Comunicação Oral Curta

03/11/2023 - 08:30 - 10:00
COC9.2 - Racismo, formação e saúde II

47992 - “TRABALHADORES TÉCNICOS SÃO A BASE DO SUS E SÃO MULHERES NEGRAS” - POR UMA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL EM SAÚDE FEMINISTA AFRO-LATINOAMERICANO-CENTRADA
IALÊ FALLEIROS BRAGA - ESPJV/FIOCRUZ, MÁRCIA VALÉRIA GUIMARÃES CARDOSO MOROSINI - EPSJV/FIOCRUZ, ISABELLA KOSTER - EPSJV/FIOCRUZ


Apresentação/Introdução
Neste estudo, cujo enfoque feminista afro-latinoamericano-centrado (Gonzalez, 1988) recai sobre as trabalhadoras técnicas de saúde. Parte-se do conceito ampliado de profissões técnicas de saúde (compreendidas como todas aquelas para as quais é exigido o nível médio de escolaridade) e se vale das pesquisas desenvolvidas no âmbito do Observatório dos Técnicos em Saúde (EPSJV/Fiocruz). Depreende-se, a partir desses estudos, que esse conjunto de profissionais preenche mais de 80% dos postos de trabalho na área da saúde, e que, dentre eles, cerca de 87% atua no SUS (CNES, 2018). Ainda, a grande maioria desses trabalhadores são mulheres negras. Finalmente, a oferta de educação profissional em saúde de nível médio é majoritariamente privada, correspondendo a mais de ⅔ das matrículas (INEP, 2018). A hipótese do estudo é que o investimento público em uma educação profissional em saúde pública, feminista afro-latinoamericano-centrada poderá alterar o cenário de baixo reconhecimento profissional dessas trabalhadoras e de precarização das condições e relações de trabalho na área.

Objetivos
Abordar as potencialidades de uma educação profissional em saúde que incorpore a perspectiva feminista afro-latinoamericano-centrada, com vistas à visibilização e valorização profissional e social das trabalhadoras técnicas de saúde, enorme contingente atuante no SUS.

Metodologia
Revisitar, a partir do enfoque feminista afro-latinoamericano-centrado, os resultados das pesquisas realizadas pelo Observatório dos Técnicos em Saúde (EPSJV/Fiocruz), único observatório na área da saúde cuja temática de pesquisa e disseminação científica é voltada prioritariamente ao trabalho, à formação e à discussão de políticas que afetam os trabalhadores de nível técnico em saúde no país (Santos Neto, 2012). Discutir, à luz desses resultados, potencialidades de uma educação profissional em saúde que incorpore a perspectiva feminista afro-latinoamericano-centrada.

Resultados e discussão
A partir da avaliação das políticas de formação profissional materializada nos recentes programas públicos, como o Pronatec e, em específico para a saúde, como o Programa Saúde com Agente, discutidos em profundidade pelo Observatório dos Técnicos em Saúde, bem como dos estudos apresentados por este observatório sobre as trajetórias formativas e os saberes relacionados aos trabalhadores técnicos de saúde, propõe-se a incorporação de uma abordagem feminista afro-latinoamericano-centrada na educação profissional em saúde, capaz de alterar o cenário de baixo reconhecimento profissional das trabalhadoras da área, bem como de precarização das suas condições e relações de trabalho.

Conclusões/Considerações finais
A imensa maioria dos trabalhadores que atuam nos serviços públicos de saúde é mulher, é negra e é formada pelo setor privado. Se o investimento público numa educação profissional pública fortalece o SUS, uma educação profissional "amefricana" (Gonzalez, 1988) fortalece as trabalhadoras desse sistema na interação com a luta feminista e antirracista no Brasil. As reflexões aqui propostas visam contribuir para a superação das relações tradicionais de dominação e submissão em nossa sociedade, e para a instituição de novas relações, pautadas na igualdade substantiva de gênero, bem como na afirmação do caráter multirracial e pluricultural de nossa cidadania.