econômica e política do capitalismo contemporâneo. As teorias conspiratórias são narrativas extremamente úteis aos neofascistas, permitindo assim a manutenção da fascistização social a curto e longo prazo. No Brasil, essas teorias tomaram fôlego através do “marxismo cultural”, em uma guerra cultural anticomunista com argumentos irracionais.
Objetivos Diante desta situação, o estudo teve como objetivo geral analisar a relação entre os problemas relacionados à gestão sanitária da COVID-19 no mundo com argumentos conspiratórios apresentados pelo “marxismo cultural”.
Metodologia O método escolhido para essa pesquisa foi o da revisão crítica da literatura. Iniciou-se a revisão através de uma busca exploratória em 70 revistas que publicam conteúdo científico crítico, considerando o período específico da pandemia de 2020 a 2023, através dos termos-livres primários: marxismo cultural; Escola de Frankfurt; guerra cultural; conservadorismo e bolchevismo. Após, realizou-se a combinação dos termos-livres primários da busca com termos-livre secundários que foram pensados em função da sua relação com a pergunta de pesquisa com o uso do operador booleano ‘AND’. Foram eles: pandemia, COVID-19 e Fake News.
Para o processo de seleção do estudo foi utilizado o Fluxograma Prisma. Foram identificados 1.085 artigos, onde foram excluídos 257 títulos duplicados; na segunda fase foram excluídos 257 publicações por tipo, restando 723 artigos. Desses 723, 614 artigos foram excluídos após a leitura dos títulos utilizando os determinados marcadores textuais. Dos 109 artigos restantes, 67 foram excluídos após a leitura dos resumos. Realizou-se, então, a leitura completa de 42 textos, onde foram excluídos 27 artigos que não dialogaram com a pergunta de pesquisa. Foram incluídos nesta revisão o total de 15 artigos.
Resultados e discussão As análises realizadas demonstraram que todos os artigos relacionam e mencionam a pandemia da COVID-19 e seus desdobramentos econômicos e políticos, através de uma interpretação histórico-crítica. Entretanto, quando analisados nos termos utilizados que podem remeter ao “marxismo cultural”, notamos que os termos presentes são: ‘negacionismo’, ‘Fake News’ e ‘teorias da conspiração’ tentando-se obscurecer a relação destas com esta teoria conspiratória específica. De quinze artigos, apenas um nomeou como “marxismo cultural” como uma das teorias da conspiração presentes. Referente a artigos que citaram a gestão da pandemia, apenas quatro artigos discutiram essa vertente.
Conclusões/Considerações finais Praticamente a totalidade dos artigos direciona soluções a longo prazo de combate à estrutura do capitalismo e das suas relações sociais de produção, assim como a atenção à questão climática.
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