Outras Linguagens

03/11/2023 - 08:30 - 10:00
OL8 - Potencialidades e desafios das linguagens da ORALIDADE e da ESCRITA para pensar o cuidado como práxis decolonizadora

46706 - ENTRE RESPIROS E FALTAS DE AR, UM GRITO: COMO ENFRENTAMOS UMA GESTÃO BOLSONARISTA DE UM MUNICÍPIO DO INTERIOR DO CEARÁ EM PLENA PANDEMIA DE COVID 19.
LIA WLADIA DA SILVA SOUSA - IAM/FIOCRUZ, FRANCISCO RODRIGO PAIVA DOS SANTOS - UFC, HELLOISE BARBOSA NERY - SESA CEARÁ, MARCO TÚLIO AGUIAR MOURÃO RIBEIRO - UFC


Processo de escolha do tema e de produção da obra
Ao sabermos da modalidade de carta de memórias, nos veio à lembrança tudo o que passamos enquanto profissionais de saúde de um município do interior do Ceará frente aos ataques de uma gestão que estava alinhada a princípios do governo de Bolsonaro no que tange ao funcionalismo público, ao negacionismo e ao medo. Tratar desse assunto em forma de carta é uma oportunidade de desabafo e partilha do modo como os profissionais da saúde se organizaram para esse enfrentamento.

Objetivos
Vemos a carta de memórias como um desabafo e como instrumento de voz para relatar o enfrentamento dos profissionais de saúde a uma gestão municipal com tons bolsonaristas no período de pandemia de Covid 19. Além disso, o objetivo dessa carta é fortalecer o fato de que servidores públicos são de suma importância no combate a desmandos de gestões negacionistas, arbitrárias e corruptas e frisar que todo movimento popular organizado é capaz de obter conquistas.

Ano e local da produção
2023, Fortaleza-CE.

Análise crítica da obra relacionada à Saúde Coletiva e ao tema do congresso
Falar de organização dos profissionais de saúde a fim de reivindicar direitos e lutar contra o medo, o negacionismo e a arbitrariedade é falar dos movimentos populares que em sua força e história obtiveram conquistas importantíssimas nos diversos setores da sociedade. É inegável o peso de se ter pessoas organizadas em busca e um ideal comum e foi isso que vivenciamos e queremos partilhar um pouco em carta. Em um momento em que estávamos todos fragilizados pelo medo e cansaço trazidos pela pandemia de Covid 19, foi necessário ainda o esforço de enfrentarmos um modelo de gestão que nos sufocava, perseguia e explorava. Uma gestão que com ares populistas, chegou prometendo à população que corrigiria tudo de errado no funcionalismo público do município. No entanto, tinha início ali um período de fortes cobranças e desvalorização dos profissionais da saúde, tudo velado sob a égide da correção: “era o momento de colocar os preguiçosos para trabalhar”! Quem não quisesse trabalhar poderia ir embora, pois trocar os profissionais era algo muito fácil, já que as leis trabalhistas foram intensamente fragilizadas e o custo de vida se tornara tão alto no Brasil, que não faltavam pessoas em busca de um emprego, mesmo este as submetendo a salários defasados, regimes de trabalho extenuantes e abusos de poder constantes. Então, mesmo com todo cansaço e medo, era o momento de nos organizarmos para que algo mudasse. A ideia perpassava combater essa visão colonial do trabalho que se reproduzia ali e estava sendo perpassado pelo Brasil inteiro. Eram moldes de produção que não asseguravam direitos, mas que veem na exploração e no abuso do poder os instrumentos da manutenção do status quo e de opressões historicamente colocadas. Toda essa indignação que nos atravessava formou uma base que nos unia, era uma rede de solidariedade que ia nos mobilizando dentro das possibilidades de cada um e de cada uma. Os sindicatos das diversas profissões envolvidas nessa luta foram de suma importância para que encontrássemos algum apoio e força e até luz no caminhar, pois muitos nunca tinham participado de reivindicações do tipo. Vimos muitos colegas adoecerem, pedirem licença e até exoneração nesse período. O fantasma do medo, fortalecido pelos contínuos abusos de poder, perseguições político-administrativas e o embate acerca de quem conquistava a opinião pública foram extenuando o movimento. Parecia que o modelo bolsonarista de governar tinha vencido. Nosso movimento perdeu engajamento, estávamos todos cansados e acuados. Foi aí que a revolta enquanto movimento popular tinha cessado, no entanto em nossos corações ela ainda ardia e doía muito. Uns saíram do município, outros pediram licença e tantos outros adoeceram. A vitória popular do Presidente Lula ressoou e ressoa esperança de justiça em nossos corações. Escrever essa carta neste ano traz uma força renovada depois de tudo que vivenciamos. Temos muito trabalho a frente no intuito de reconstrução desse país, não apenas como profissionais da saúde no SUS, mas como atores em busca de uma existência amplamente feliz, vemos isso como um dever enquanto humanidade.

Formatos e suportes necessários referentes à apresentação
A carta será lida, necessitando apenas de estrutura de som e microfone para que todas e todos possam escutar bem a sua leitura.

Breve biografia do autor
Enfermeira pela Universidade Federal do Ceará, sanitarista pela Escola de Saúde Pública do Ceará, especialista em educação popular em saúde pela Fiocruz-CE. Possui experiência em Estratégia de Saúde da Família e atualmente é residente em Saúde Coletiva pelo Instituto Aggeu Magalhães/Fiocruz.