03/11/2023 - 08:30 - 10:00 COC7.2 - Interseccionalidades na Comunicação e Saúde |
46233 - INTERSECCIONALIDADES NA ANÁLISE CRÍTICA DE DISCURSOS NA PUBLICIDADE DE ALIMENTOS MARIA CLÁUDIA DA VEIGA SOARES CARVALHO - INJC-UFRJ / ECA-USP, ENEUS TRINDADE BARRETO FILHO - ECA-USP
Apresentação/Introdução Mudanças no consumo alimentar mostram piora na alimentação do brasileiro nos últimos anos, o que, com o retrocesso na mudança de governo em relação à Insegurança Alimentar , nos leva a refletir sobre lógicas de comunicação e dominação de discursos sobre alimentos ultraprocessados. Na perspectiva de interseccionalidades, o direito à alimentação adequada juntamente com o direito à comunicação se insere no conjunto de Direitos Humanos, inseparáveis do direito à saúde.
A promoção de alimentação saudável e adequada no Sistema Único de Saúde (SUS) se fundamenta “[...] nas dimensões de incentivo, apoio e proteção da saúde e deve combinar iniciativas focadas em políticas públicas saudáveis, na criação de ambientes saudáveis, [...].” . Nesse sentido, buscamos analisar o discurso persuasivo de anúncios publicitários de alimentos. Utilizamos as três dimensões de análise de discurso crítica (ADC), inspriada na concepção dada por Norman Fairclough , seguindo quadro teórico revisado deste autor inglês, pelo trabalho de Resende e Ramalho , quais sejam: prática discursiva, prática social e texto, para entender a sedução de anúncios publicitários de biscoitos ultraprocessados infantis de baixo custo, para avaliar os descompassos entre a prática social instituída no governo sobre insegurança alimentar e a ação textual publicitária de tais produtos.
Assim, o que justifica é a desnaturalização de discursos e crenças que sirvam de suporte a um modo de dominação hegemônica nos meios de comunicação. Se, por um lado, o cenário socioeconômico e político brasileiro reifica uma valorização de consumo de alimentos ultraprocessados e produção de alimentos-comodities, por outro, iniciativas de políticas públicas de alimentação, a exemplo dos guias alimentares brasileiros, reforçam uma experiência mediadora de empatia e decolonialização.
Objetivos O objetivo foi analisar criticamente uma ordem de discursos de dominação gerados em anúncios publicitários de alimentos ultraprocessados (biscoitos) para população de extratos socioeconômicos mais baixos, tendo em vista o ethos desssas classes, nas mensagens e os descompassos entre a prática social instituída no governo sobre insegurança alimentar e a ação textual publicitária de tais produtos.
Metodologia Nossa estratégia metodológica foi utilizar a publicidade como fenômeno de transformações sociais e analisar aspectos simbólicos do consumo de biscoitos recheados infantis. Os biscoitos doces/recheados continuam entre os 20 alimentos mais consumidos. Foram selecionadas 4 marcas infantis de menor preço mais anunciadas (Passatempo, Trakinas, Plugado e Treloso) em páginas comerciais de grande visibilidade na internet (Americanas, Magazine Luiza e Extra). Em coleta transversalizada identificamos anúncios impressos veiculados em maio de 2023 na internet para ADC, conforme o objetivo previsto.
Resultados e discussão A análise crítica de discursos publicitários materializou a assimetria dos discursos hegemônicos de impacto social no consumo alimentar, aqui tratados no extrato infantil. A publicidade não cria desejos, mas foi fato que potencializou consumo quando levou ao público informações sobre alimentos de maneira sedutora. Fossem fictícias ou não, se mostravam alinhadas com os dados da Pesquisa de Orçamento Familiar , mostrando efeitos reais nos modos de comer e nos capitais operantes no jogo simbólico de consumo alimentar do brasileiro.
Em análise da ambiência, pudemos observar nos discursos 1) um aspecto confundidor tanto nos ambientes caseiros em família, quanto nos escolares. 2) Em relação aos diálogos, além de crianças, estão também dirigidos aos pais no que concerne fortificação de nutrientes. 3) Na categoria mensagens publicitárias, o conteúdo expressou ideário simplificado e raso de desenvolvimento social, um ethos homogêneo, que faz com que todos os possíveis consumidores aspeirem e desejem consumir biscoitos, embora seja um produto caro às classes sociais mais baixas. 4) Quanto às articulações com o ato do brincar, o valor simbólico demonstrou banalização da função de aprendizagem.
Os discursos na publicidade de alimentos demonstraram poder de sedução de marcas: a estética das marcas como fenômeno empírico certamente não muda o mundo, mas reposiciona simbologias em sua circulação midiática. As marcas mostraram uma expansão como indica Trindade e Perez e se tornam protagonistas, se firmando como elementos midiatizadores e formuladores de lógicas e práticas alimentares que favorecem a adesão de ultraprocessados nas dietas infantis.
Conclusões/Considerações finais Por fim, os materiais publicitários guardam contradições com as demandas atuais de Segurança Alimentar e Nutricional. Os discursos negligenciam a realidade brasileira e banalizam a problemática da inclusão social através de manipulação de aspirações e ilusios. A ADC alcançou uma lógica em um espaço discursivo hegemônico de convergência de interesses de grandes empresas de alimentos.
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