Comunicação Oral

02/11/2023 - 13:10 - 14:40
CO29.3 - Insubmissas reflexões: olhares sobre pandemia, ensino e hanseníase

47207 - A HANSENÍASE E A PANDEMIA DO COVID-19 NO CONTEXTO DA ORGANIZAÇÃO DOS SERVIÇOS E AÇÕES DE SAÚDE
ADRIENE MICHELLE TAURINO DA SILVA - UPE, DANIELLE CHRISTINE MOURA DOS SANTOS - UPE, RAPHAELA DELMONDES DO NASCIMENTO - UPE, CÁSSIA CIBELLE BARROS DE ALBUQUERQUE - UPE, BRUNA DE SOUZA BUARQUE - UPE, ELEN VITÓRIA OLIVEIRA DE LIMA - UPE


Apresentação/Introdução
A pandemia do COVID-19 mudou o cenário da saúde no mundo instaurando o distanciamento social, a necessidade de reorganização dos serviços de saúde e acentuou as desigualdades sociais. Essa conjuntura impacta diretamente na assistência prestada às pessoas acometidas pela Hanseníase, uma vez que se têm relação da doença com baixas condições socioeconômicas e com a organização dos serviços de saúde (SOUZA, MAGALHÃES, LUNA; 2020). Lopes et al (2022) afirmam que pessoas do gênero masculino, a população negra e pessoas com menor grau de escolaridade representam o maior quantitativo de casos de hanseníase, bem como são os mais propensos ao contágio pelo COVID-19 e a dificuldade de acesso aos serviços de saúde.

Objetivos
Avaliar as ações do Programa de Controle da Hanseníase (PCH) de Recife-PE na pandemia da COVID-19 diante da perspectiva dos profissionais de saúde.

Metodologia
Trata-se de um estudo descritivo de abordagem qualitativa pautado no referencial teórico-metodológico de Avaliação de Processo para seu desenvolvimento realizado como parte das ações do Grupo de Pesquisa e Extensão sobre Cuidado, Práticas Sociais e Direito à Saúde da Universidade de Pernambuco (GRUPEV-UPE). O estudo foi realizado no ano de 2022 com profissionais de saúde de duas Unidades de Saúde da Família (USF) e uma Policlínica, participantes do PCH em Recife-PE. Foram incluídos os profissionais com período de atuação mínimo a partir do ano de 2019 (prévia à pandemia) e excluídos àqueles que possuíssem qualquer condição cognitiva aguda ou crônica que pudesse limitar a capacidade de participação do estudo, assim como os profissionais afastados do serviço no período da pesquisa. Para coleta de dados foram realizadas entrevistas gravadas, semiestruturadas, individuais e conduzidas por um roteiro, abordando as adaptações e desafios dos serviços de saúde durante a pandemia COVID-19 na assistência aos usuários acerca do diagnóstico da hanseníase precoce, identificação de contatos domiciliares, orientações quanto ao tratamento, reações hansênicas, prevenção de incapacidades, estigma e vulnerabilidades. Os dados obtidos foram submetidos à análise textual e lexical no software Interface de R pour lês Analyses Multidimensionnelles de Textes et de Questionnaires (IRAMUTEQ). Trata-se de uma ferramenta de rigor estatístico que viabiliza diferentes tipos de análises textuais em estudos qualitativos. O presente estudo está vinculado ao projeto “A hanseníase e a pandemia do coronavírus: impacto na vida das pessoas afetadas, na organização dos serviços e ações estratégias”, aprovado pelo Comitê de Ética e Pesquisa do Complexo Hospitalar HUOC/PROCAPE por meio do parecer N°5.197.512.

Resultados e discussão
Foram realizadas entrevistas com 7 profissionais de saúde e, posteriormente, realizadas as transcrições, as quais foram inseridas na ferramenta IRAMUTEQ. A partir da análise textual resultou-se em 5 classes na Classificação Hierárquica Descendente (CHD). O corpus das entrevistas foi estruturado e organizado de acordo com grau de semelhança relacionado a um determinado assunto, resultando em agrupamentos por classes chamados de dendograma do CHD que consiste na representação estatística e lexical das classes. Em relação a análise lexical, as classes foram categorizadas e representadas por eixos temáticos: Classe 1 - Mudanças na continuidade da assistência na pandemia; Classe 2 - implicações nas demandas nos serviços de saúde; Classe 3 - Consequências da pandemia na atenção da saúde da Hanseníase; Classe 4 - Reações e sequelas gerados pela pandemia; Classe 5 - Busca ativa, tratamento e abandono. A pandemia COVID-19 provocou barreiras de acesso na atenção à saúde de pessoas acometidas pela Hanseníase devido a reestruturação dos serviços para atender prioritariamente o COVID-19, além do desabastecimento de medicamentos destinados à Hanseníase e de materiais para curativos. Houve também a diminuição na quantidade de consultas e de ações de educação em saúde voltados para a hanseníase e a dificuldade de busca ativa, avaliação e diagnósticos. Atrelado a isso, verifica-se também que o medo da COVID-19 implicou no abandono do tratamento da hanseníase, assim como percebe-se um diagnóstico tardio, o que repercutiu no maior desenvolvimento de sequelas e incapacidades.

Conclusões/Considerações finais
Verifica-se que o cenário pandêmico agravou os desafios enfrentados pelos usuários afetados pela Hanseníase, pelos profissionais de saúde e pela gestão. Frente a isso, se constitui uma endemia hansênica, sendo a carga da doença disseminada no país com redução das ações de prevenção, diagnóstico e tratamento afetando, principalmente, as populações socialmente vulneráveis. Ademais, é necessário construir estratégias para viabilizar o acesso aos usuários afetados pela hanseníase pelo Programa de Controle da Hanseníase a fim de garantir os cuidados necessários no diagnóstico, tratamento e prevenção de incapacidades.