46285 - REFLEXÕES SOBRE OS EFEITOS DA PRESENÇA DO CAPS INFANTOJUVENIL NO MATRICIAMENTO EM SAÚDE MENTAL NA ATENÇÃO BÁSICA MÔNICA MONTEIRO PEIXOTO - FESAÚDE
Contextualização No ano de 2022, a atenção primária e parte da rede de atenção psicossocial (RAPS) do município de Niterói/RJ passaram por uma transição ao receber os empregados públicos, recém concursados, nos módulos de médico de família (MMF), no Núcleo de Apoio à Saúde da Família (NASF), nos Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) e no Centro de Convivência e Cultura. É neste cenário que o matriciamento em saúde mental ganha prioridade de agenda ao favorecer o entendimento dos fluxos e a personalização dessa rede, isto é, a criação de vínculo entre os profissionais.
Descrição O matriciamento tem se dado por meio de reuniões para discussão de caso e de consultas compartilhadas, ambas realizadas nos MMF, entre profissionais da atenção básica e dos dispositivos de saúde mental presentes naquele território.
Período de Realização Estas reflexões são fruto das vivências da autora como matriciadora pelo período de 01 ano, entre 2022 e 2023.
Objetivos Este trabalho se dedica a refletir sobre os efeitos da atuação do CAPS infantojuvenil no matriciamento das regiões de Pendotiba e Oceânica de Niterói.
Resultados Os primeiros matriciamentos operavam na lógica do “pra onde eu encaminho?”. As discussões visavam descobrir quais quadros eram ambulatoriais e quais complexidades justificavam o acompanhamento de um CAPSi. Foi preciso sublinhar que encaminhamento não significa transferência e sim compartilhamento. A atenção básica precisava continuar se ocupando do cuidado, sendo um trabalho em parceria. A composição de profissionais de diversas categorias nas reuniões de matriciamento buscava deslocar a centralidade do poder médico, com destaque para a contribuição dos agentes comunitários de saúde (ACS). Eles trouxeram um conhecimento de base territorial, muitas vezes inacessível aos outros profissionais.
Querendo dar uma resposta breve às escolas, fonte importante de encaminhamentos para a saúde mental, a atenção básica apresentava os casos infantojuvenis nas reuniões antes mesmo de se ter mais elementos sobre a própria criança/adolescente e sua família. As perguntas dos matriciadores indicavam o que era relevante saber em cada caso, ajudando a atenção básica na condução da escuta em seu próximo encontro com o usuário. A temporalidade particular do campo da saúde mental também foi discutida sob diversos aspectos, desde o diagnóstico evolutivo, passando pela construção de expectativas da própria atenção básica em relação aos efeitos das nossas práticas, até a formação e manutenção de vínculo, que depende da nossa presença e permanência. Também foi possível conversar sobre os efeitos do diagnóstico na infância e juventude.
Aprendizados O matriciamento possui um viés clínico pedagógico, sendo uma ferramenta de educação permanente. De modo geral, a partir das demandas de atendimento identificadas, compartilhamos materiais teóricos e recursos territoriais que ajudassem na clínica. Mas a ideia principal era que a própria discussão de caso já desenvolvesse nas equipes recursos e estratégias, em especial a formação de uma outra sensibilidade para a saúde mental, que pudesse ser aplicada em casos semelhantes. Por exemplo, a reunião de matriciamento sobre uma adolescente trans, cumprindo medida socioeducativa, foi um disparador para conversas sobre identidade de gênero, adolescentes em conflito com a lei, cuidado em liberdade e intersetorialidade com os profissionais do MMF. O acesso à história de vida da adolescente permitiu desconstruir narrativas conservadoras que, muitas vezes, dificultam ou até mesmo inviabilizam o cuidado em saúde. Neste caso específico, as visitas domiciliares realizadas em parceria com os matriciadores foram fundamentais para alinhar as condutas entre os profissionais. Aqui o conceito de interseccionalidade nos ajuda a entender a confluência dos efeitos das desigualdades sociais de raça, classe, gênero, dentre outras; sendo o princípio da equidade do SUS um importante norteador na busca por justiça social.
Análise Crítica Identificou-se que, muitas vezes, o encaminhamento para o CAPSi servia para desviar de outras deficiências da rede, por exemplo de terapias de reabilitação e de neurologista infantil, o que gerava desgaste na família em busca de cuidado. Observou-se também um grande volume de encaminhamentos para saúde mental vindo das escolas. Além das diversas vulnerabilidades que implicam no acesso e na permanência na escola, ainda recolhemos os efeitos da pandemia de Covid-19, sendo constante a queixa de dificuldade de aprendizagem. Logo, é preciso avançar no trabalho de matriciamento das escolas.
Conclui-se que a criança/adolescente evidencia a radicalidade do significado do termo “singular” na construção do projeto terapêutico (PTS). Trata-se de um projeto único, mas não individual, pois implica um trabalho com a família e demais instituições que a circulam: escola, conselho tutelar, equipamentos da assistência social, dentre outros. Nesta soma de perspectivas intra e intersetoriais, o matriciamento convoca um pensar junto.
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