02/11/2023 - 13:10 - 14:40 CO32.3 - Saúde mental infanto-juvenil e atenção psicossocial |
46833 - ADOLESCENTES EM USO ABUSIVO DE SUBST NCIAS PSICOATIVAS EM FORTALEZA: A LACUNA ASSISTENCIAL E O RISCO DE INSTITUCIONALIZAÇÃO ANDREZZA SOMBRA CORDEIRO - UFC, VLÁDIA JAMILE DOS SANTOS JUCÁ - UFC
Apresentação/Introdução A expansão dos Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) é fundamental para consolidar o movimento de desinstitucionalização proposto pela Reforma Psiquiátrica Brasileira, no qual se privilegia o cuidado territorial e uma assistência em redes intersetoriais. Todavia, há uma desassistência de adolescentes que fazem uso de substâncias psicoativas que escancara a ambiguidade dessas políticas, uma vez que há uma indefinição de qual deveria ser o local de referência para esse público: CAPS I ou CAPS ad. O limbo assistencial a que esses jovens estão submetidos reflete e alimenta a cultura de institucionalização e a urgência de aprimoramento das políticas públicas em saúde mental infantojuvenil.
Objetivos O presente estudo visa compreender quais são as alternativas de cuidado que os adolescentes e seus familiares, desassistidos pela RAPS, encontram na cidade de Fortaleza (CE), a partir das perspectivas de profissionais dos CAPSad das regionais III e VI, bem como de um hospital pediátrico.
Metodologia A coleta de dados da presente pesquisa qualitativa, de caráter exploratório-descritivo, ocorreu por meio de rodas de conversas, visitas e entrevistas semiestruturadas com os profissionais dos equipamentos de saúde, nos meses de agosto e setembro de 2021. Esses materiais foram gravados, transcritos e posteriormente analisados por meio da Análise de Discurso.
Resultados e discussão Dentre os principais resultados obtidos, tem-se que esse público não tem conseguido chegar nos CAPSi e ad, mas continuam chegando no hospital pediátrico, que possui uma unidade de internação psiquiátrica, além de ocupar os cinco leitos financiados pelo Estado para internação de adolescentes em uma Comunidade Terapêutica. Entretanto, nota-se que essa escolha não está necessariamente atrelada a uma indicação clínica, mas principalmente associadas a contextos de risco de vida e vulnerabilidade social. Além dos cinco leitos na CT conveniada ao estado, internações em várias outras comunidades acontecem sem registro e acompanhamento pelo poder público.
Em relação ao uso de drogas, a internação muitas vezes opera de modo ineficaz, uma vez que não intervém nas contingências de uso e, desse modo, o indivíduo retorna, após a internação, para o mesmo contexto de vida e o padrão de uso tende a ser restabelecido. Comunidades Terapêuticas e clínicas privadas são ainda comumente guiadas pelo paradigma da abstinência, que não considera a singularidade do indivíduo e posiciona a recaída ao uso de drogas no âmbito do fracasso pessoal, culpabilizando o indivíduo. Na fase da adolescência, a internação psiquiátrica ainda produz identificações com os lugares de “viciado”, “adicto”, portador de uma doença incurável e de uma grave “falha moral”. Em leitos para internação em um hospital psiquiátrico, as abordagens para além da internação para desintoxicação e do tratamento medicamentoso encontram-se enfraquecidas.
Conclusões/Considerações finais Em um país que ainda vive na tensão entre a sobrevivência do modelo psiquiátrico clássico e das propostas resultantes da Reforma Psiquiátrica, essa fragilidade no âmbito da saúde mental infantojuvenil fortalece a desconstrução da lógica de cuidado territorial e a multiplicação das internações. Estas, quando são frequentes e somadas a uma fragilização dos laços sociais, conduzem a institucionalização.
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