47851 - SAÚDE GLOBAL, PRODUÇÃO E DISTRIBUIÇÃO DE VACINAS CONTRA COVID-19 RACHEL LUÍZA SANTOS MOURA - UFBA, CATHARINA LEITE MATOS SOARES - UFBA
Apresentação/Introdução A crise sanitária ocasionada pela pandemia de covid-19 reforçou a emergência de debater Saúde Global. Não só pelas implicações que o vírus SARS-CoV-2 trouxe à ciência e às autoridades sanitárias de todo o mundo, mas por sua ocorrência ter agravado as já em curso crises humanitária, econômica e política, com isso, aprofundando iniquidades sociais (CEPAL; OPS, 2020; NUNES, 2020).
Embora a produção de vacina contra covid-19 tenha sido a mais rápida da história, quando finalmente produzida, apesar de efetiva e tendo impacto comprovado, lidou com um desafio: a distribuição desigual entre os países e continentes. Os países que tiveram capacidade tecnológica de produzir e dinheiro para comprar vacinas, vacinaram. Os que não tiveram recursos continuaram a viver o endurecimento da pandemia (GUIMARÃES, 2020; SILVA; LIMA, 2021).
Este resumo parte do entendimento de Saúde Global enquanto campo de estudos, de respostas (de ação ou omissão) e uma arena geopolítica de disputas que tem como objeto os problemas de saúde que atingem a população mundial. Sendo o principal desafio deste campo, na atualidade, a busca pela equidade (SOUZA; BUSS, 2021).
Objetivos O presente trabalho tem como objetivo realizar uma reflexão acerca das implicações da desigualdade socioeconômica entre países na sua capacidade de produção e distribuição de vacinas frente à crise sanitária global da Covid-19, por meio da literatura científica.
Metodologia Realizou-se revisão da literatura científica na área de interesse, selecionando artigos publicados nos últimos 5 anos em base de periódicos indexados. Na busca, foram utilizados os seguintes descritores: "Saúde Global"; "Vacina"; "Saúde Pública" e "Produção", todos anteriormente identificados e validados no Descritores em Ciências da Saúde (DeCS) da Biblioteca Virtual em Saúde (BVS). Para a seleção e classificação das referências de interesse, foram lidos os títulos e resumos das publicações. A análise e conclusão do presente trabalho foram possíveis a partir dos resultados encontrados nos artigos de interesse selecionados.
Resultados e discussão O mercado mundial de vacinas tem sido "capturado" pelas grandes farmacêuticas (Big Pharma), o que o faz subordinado às tendências e interesses econômicos. A concentração de base produtiva e tecnológica da saúde pela Big Pharma tem sido um desafio para iniciativas de produção local, sobretudo em países com menor poder econômico. Pois, essa concentração distancia a produção de vacinas da Saúde Pública e Coletiva e faz com que as inovações fiquem detidas a grupos e sirvam apenas para acúmulo de capital dos que a possuem (GUIMARÃES, 2020; RODRIGUES; GERZSON, 2020; GUIMARÃES, 2021).
Historicamente, o desenvolvimento de vacinas e o estabelecimento de estratégias globais de imunização foram decisivas para a alteração no padrão das doenças que, como a Covid-19, afetam a humanidade. As vacinas são uma das mais efetivas ações de saúde pública do mundo e um componente essencial para a universalização do direito à saúde. Por isso, é fundamental a consolidação do sistema de proteção social universal e abrangente, comprometido em ampliar a proteção para os possíveis agravos que momentos de crise sanitária, social, econômica e política tragam e/ou aprofundem, especialmente focado no enfrentamento sistemático das desigualdades e iniquidades e em uma transformação estrutural e multisetorial do modo de produção e reprodução da vida. Além disso, é necessário o estabelecimento de uma política de desenvolvimento nacional e internacional que seja capaz de articular a vertente social à econômica, romper com a dependência e fortalecer os sistemas universais de saúde e à saúde como um direito de cidadania universal (GUIMARÃES, 2020; GADELHA, 2021; GUIMARÃES, 2021).
Conclusões/Considerações finais A lógica de entender saúde à nível global encontra-se hegemonicamente alinhada ao que Souza e Buss (2022) identificam como "saúde internacional", que se fundamenta na biomedicina e envolve desenvolvimento tecnológico, atua de forma pontual, não propõe mudanças significativas na organização social e protege apenas os países de capitalismo central e suas populações.
Os desafios para reflexão teórica e prática da Saúde Global estão muito distantes de acabar e trazem sempre novos desdobramentos que requerem atenção e o desejo de mudança. A emergência de uma Saúde Global compatível com a saúde dos povos e do planeta, um espaço de promoção e produção de caminhos possíveis e equânimes para o direito à saúde de todas as pessoas é urgente.
Uma resposta efetiva a situações de emergência sanitária implica na participação ativa de usuários dos sistemas de saúde e de movimentos sociais, de forma a promover protagonismo local e diversidade, assim como a preocupação com a questão ambiental, com a defesa dos direitos humanos e a garantia do acesso à saúde enquanto direito de cidadania.
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