47154 - DO SOFRIMENTO PSICOSSOCIAL À LUTA PELA RESSIGNIFICAÇÃO DA EXISTÊNCIA FRENTE AO DESASTRE SOCIOAMBIENTAL DAS FORTES CHUVAS NO JABOATÃO DOS GUARARAPES, PE. PAULA PEREIRA BARBOSA - PREFEITURA DO JABOATÃO DOS GUARARAPES, WELLINGTON BRUNO ARAUJO DUARTE - PREFEITURA DO JABOATÃO DOS GUARARAPES, FABIANA FÁTIMA PIMENTEL DE MEDEIROS - PREFEITURA DO JABOATÃO DOS GUARARAPES, REBECA DANIELE BUARQUE FEITOSA - PREFEITURA DO JABOATÃO DOS GUARARAPES, ZELMA DE FÁTIMA CGAVES PESSÔA - PREFEITURA DO JABOATÃO DOS GUARARAPES, JOÃO HENRIQUE PRISTON - PREFEITURA DO JABOATÃO DOS GUARARAPES, GEISA NOVAIS MAIA - PREFEITURA DO JABOATÃO DOS GUARARAPES
Contextualização Em 28 de maio de 2022 ocorreu um desastre socioambiental no Estado de Pernambuco desencadeado pela combinação de diversos fatores, tais como o alto nível de águas nos rios, chuvas intensas, alta de maré nos meses de inverno e problemas crônicos de escoamento e déficit social habitacional. Foram registrados 134 óbitos no Estado, sendo 64 destes só em Jaboatão dos Guararapes, devido aos deslizamentos de terra, inundações e enxurradas.
Entre os 47 municípios afetados, foram registradas 122 mil pessoas desalojadas e 5.415 desabrigadas, sendo criados 114 abrigos institucionais (a maioria improvisados em escolas) para as vítimas. O desastre é tido como a maior tragédia ambiental do século em Pernambuco, visto que ultrapassou a gravidade do último similar desastre ocorrido no estado em 1975, no qual morreram 107 pessoas.
O desafio da crise sanitária instalada incluía algumas unidades de saúde destruídas pela chuva, suicídios e tentativas, pessoas com doenças crônicas não transmissíveis - DCNT - descompensadas, crises psiquiátricas, casos de leptospirose, falta de acesso à água potável, falta de moradia, roupas e alimentação adequada.
Descrição Seguiu-se em Jaboatão por cerca de um mês um trabalho muito intenso e que até hoje não cessou, um desafio que ia do socorro emergencial, da alimentação básica diária, passando pelo abrigamento e indo até o planejamento de um suporte continuado em saúde às vítimas. Gestores, profissionais de saúde, estudantes, voluntários: todos assumiram um papel fundamental na reconstrução da cidade. Instituições como a Força nacional do Sistema Único de Saúde - SUS, as Forças Armadas, o Médicos Sem Fronteiras, entre outras, contribuíram com a causa. O desastre se somou a um maior desafio sanitário, a pandemia de COVID-19.
A situação de desastre ocasionada pelo déficit habitacional e pelas chuvas foi algo inusitado na atuação das equipes da Atenção Básica e de saúde mental dos Centros de Atenção Psicossocial - CAPS. Os profissionais acolheram a população nos abrigos ofertando escuta qualificada, discutindo sobre as regras de convívio e mapeando os casos de sofrimento mental; Foi disponibilizado plantão psicológico nos abrigos que acolhiam casos mais emblemáticos; Equipes foram deslocadas para as comunidades afetadas, ofertando acolhimento, doações, realizando encaminhamentos e apoiando estratégias como as cozinhas comunitárias; Profissionais-chave do SUS, SUAS, Defesa Civil e Educação passaram por capacitação em saúde mental para serem replicadores.
Período de Realização 28 de maio de 2022 até os dias atuais
Objetivos Organizar a rede de atenção psicossocial para ofertar acolhimento e implantar estratégias em saúde mental para a população atingida pelo desastre socioambiental ocasionado após as fortes chuvas em Jaboatão dos Guararapes, PE; Qualificar em primeiros socorros em saúde mental e oferecer suporte aos profissionais que atuaram na gestão municipal e linha de frente; Implantar estratégia de cuidado continuado às comunidades afetadas; Contribuir para o projeto ético-político de memória das vítimas.
Resultados Foram capacitados 336 profissionais dos vários setores para atuação em primeiros socorros psicológicos em desastres. Foi ofertado atendimento psicológico semanal para os profissionais do município e plantões psicológicos nas comunidades mais afetadas, que se mantêm até o presente momento, devido à demanda. Os profissionais atuantes no desastre mostraram-se mais seguros com relação às demandas de saúde mental. Também houve a requalificação de um espaço pela própria comunidade de uma das áreas mais afetadas, na tentativa de ressignificar o local da tragédia.
Aprendizados Observa-se que a tragédia socioambiental pode ser evitada com investimento em políticas públicas, envolvendo vários setores como defesa civil, saneamento, habitação, saúde, educação e assistência social. É necessário planejar a cidade para as pessoas terem o direito à moradia digna e à cidadania, com construção de casas em locais seguros, limpeza de rios, canais e recuperação de ruas, investimento na educação, obras de contenção de encostas, treinamento para situações de risco e equipes qualificadas.
Análise Crítica Fez-se necessário resposta rápida da gestão e das equipes de saúde naquele momento. Mesmo com fatores desafiadores, como a quantidade reduzida de profissionais, pouca experiência em desastres (agravando-se mais ainda nos casos de transtornos mentais) e dificuldade de acesso aos territórios, as equipes de saúde ofertaram suporte para profissionais e acolhimento para população. Foram garantidos qualificação e acolhimento em saúde mental para os profissionais da rede e ofertados cuidados aos munícipes. Porém, não se deve esquecer que o desastre tem cor e classe social. O dossiê popular "Uma tragédia anunciada", lançado no último ano por várias organizações sociais, revelou que 60% das áreas atingidas foram favelas ou assentamentos precários onde a população majoritária é negra (84%).
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