Comunicação Oral Curta

03/11/2023 - 08:30 - 10:00
COC5.3 - Racismo, marcadores sociais e o cuidado em saúde

46391 - CORPO, MODOS DE SUBJETIVAÇÃO E EDUCAÇÃO EM SAÚDE: RELATO DE PESQUISA COM PROFISSIONAIS DA ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE
AMANDA NATHALE SOARES - ESP-MG, MARIA FLÁVIA GAZZINELLI - UFMG, VÂNIA DE SOUZA - UFMG


Apresentação/Introdução
As práticas educativas em saúde, em geral, contribuem para a constituição de determinados modos de subjetivação e perpetuam uma racionalidade hegemônica que define hábitos de vida e (re)produz uma matriz identitária amparada no gerenciamento dos corpos. Para conformar novos modos de se operar a educação em saúde, há que se produzir outras apostas na formação dos trabalhadores de saúde, promovendo espaços de aprendizagem que incluam criatividade, sensibilidade e experimentação. Com a intenção de ensejar outros modos de subjetivação e promover novas formas de se realizar práticas educativas, nesta pesquisa, propusemos experimentações corporais a profissionais da Atenção Primária à Saúde (APS). Apostamos que experimentações corporais podem abrir caminho para o encontro-entre-corpos e para o deslocamento de subjetividades, podendo contribuir para uma educação em saúde mais permeável à singularidade das pessoas e à produção de vida.

Objetivos
Produzir outros modos de subjetivação junto a trabalhadores da APS para (re)invenção das práticas educativas em saúde

Metodologia
Realizamos 10 encontros com profissionais da APS de um município próximo a Belo Horizonte/Minas Gerais. Nos encontros, foram propostas experimentações corporais após as quais era realizada uma roda de conversa para discutir o que tocou cada participante. Participaram cerca de 15 trabalhadores da APS, com destaque para Agentes Comunitário de Saúde e enfermeiros. Para análise das experimentações corporais, apostamos na Pesquisa-Interferência cartográfica, produzindo dados por meio de observação, entrevista e fotografia. Pesquisa aprovada pelo Comitê de Ética.

Resultados e discussão
Compartilho duas composições de experimentações corporais que ora apontaram processos reprodutivos, reiterando normas e modelos, ora favoreceram a constituição de espaços criativos e sensíveis, contribuindo para que trabalhadores da APS pudessem experimentar encontros e romper com o que está dado.
1 Propusemos uma experimentação corporal cujo objetivo era encostar a bolinha em um maior número de participantes. Considerando que quem estivesse com a bolinha não poderia se mover, os demais precisariam criar estratégias para expandir o número de participantes tocados pela bolinha. Durante a experimentação, uma participante que se apresentou como gerente de unidade de APS pareceu operar com o cargo que ocupa. Em alguns momentos, ela buscou organizar o funcionamento do grupo: “Você não anda com a bola!”, “Manda!”, “Você fica!”. A tentativa de dirigir o grupo remontou um modo de intervenção pautado na ampliação do controle, com uso da norma e palavras de ordem. Os demais participantes, entretanto, não foram se movimentando a partir das exigências ordenadas, tampouco se constrangeram em seus modos de funcionamento; foram movidos pela motivação de tocar outros corpos com a bolinha. Isso apontou um modo de romper com disjunções, como gestor-trabalhador e profissional-usuário, que definem previamente a experiência em papeis prontos. Criaram-se ali vetores de desterritorialização, linhas de fuga que se esquivaram da relação hierárquica e redistribuíram os possíveis na situação, abrindo espaço para ativar fissuras nas formas já dadas de se relacionar e de se operar a educação em saúde.
2 Durante as experimentações corporais, muitos foram os momentos em que os participantes colocaram seus corpos a serviço de uma maquinaria treinada e estereotipada. Surgiram falas como “já fiz academia hoje”, “vou parar de pagar academia”, as quais insinuam uma concepção que enfatiza a domesticação e a funcionalidade orgânica do corpo e se destina a colocá-lo em movimento para expandir sua utilidade, limitando a experimentação de suas possibilidades inventivas. O corpo, como tal, atua por automatismos, se organiza pela definição dos seus órgãos e sofre por estar assim organizado, como um organismo. O organismo é o funcionamento dos órgãos por seus mecanismos de poder, que opera uma organização por julgamento e não por movimento. O julgamento condena, designa controle e submissão. No decorrer dos encontros, entretanto, os corpos foram se abrindo à produção de si, aos encontros com outros corpos e à descoberta de suas potências. Foram muitas as cenas de corpos se jogando ao movimento, como se as formas até então repetidas não lhes servissem mais. Cresceram experimentações em que foi possível a novidade e a produção de singularidade, fazendo fugirem sedimentações que, por vezes, capturam os seres durante as práticas educativas em saúde.

Conclusões/Considerações finais
Entre formas e forças, esta pesquisa abriu caminhos para percebermos o que se movimenta nas experimentações entre-corpos. As experimentações corporais fizeram movimentar as intensidades de um corpo, mobilizando uma potência subversiva que faz romper com os códigos e as classificações da educação em saúde. Constituir um novo plano de apostas exige que instauremos rachaduras nos estratos conceituais-experimentais da educação em saúde para intensificarmos o que há de mais belo em um encontro educativo: a produção de vida.