03/11/2023 - 08:30 - 10:00 COC7.2 - Interseccionalidades na Comunicação e Saúde |
47350 - INTERSECCIONALIDADE ENTRE O USO DE TECNOLOGIAS E A ESCOLARIDADE DE PESSOAS IDOSAS: O USO DAS CHAMADAS DE VÍDEO PARA COMUNICAÇÃO WANNY BYATRIZ DA SILVA BRANDER - UFPE, MARIA CLARA DA SILVA SANTOS - UFPE, VANESSA DE LIMA SILVA - UFPE
Apresentação/Introdução A Interseccionalidade é considerada como um campo teórico que transpõe-se aos questionamentos relacionados aos marcadores sociais de gênero, raça, sexualidade, idade e classe social que atingem significativamente as minorias sociais. Esta envolve discussões atuais referentes às desigualdades e segregações que denotam uma supremacia histórica hierárquica para heteronormativos, brancos e abastados que apresentam, inclusive, menos impactos negativos no envelhecimento quando relacionados a outros indivíduos (DA SILVA ALVES et al., 2020).
O acesso a tecnologias por pessoas idosas pode ser analisado sob a luz da interseccionalidade. No Brasil, a quantidade de idosos que acessam a internet aumentou de 24,7% em 2016 para 31,1% em 2017. Contudo, esse processo ainda não é considerado suficiente para afastar essa população da lista de "exclusão digital" (DINIZ et al., 2020).
O custo da exclusão digital é elevado, pois afeta a participação integral desses indivíduos na grande maioria dos aspectos da sociedade moderna, englobando os campos econômicos, educacionais, à saúde e até mesmo o engajamento cívico. Ainda no contexto do não acesso à cultura letrada em decorrência do analfabetismo funcional, que é uma diligência histórica a ser extinguida ao longo dos anos, o analfabetismo tecnológico também dificulta o acesso a direitos por pessoas que podem apresentar a mesma idade biológica, mas diferenças alarmantes nos níveis de autonomia e independência, saúde e participação social (GUIMARÃES et al., 2019).
Objetivos Caracterizar a interseccionalidade entre o uso de chamadas de vídeo para comunicação de pessoas idosas e características sociodemográficas.
Metodologia Foi realizado um estudo seccional junto a 454 pessoas idosas (60 anos ou mais) residentes em área coberta pela Estratégia de Saúde da Família em um Distrito Sanitário do Recife-PE. A coleta de dados foi realizada no período de outubro de 2021 a março de 2022 por meio de entrevistas. Foram analisados dados referentes ao uso de chamadas de vídeo para comunicação com amigos ou parentes (Nunca / Pouco frequente / Muito frequente) e sua relação com variáveis sociodemográficas (faixa etária, sexo, raça/cor, renda familiar e escolaridade) por meio de estatística descritiva (frequência absoluta e relativa) e teste qui-quadrado.
Resultados e discussão O uso da tecnologia de chamada de vídeo para a comunicação de pessoas idosas com amigos ou parentes apresentou-se inexistente em sua maioria (52,4%). Apenas 19,2% das pessoas idosas participantes do estudo referiram uso muito frequente desse recurso. A idade apresentou-se como fator associado ao uso de chamadas de vídeo na própria população idosa. À medida do aumento da idade, há uma redução do uso muito frequente desse recurso e o aumento do percentual de pessoas idosas que nunca usam a chamada de vídeo para se comunicar.
Muitos idosos consideram a tecnologia como inalcançável e isso ocorre por haver uma visão enraizada e equivocada de que o envelhecimento torna os indivíduos incapazes e improdutivos. Todavia, apesar de haver a infoexclusão desse grupo, simultaneamente, há a percepção de que a tecnologia é um meio capaz de proporcionar uma melhor qualidade de vida para ele (BORGES et al., 2022).
Não foram observados diferenciais significativos para sexo, raça/cor e renda familiar. Dentre as variáveis socioeconômicas, a escolaridade apresentou associação significativa com o uso de chamadas de vídeo. O percentual de pessoas idosas que nunca usam essa tecnologia aumenta de acordo com a diminuição da escolaridade, chegando a 76,1% entre pessoas idosas que nunca foram à escola.
O reduzido grau de escolaridade da pessoa idosa atinge a habilidade de compreensão de vocábulos e frases, principalmente no que se refere ao vocabulário utilizado na internet, sobretudo nomenclaturas estrangeiras. Ainda nesse contexto, grande parte das dificuldades e relutância quanto ao uso da internet e do computador possuem associação com acontecimentos de cunho cognitivo que são obstáculos para associar o idoso com a tecnologia da informação, incluindo a dificuldade de memorizar e relembrar comandos recebidos, além da redução, perspicácia visual, hipoacusia e problemas fonoarticulatórios (LIRA et al., 2019).
Conclusões/Considerações finais A população idosa apresenta pouco uso de chamadas de vídeo para se comunicar com amigos ou parentes e esse uso é reduzido com o aumento da idade. A escolaridade mostrou importante interseccionalidade com o uso dessa tecnologia entre pessoas idosas. Nesse sentido, foi evidenciado que quanto maior o nível de instrução educacional, mais comum é o acesso aos elementos tecnológicos e que as pessoas idosas com idades mais avançadas ainda precisam ser incluídas no mundo digital.
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