03/11/2023 - 08:30 - 10:00 COC9.2 - Racismo, formação e saúde II |
46620 - PRÁTICA DOCENTE COM MULHERES QUILOMBOLAS SOBRE SABERES DE MATRIZES AFRODESCENDENTES E TRADICIONAIS GEANNE MARIA COSTA TORRES - UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ (UECE), MARIA DO SOCORRO DE SOUSA - UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ (UFC), MARIA DE FÁTIMA ANTERO SOUSA MACHADO - FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ - CEARÁ (FIOCRUZ-CE), MARISTELA INÊS OSAWA VASCONCELOS - UNIVERSIDADE ESTADUAL VALE DO ACARAÚ (UVA), JOSÉ MARIA XIMENES GUIMARÃES - UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ (UECE), ANA PATRÍCIA PEREIRA MORAIS - UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ (UECE), ANTONIO GERMANE ALVES PINTO - UNIVERSIDADE REGIONAL DO CARIR (URCA), ANA PAULA RIBEIRO DE CASTRO - UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ (UECE)
Contextualização Relato de experiência que teve como cenário da ação uma comunidade quilombola com suas tradições, práticas culturais e sua ancestralidade negra, localizada em um Município do interior cearense. O Distrito possui uma equipe da Estratégia Saúde da Família, serviços de correios, posto de gasolina, duas escolas, cemitério, casa de farinha, Centro de Referência de Assistência Social (CRAS), igrejas católica e evangélica, além de outros empreendimentos comerciais, localizados no seu entorno. Sua renda gira em torno do comércio local, da agricultura familiar, com plantios de feijão, milho e mandioca, além do funcionamento da casa de farinha. A maioria das famílias depende dos programas federais ofertados pela Assistência Social.
Descrição A prática docente deu-se no Módulo Estágio de Docência, do Doutorado Profissional em Saúde da Família, Rede Nordeste de Formação em Saúde da Família, Universidade Estadual do Ceará (DPSF/RENASF/UECE). O Plano de Ensino e Aprendizagem vivenciado teve como tema “Saberes de matrizes afrodescendentes e tradicionais: diálogos com mulheres quilombolas sobre as práticas de cuidado em saúde”, organizado em três Oficinas: 1: Ser quilombola / Cultura, prática e costumes da comunidade quilombola; 2: Cuidado e saúde / valores do cuidar; saberes de matrizes afrodescendentes e tradicionais e 3: Políticas públicas de saúde (Política Nacional da Atenção Básica; Política Nacional de Saúde Integral da População Negra; Política Nacional de Educação Popular em Saúde), realizadas no CRAS. Buscou-se parcerias para fortalecer o processo de ensino e aprendizagem de forma significativa e interativa. Foram desenvolvidas atividades voltadas à reflexão crítica dos conteúdos abordados, como trabalhos em grupos, rodas de conversa, apresentação de vídeos, dramatização (demonstrações do cuidado tradicional), agregando-se atividades lúdicas como dinâmicas, músicas e construção de painel, fomentando diálogos sobre suas crenças, costumes, cultura e práticas de cuidado em saúde. No decorrer da ação, ocorreram quatro momentos de tutoria, 23 de fevereiro, 23 de março, 20 de abril e 18 de maio, trazendo orientações, motivações e suporte adequado e oportuno. A escolha pela comunidade deu-se por ser meu objeto de estudo no DPSF que busca valorizar a identidade negra e sua cultura nas múltiplas relações do cuidado.
Período de Realização Fevereiro a maio de 2023.
Objetivos Descrever a experiência docente vivenciada no Módulo Estágio de Docência com mulheres de uma comunidade quilombola do interior cearense na perspectiva dos saberes de matrizes afrodescendentes e tradicionais.
Resultados As oficinas realizadas nos dias 27 de abril, 11 e 18 de maio, das 13h30 às 15h30, permitiram momentos de reflexão, coparticipação e dialogicidade, instigando a percepção das mulheres quilombolas sobre suas memórias, cultura e práticas de cuidado. As narrativas e observações demonstraram orgulho das mulheres por serem quilombolas, realizando práticas de cura, por meio de rezas, benzimentos, entre outros ritos, sendo conhecedoras de diversas plantas para combater sinais e sintomas de doenças, principalmente, as mais idosas que perpetuam saberes, tradições e conhecimentos apreendidos pelos seus ancestrais. Na construção do Painel “Políticas públicas de saúde para comunidades quilombolas”, as mulheres comentaram sobre os serviços ofertados pela equipe de saúde e pelo Sistema Único de Saúde (SUS), ressaltando que estas populações ainda são muito negligenciadas pelas políticas públicas. As estratégias educacionais ancoradas nas metodologias ativas possibilitaram o compartilhamento de experiências e vivências, fundamentais para um novo pensar, agir e atuar na saúde. Para cada encontro, ofertou-se um café com afeto e música, solicitou-se avaliação, como a construção de uma carta, um cordel e uma mandala, de forma coletiva, além da distribuição de brindes na última oficina. Assim, problematizando, compreendendo e reinventando, desvelou-se maneiras criativas na prática docente, sustentada em atos acolhedores, integradores e reflexivos, tornando o processo educativo, leve, criativo e participativo.
Aprendizados A prática docente oportunizou a participação e o protagonismo das mulheres quilombolas, com seus saberes afrodescendentes e tradicionais no cuidado à saúde. As abordagens utilizadas no Plano de Ensino e Aprendizagem, conduzidas nos momentos de tutoria permitiram conexões potentes com as participantes, transitando com mulheres quilombolas com seus saberes tradicionais, práticas de cuidar/cuidado, histórias de vida, olhares atentos e amorosos, e muito para nos ensinar.
Análise Crítica A experiência permitiu (re)conexões, (re)construções e (re)encontros, entrelaçados de histórias e “causos”, seus múltiplos sentidos e significados no cuidar/cuidado de si e do outro, mas torna-se necessário e urgente dar visibilidade a esses corpos e territórios, valorizando seus saberes, dando voz às populações quilombolas, historicamente silenciadas.
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