47380 - TECENDO A REDE DE ATENÇÃO PSICOSSOCIAL ÀS INFÂNCIAS EM NATAL-RN: UM RELATO DE EXPERIÊNCIAS DE ACOLHIMENTO NO CAPSI E NO SERVIÇO-ESCOLA DA UFRN PAULA DÉBORA PEREIRA CASTANHA - UFRN, ANA LUÍZA COSTA DE OLIVEIRA LIMA SANTOS - UFRN, ALESSANDRO DA SILVA MEDEIROS - UFRN, GIOVANNA FONTOURA DE SOUZA RODRIGUES - UFRN, RICARDO RIBEIRO DE ALMEIDA - UFRN, ANA CAROLINA RIOS SIMONI - UFRN, CÂNDIDA MARIA BEZERRA DANTAS - UFRN, JADER FERREIRA LEITE - UFRN
Contextualização O presente trabalho, desenvolvido no âmbito das atividades de estágio obrigatório do curso de Psicologia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), situa-se no recorte da rede de atenção psicossocial à infância, a partir das experiências no Centro de Atenção Psicossocial Infanto-juvenil (CAPSi), do município de Natal/RN, e no serviço-escola da UFRN, o Serviço de Psicologia Aplicada (SEPA). O estágio foi realizado por discentes do 4º e 5º ano do curso de Psicologia, de modo que foi possível suas participações na produção de cenas de cuidado em saúde mental, baseadas na perspectiva da clínica ampliada. Em diálogo com alguns saberes advindos das psicanálises, tentamos sustentar uma ética do cuidado orientada por uma escuta singular dos desejos dos/as usuários/as. Além disso, implicamo-nos na produção de um olhar interseccional atento aos marcadores sociais que atravessavam os sujeitos envolvidos e refletia os efeitos oriundos da imbricação deles. Alinhando-se também aos princípios da Reforma Psiquiátrica Brasileira e às diretrizes da Rede de Atenção Psicossocial (RAPS), investimos na produção de ações voltadas para movimentos criativos, que desbravaram o campo da clínica enquanto uma artesania que se constrói por intermédio dos encontros.
Descrição O nosso exercício foi o de pôr em prática uma atuação atenta ao que emergia de potencialidades e limitações nos momentos de cuidado, ancorando-se em um olhar problematizador, que se propôs a tensionar os processos de medicalização e patologização da vida, na mesma medida em que pretendia fortalecer processos de desinstitucionalização e de cuidado em liberdade. Para tanto, entendemos o acolhimento enquanto um dispositivo ético-político, que prioriza a produção de vínculos com as/os usuárias/os e a construção de redes de cuidado. O brincar livre, junto às crianças, e atenção às produções de tais sujeitos em constituição nos oportunizou mergulhar no universo do público infantil durante os encontros.
Período de Realização A chegada das questões do público infantil se deu através de acolhimentos que discentes desenvolveram, tanto no SEPA quanto no CAPSi, no segundo semestre de 2022 e no primeiro semestre de 2023.
Objetivos O presente relato objetiva analisar as experiências de acolhimento nos serviços já citados, focando no processo de produção de redes de cuidado para as infâncias.
Resultados Apostando em movimentos instituintes, algumas reinvenções foram se desdobrando de processos de acolhimento, que iamos sustentando, ao pensar os sujeitos e seus contextos, de modo que foi se desenvolvendo uma articulação intersetorial, conforme cada situação demandava, impelindo-nos a compor junto à outros serviços da própria rede de saúde, da assistência social, da educação, entre outros. Em consequência disso, nosso trabalho foi o de resistir à pressa que se impunha em busca de encaminhamentos e se demorar em cada caso o suficiente para suscitar reflexões aprofundadas sobre o que era possível.
Aprendizados Nessa seara, nutrimos a percepção de que o acolhimento precisava transbordar as salas fechadas e os especialismos, contagiando os espaços de ambos serviços e pensando a recepção, a sala de espera, a permanência e a saída das/os usuárias/os. Nossa perspectiva foi a de se inserir dentro dessa rede e produzir alianças com profissionais e usuárias/os, a fim de contribuir em sua sustentação com maior qualidade.
Análise Crítica A princípio, foi perceptível que há uma dificuldade, em ambos os serviços, de sustentar um cuidado em rede e territorializado, justamente porque se chocam com uma série de percalços oriundos dos processos de precarização da RAPS. As equipes, que trabalham com uma alta demanda, decorrente da falta de serviços públicos de saúde mental, se esforçam e lutam cotidianamente para sustentar as cenas de cuidado, uma vez que há uma limitação marcante na oferta de serviços em saúde mental para as infâncias no município de Natal e isso resulta em desafios para as/os trabalhadoras/es desse campo. No CAPSi, por exemplo, percebemos que o grande fluxo de usuários causou uma transformação na lógica de acolhimento, a qual assume a forma de triagem. Nesse modelo, as demandas foram tratadas de forma individualizada e patologizante desde o começo, em prol de uma dita efetividade e agilidade do atendimento, que procurava os casos que deviam ficar no serviço e os que deviam ser referenciados. Algo semelhante se vislumbrou no SEPA, onde se buscou também um caminho para escoar essa sobrecarga e se produziu uma forte tendência a assumir o trabalho da Psicologia como algo que acontece exclusivamente dentro de uma sala fechada entre o paciente e o profissional.
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