Comunicação Oral Curta

03/11/2023 - 08:30 - 10:00
COC9.3 - Racismo, PNSIPN e diferentes espaços de formação

47432 - PERCEPÇÃO DE MÉDICOS DA ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE QUANTO AO MANEJO DA DOENÇA DE CHAGAS EM MUNICÍPIO DE MINAS GERAIS: PROJETO SAMI-TROP
ANDRÉIA BRITO DE SOUZA - UNIMONTES, DENISE ALVES GUIMARÃES - UFSJ, SÂMARA FERNANDES LEITE - UNIMONTES, ANA CLARA DE JESUS SANTOS - UNIMONTES, NAYARA RAGI BALDONI - UFSJ, DARDIANE SANTOS CRUZ - UNIMONTES, ARIELA MOTA FERREIRA - UNIMONTES, CLARECI SILVA CARDOSO - UFSJ, NAYARA DORNELA QUINTINO - UFSJ, ANA CAROLINA DE OLIVEIRA - UFSJ, LAURA AZEVEDO - INSTITUTO DE INFECTOLOGIA EMÍLIO RIBAS, CARLOS HENRIQUE VALENTE MOREIRA - UNIVERSITY OF CALIFORNIA, ESTER CERDEIRA SABINO - USP, DESIRÉE SANT’ANA HAIKAL - UNIMONTES


Apresentação/Introdução
A doença de Chagas (DC) é uma doença negligenciada e um grave problema de saúde pública. O diagnóstico e atendimento médico oportuno continuam sendo um grande desafio, além do desconhecimento de médicos quanto ao tratamento antiparasitário da DC crônica que tem sido apontado como causa para a não prescrição deste tratamento, mesmo entre pacientes que poderiam se beneficiar. A Atenção Primária à Saúde (APS) tem papel fundamental no manejo e acompanhamento adequado da DC.

Objetivos
Analisar a percepção dos médicos da Atenção Primária à Saúde (APS) quanto às suas práticas de diagnóstico e na condução do tratamento antiparasitário em portadores de DC, em um município de Minas Gerais-MG.

Metodologia
Trata-se de um estudo qualitativo, realizado em um município de grande porte (108.241 hab.) de MG cuja atividade industrial atrai muitos migrantes, oriundos de regiões hiperendêmicas, que são portadores de DC. O estudo faz parte da fase de implementação do projeto Centro São Paulo-Minas Gerais para tratamento da Doença de Chagas (SaMiTrop), estudo multicêntrico (CAAE 52967521.8.0000.0068/2021), financiado pelo National Institute of Health. Foram conduzidos dois grupos focais (GF) com médicos da APS do município, com a presença de um moderador e dois observadores. As falas foram gravadas e transcritas na íntegra e analisadas de acordo com referencial de Análise de Conteúdo segundo Bardin. A partir das análises preliminares, os resultados foram organizados nas seguintes categorias: 1) rastreio e diagnóstico, 2) tratamento e acompanhamento.

Resultados e discussão
Participaram um total de 22 médicos, sendo 13 mulheres, a maioria abaixo de 31 anos de idade, com no máximo seis anos de formados e de 1 a 5 anos de atuação no município. Quanto ao rastreio/diagnóstico o desconhecimento da distribuição epidemiológica do município prejudicou o rastreio da DC. A maioria dos médicos não esteve atenta à possibilidade de diagnóstico de DC, possivelmente por estarem atuando em região não hiperendêmica. Segundo relatos dos médicos da APS, mesmo diante de alterações cardíacas, muitas delas sugestivas da DC, os profissionais não suspeitam do diagnóstico e não fazem uma anamnese mais completa para identificar a procedência do paciente e histórico de familiares acometidos. Quanto ao tratamento/acompanhamento, os resultados apontaram lacunas relacionadas à falta de conhecimento sobre o único medicamento antiparasitário disponível no Brasil, o benzonidazol (BZN). Os médicos relataram insegurança em sua prescrição, possuíam pouca/nenhuma experiência prática com o BZN e, na maioria das vezes, não conseguiam articular a teoria vista na graduação com a prática clínica, a exceção daqueles com atuação prévia em área hiperendêmica ou com experiências familiares. Apesar da existência do Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas (PCDT) da DC, 2018, a falta de conhecimento deste material, as deficiências relatadas na formação e as controvérsias quanto ao tratamento da DC crônica estão relacionadas às principais causas apontadas pelos participantes para a baixa prescrição deste medicamento.

Conclusões/Considerações finais
Conhecer adequadamente os sintomas clínicos e de agravamento da DC é fundamental para o cuidado em saúde, assim como ter acesso aos dados epidemiológicos da DC e da procedência dos migrantes do município. Essas condutas são importantes para reduzir o subdiagnóstico, contribuindo com a diminuição da invisibilidade da DC e diminuição do impacto negativo de um diagnóstico tardio. Assim como, as dificuldades na condução do tratamento antiparasitário da DC que podem contribuir com o agravo da doença. É necessário maior divulgação do PCDT e investimentos em ações de Educação Permanente em Saúde.