Comunicação Oral

02/11/2023 - 13:10 - 14:40
CO32.4 - Cuidado em liberdade: desafios para a RAPS

46883 - O CUIDADO EM SAÚDE AO USUÁRIO DE ÁLCOOL E OUTRAS DROGAS: ESTUDO QUALITATIVO SOBRE A PERCEPÇÃO DOS GESTORES EM SAÚDE
BRUNNA VERNA CASTRO GONDINHO - UESPI, CLÁUDIA ALINE DE BRITO OLIVEIRA - UFES, MAYLA THAIS CASTELLARI - FOP/UNICAMP, LUCIANE MIRANDA GUERRA - FOP/UNICAMP


Apresentação/Introdução
O sofrimento e as queixas de origem psíquica tornaram-se os mais relevantes, senão os principais, motivos de procura por serviços de saúde no Brasil e no mundo. Entretanto, no atual período histórico, tais condições requisitam dos profissionais de saúde um cuidado crítico, reflexivo e contínuo. O trabalho em saúde, por sua vez, passa por mudanças que o colocam como práxis mecanizada, fragmentada e impessoal, condizente às determinações do processo de valorização, no capitalismo. Sabe-se que o perfil de morbimortalidade e de transição epidemiológica exerce influência importante sobre as práticas em saúde, bem como sobre a organização dos seus serviços e dispositivos. Nesse contexto, há que se ressaltar que o abuso de álcool e outras drogas está entre os principais problemas mundiais de saúde pública. A intensificação do consumo de álcool e outras drogas no mundo e no Brasil, deixa clara a necessidade de estratégias que considerem as determinações sociais, portanto ações não restritas ao setor saúde. Desta forma, os gestores são sujeitos que podem encaminhar e influenciar mudanças nas ações relativas ao tema dentro do Sistema de Saúde.

Objetivos
Desvelar, a partir das percepções de gestores em saúde, como se dá o cuidado em saúde aos usuários de álcool e outras drogas na Estratégia Saúde da Família.

Metodologia
Estudo qualitativo desenvolvido em um município de médio porte do estado de São Paulo. Foram realizados três grupos focais, totalizando uma amostra intencional de vinte e dois sujeitos gestores em saúde da Estratégia Saúde da Família. A amostra foi determinada por exaustão. Utilizou-se como pergunta norteadora: como se dá o cuidado em saúde aos usuários de álcool e outras drogas na Estratégia Saúde da Família? Esta pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa sob o número CAAE 62565216.2.0000.5418. Com o propósito de assegurar o anonimato dos participantes, nas exposições das narrativas nos resultados e discussão, foram usadas as letras “Gest”, seguidas por números, a exemplo: Gest1; Gest2, etc. Todos os participantes assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE). Análise pela técnica de conteúdo temático-categorial.

Resultados e discussão
Emergiram duas categorias por parte dos sujeitos pesquisados: 1) Estigma e Curativismo, onde as falas dos gestores relatam a realização do cuidado “possível” a um grupo de pessoas que possui características que limitam a atuação dos profissionais da saúde. A execução do cuidado, para esses usuários, tem ocorrido, portanto, clínica e momentaneamente, a partir do que é demandado por eles quando procuram pelo atendimento. Agir com preconceito é, por definição, destacar no outro, de forma negativa, o que ele possui de diferente; momento em que há uma alegação da própria identidade como predominante e superior. Sob outra perspectiva, o estigma destaca algo que vai além do julgamento prévio, evidencia um defeito, descrédito, uma mancha na imagem de um sujeito, fato que presume impureza, desaprovação e contágio, portanto, passível de urgente isolamento; 2) Necessidades em Saúde, onde ao dialogarem sobre a relevância do reconhecimento das necessidades de saúde dos usuários, os participantes denominaram a questão discutida como “doença”, assim caracterizada pelo interior das ciências naturais. Dada à formação dos profissionais, essa percepção é legítima. Porém, demanda uma compreensão pelo olhar das relações sociais e seus desdobramentos para a saúde. Nessa perspectiva, a racionalidade hegemônica biomédica organiza-se para designar o que é ou não doença, como também o que é adequado ou não para os indivíduos, submetendo-os, muitas vezes, às rotineiras avaliações pelo serviço de saúde. Isso, não somente isenta profissionais e usuários de qualquer tipo de responsabilidade política e social em relação às necessidades de saúde, como os tornam dependentes de intervenções terapêuticas.

Conclusões/Considerações finais
O desvelar da essência de cada uma das categorias encontradas, no interior da atual formação social, aponta que o capital investe em corpos detentores de força de trabalho, enquanto que os corpos desviantes são isolados, estigmatizados e monitorados; que o cuidado em saúde reificado é parte do processo de valorização, seja pela incorporação de tecnologias, de práticas gerencialistas com foco em resultados, ou pela alienação dos trabalhadores em suas ações; bem como que o capitalismo envolve a sociedade em uma lógica de consumo, inclusive por cuidados em saúde, onde os Determinantes Sociais da Saúde (DSS) apresentam-se como partes autônomas da totalidade social. Assim, entender que o homem, fincado ao processo exposto também se produz enquanto ser social, inclusive em pensamento, abre um espaço para a possibilidade de que o mesmo também possa se desalienar e reconhecerem-se como atores ativos de uma conformação sócio histórica capitalista, que mesmo marcada por inúmeras contradições, oferece elementos que possibilitam a sua superação.