46594 - CARROSSÉIS DECOLONIAIS: MOVIMENTAR AS REDES PARA CONSTRUIR UMA CIÊNCIA DEMOCRÁTICA, UMA PSICOLOGIA LATINA E UMA SAÚDE EMANCIPATÓRIA ANTONIO CAIO RENAN SILVA PENHA - UFC, ALANA MARIA LOBO DE QUEIROZ PINHEIRO - UFC, ALINE PAIVA MARTINS - UFC, BRUNO SOUZA BARBOSA - UFC, ANA RAQUEL SILVA PATRÍCIO - UFC, MARIA MARIANA DE ANDRADE SILVA - UFC, LUCAS ARAÚJO DA SILVA - UFC, ÉRICA ATEM GONÇALVES DE ARAÚJO COSTA - UFC
Contextualização A constituição do que se considera ciência válida está mais próxima de formar muros do que pontes. Produzir e consumir esse saber franqueado permanece associado a um determinado grupo que paira acima da maioria, que possui linguagem própria e que cerceia quem e onde se pode entender ciência. “Os intelectuais, com a elitização da ciência, terminaram isolados, inatingíveis, desconectados do contexto social e não compreendidos pela comunidade em benefício da qual a atividade científica se justifica” (Bizzocchi, 1999, p. 29). Em outras palavras, o saber que se desenvolve pelo academicismo, sobretudo pelas Ciências Humanas e Sociais, esgota seu fim em colunas de plataformas científicas, pois tem perdido de vista os espaços de troca para além do cerco acadêmico. Nesse sentido, a construção de um saber democrático perpassa reconhecer de onde e para onde se destina o que temos produzido. Em se tratando de Psicologia, a comunicação na democratização da ciência encontra ruídos quando a colonialidade do saber privilegia o norte epistemológico. Essa armadilha da modernidade cria a ilusão de conhecimento que é desincorporado e deslocalizado de tal forma que de qualquer lugar do mundo é preciso “subir” para o Norte da modernidade a fim de adquirir conhecimento lícito (Walsh, 2003). Portanto, nessa migração intelectual obrigada, além de não se falar sobre América Latina e África, negligencia-se, ainda mais, os corpos que aqui habitam. Nessa ótica, o Eixo de Estudos Decoloniais do Programa de Educação Tutorial do curso de Psicologia da Universidade Federal do Ceará (UFC) atua na graduação como um espaço de trocas transversais e é gerido pelos próprios estudantes, sob tutoria. Nosso sul de inserção são as lutas por uma Psicologia Latino-Americana, marginal, decolonial, preta, indígena, LGBTQIAPN+ que, sobretudo, deve ser comunicada para se fazer vulgar-popular na vida das pessoas.
Descrição O projeto “Carrosséis Decoloniais” foi uma ação desse eixo e sua estruturação consistiu em uma série de três postagens no Instagram do Programa (@psicologiapet), cada uma com um tema disparador específico sobre Psicologia Decolonial e América Latina. A proposta surgiu como continuidade das ações de ensino (grupos de estudo) que o eixo promovia na própria UFC, mas que eram bastante solicitadas por pessoas de outros locais do país. Encontrada a limitação de ir ao encontro dessa demanda, construímos, em conjunto, outras possibilidades de comunicar e expandir nossas discussões, para que todes que quisessem acessar o que discutimos, neste ponto de encontro amplo que são as redes sociais, assim encontrassem.
Período de Realização A ação durou de setembro a outubro de 2022 e os temas trabalhados foram: “Por que decolonialidade?”; “Gênero, Sexualidade e Decolonialidade”; “E qual nosso papel enquanto psicologia?”.
Objetivos Nossos objetivos foram suscitar uma comunicação democrática de ciência em Psicologia, de maneira que o saber seja socializado como direito e seja permitido, também, como um aspecto da saúde. Ademais, visa-se garantir vias contra-hegemônicas de comunicar, atravessadas pela decolonialidade e pelas interseccionalidades, e que falem dos autores que na América Latina vivem e produzem.
Resultados Os resultados estatísticos foram fornecidos pela própria plataforma Instagram, onde obtivemos um total de 3031 contas alcançadas, entre novas e simultâneas, 166 compartilhamentos e 100 salvamentos. Além disso, alguns usuários engajaram comentando colocações sobre o conteúdo e/ou apoiando o projeto. Para além do numérico, obtivemos um panorama de como essa ação impactou os nossos modos de comunicar e trocar conhecimentos, estimulando todos os envolvidos a praticar uma releitura crítica do material e a reconstrução de um saber decolonial e interseccional que possa ser lido e democratizado. Os indicadores demonstram o impacto quantitativo e qualitativo no ocupar desse campo de disputa virtual.
Aprendizados Aprendemos, também, que a Psicologia Decolonial e Interseccional tem lugar na experiência das pessoas e suscita o diálogo. Dessa maneira, nós, enquanto possíveis profissionais da saúde coletiva, devemos tomar parte desses discursos postos à margem para apurar nossa escuta aos corpos e vivências que sofrem os efeitos da colonialidade, assim como movimentar os meios de comunicação com uma ciência que se faça entender, uma Psicologia que seja reflexo de nossa realidade e um fazer saúde que promova a autonomia e a conscientização.
Análise Crítica Logo, a partir dessas experiências, coletamos aquilo que Sodré (2017) afirmou como a essência do ato comunicativo, isto é, o comunicar alicerçado no “pôr em comum” que não permanece isolado, do contrário, troca constantemente com as experiências dos sujeitos e os elementos da cultura. Outrossim, retomar o supracitado termo “vulgar-popular” para analisar os efeitos que as Ciências Humanas e Sociais em saúde, quando endereçadas ao cotidiano, ao corriqueiro, ao vulgar da vida das pessoas, podem produzir ao tornarem-se instrumento de conhecimento e emancipação pelo saber desencastelado.
|