02/11/2023 - 13:10 - 14:40 CO29.2 - Não estamos todos no mesmo barco: diferentes pandemias, riscos e expressões das desigualdades em saúde |
47252 - A PANDEMIA DE COVID-19 E OS SEUS IMPACTOS NOS PROFISSIONAIS DE SAÚDE BRASILEIROS ALESSANDRA ANICETO FERREIRA DE FIGUEIRÊDO - UFRJ, MICAELLE LORENA MARTINS ALVES - UFRJ, RENATA DE CARLI ROJÃO - UFRJ, JULIANA SILVA E SILVA - UFRJ, CAMILA DE SOUZA FERREIRA - UFRJ, LARISSA SANTIAGO DE FREITAS - UFRJ, ANA MARIZA PASSOS DOS SANTOS MARTINS - UFRJ, ALINE VILHENA LISBOA - UFRJ, ANACELY GUIMARÃES COSTA - UNIVASF, BRENO DE OLIVEIRA FERREIRA - UFAM, MICHELLE PLUBINS BULKOOL - UENF
Apresentação/Introdução A pandemia da COVID-19 fomentou uma crise social, econômica, jurídica, política e no mundo do trabalho, que vem sendo analisada, especialmente, no plano mais macroscópico das relações. Entretanto, a atividade humana, em sua dimensão mais elementar, foi afetada, produzindo entre profissionais da saúde formas peculiares de sentir, pensar e agir face ao trabalho na assistência à saúde. Em revisão bibliográfica, desenvolvida por Teixeira et al. (2020), foram identificados na base de dados PubMed cerca de 160 trabalhos, entre editoriais, cartas ao editor e artigos científicos, que trouxeram informações para a identificação dos principais problemas de saúde entre os profissionais e os trabalhadores de saúde na pandemia de COVID-19. O resultado do estudo apontou: uma alta taxa de contaminação desses profissionais pelo novo coronavírus; problemas de saúde mental com aumento dos sintomas de ansiedade, depressão, perda da qualidade do sono, aumento do uso de drogas, sintomas psicossomáticos e medo de se infectarem ou transmitirem a infecção aos membros da família; esforço emocional e exaustão física ao cuidar de um número crescente de pacientes com doenças agudas de todas as idades, que tinham o potencial de se deteriorar rapidamente; cuidado de colegas de trabalho que podiam ficar gravemente doentes e, muitas vezes, morrer de COVID-19; escassez de equipamentos de proteção individual que intensificaram o medo de exposição ao coronavírus no trabalho, causando doenças graves; preocupações em infectar membros da família, especialmente os mais velhos, os imunocomprometidos ou com doenças crônicas; escassez de ventiladores e outros equipamentos médicos cruciais para o atendimento dos pacientes graves; ansiedade em assumir papéis clínicos novos ou desconhecidos e cargas de trabalho expandidas no atendimento a pacientes com COVID-19; acesso limitado a serviços de saúde mental para gerenciar depressão, ansiedade e sofrimento psicológico. Em meio a esse cenário, é importante questionarmos como os profissionais de saúde, que atua(ra)m no enfrentamento a COVID-19 foram impactados em seu processo de saúde, adoecimento e cuidado? Partimos da hipótese de que há aspectos nas vivências laborais que continuam impactando na produção de saúde, adoecimento e cuidado dos profissionais de saúde que estão/estavam no enfrentamento a essa pandemia no país e que precisam ser trabalhados.
Objetivos Analisar a constituição dos processos de saúde, adoecimento e cuidado dos profissionais de saúde no enfrentamento à pandemia de COVID-19 no Brasil.
Metodologia Trata-se de uma pesquisa quanti-qualitativa, em que foi construído e aplicado um questionário estruturado, tomando por base a literatura sobre a perspectiva ergológica, estudos em saúde mental e saúde do trabalhador. O questionário foi composto por 62 perguntas objetivas/discursivas, abrangendo identificação sociodemográfica e os eixos: trabalho/intelectual, social, físico, emocional, espiritual. Participaram do estudo 394 profissionais de saúde de nível médio e superior que atuaram no enfrentamento à COVID-19. Para análise quantitativa dos resultados, foi utilizado o software SPSS Statistics, versão 22.0, no que diz respeito à apreciação dos dados qualitativos, foi utilizado o programa informático gratuito IRAMUTEQ (Interface de R pour les Analyses Multidimensionnelles de Textes et de Questionnaires), desenvolvido por Pierre Ratinaud (2009).
Resultados e discussão Os resultados do estudo apontaram que 66,49% dos participantes apresentaram alterações alimentares durante a pandemia de COVID-19, sendo evidenciado o aumento da ingestão alimentar, de pedidos de delivery, consumo de fast food e ultra processados. 38,32% dos profissionais afirmaram alteração na ingestão de bebidas alcoólicas e 18,02% relataram seu uso “às vezes” neste período, revelando aumento do consumo. 20,81% dos participantes relataram o diagnóstico de novas doenças, excetuando a COVID-19. Dentre elas, destacam-se transtornos mentais, doenças metabólicas e hipertensão arterial. 52,28% afirmaram ter havido alteração no desenvolvimento de atividades físicas, destacando o sedentarismo e o ganho de peso durante esse período.
Conclusões/Considerações finais A pandemia corroborou com a piora na qualidade alimentar dos profissionais de saúde que estavam no enfrentamento à COVID-19 e também para a diminuição na frequência de práticas de atividades físicas. Além disso, foi relatado maior uso de bebidas alcoólicas e processos de adoecimento, sobretudo no que diz respeito aos transtornos mentais e patologias endócrinas. Por fim, foi observada a intensificação das iniquidades e do racismo em saúde, com mortes e carga de doença mais expressiva entre mulheres, não-brancas e pobres, especialmente em profissionais de nível médico e técnico.
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