46904 - LIBRAS, SAÚDE E IDENTIDADE: O PAPEL DO APRENDIZADO NA LUTA CONTRA AS DIFERENÇAS SOB OLHAR DE ACADÊMICAS DE MEDICINA LORENA CORDEIRO DE ALMEIDA - FACULDADE DE MEDICINA DE OLINDA, ANA PAULA ROCHA DA COSTA - FACULDADE DE MEDICINA DE OLINDA, ANDRESSA JOYCE PEREIRA BISPO - FACULDADE DE MEDICINA DE OLINDA, JULIANA FIGUEIREDO SOBEL - FACULDADE DE MEDICINA DE OLINDA, OLÁVIO CAMPOS JÚNIOR - FACULDADE DE MEDICINA DE OLINDA
Contextualização A Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS) é considerada legalmente como meio de comunicação e expressão no país, contudo, não faz parte da grade curricular de muitas instituições de ensino superior (IES). Nesse cenário, a promoção da equidade para os usuários de LIBRAS é amplamente prejudicada, principalmente por barreiras impostas na comunicação por profissionais da saúde. Logo, a vivência desse idioma como parte da formação médica é fundamental para fortalecer o sistema único de saúde e minimizar as desigualdades enfrentadas por essa comunidade.
Descrição O presente relato descreve a vivência do aprendizado de LIBRAS na graduação de medicina, em uma IES particular do estado de Pernambuco. Nesse contexto, a LIBRAS compõe um dos conteúdos da unidade curricular (UC) Studium Generales e o eixo de formação geral e humanística do curso. A referida unidade é ministrada por professor intérprete e tradutor e de LIBRAS. No 4º semestre, os estudantes têm contato com conceitos básicos do idioma tais como, posicionamento de mãos, importância das expressões faciais, alfabeto, números, saudações, dias da semana, meses, além de reconhecimento de sinais fundamentais para a anamnese. Durante esse tempo, os discentes são estimulados a se comunicarem em LIBRAS e simularem diálogos comuns da relação profissional-usuário no cuidado em saúde, gravando e revendo os sinais utilizados e corrigindo os erros.
Período de Realização A experiência ocorreu durante uma UC de uma IES particular em Pernambuco, durante o 4º semestre do curso de medicina no período de 2021 a 2022.
Objetivos Refletir sobre o impacto do contato com a LIBRAS ao longo da formação médica a partir da experiência no curso de medicina.
Resultados As atividades desenvolvidas durante a UC forneceram oportunidades de contato com a LIBRAS, possibilitando maior proximidade entre o meio acadêmico e médico e as múltiplas características do processo de comunicação com a comunidade surda. As vivências possibilitaram a construção de um canal com essa população, através de cumprimentos básicos, apresentação pessoal, além de termos referentes aos sinais e sintomas relacionados à saúde. Em que pese o contato com o idioma trazer repercussões positivas para a formação médica, a carga horária total do curso destinada ao ensino de LIBRAS na IES é de apenas 20h. Nesse sentido, se faz insuficiente para o aprofundamento das habilidades comunicativas necessárias para compreensão, prática, assimilação e decodificação das palavras por meio dos sinais, principalmente no que tange à realidade do atendimento de qualidade à pessoa com deficiência auditiva. Sendo certo que a finalidade da unidade curricular não é a fluência em libras, mas o estímulo e a conscientização da importância da comunicação com esse grupo, percebeu-se um maior interesse por parte dos discentes em capacitar-se neste idioma para um atendimento qualificado e equânime.
Aprendizados A interação com o idioma capacitou, desenvolveu habilidades e trouxe para cada estudante a consciência do seu papel como agentes transformadoras de uma realidade de invisibilidade social nos serviços e na formação em saúde para a comunidade surda. Nesse viés, nota-se a importância das formações complementares e habilidades teórico-práticas para promover atendimento qualificado, dialogando com as práticas decoloniais no combate às diferenças e na construção de autonomia para a pessoa surda. Para além do aprendizado da própria LIBRAS, a vivência propiciou uma reflexão crítica a respeito da acessibilidade acadêmica, uma vez que é desconhecida a existência de alunos, professores e médicos que sejam surdos ou que atendem em LIBRAS nesta IES.
Análise Crítica As dificuldades em assegurar os direitos da pessoa surda dentro dos serviços de saúde são reflexos da invisibilidade social enfrentada por essa comunidade e, portanto, nega a existência desses sujeitos. A partir das vivências na IES, percebeu-se a falta de contato com esse grupo, mediante a ausência de alunos e/ou funcionários surdos na IES, bem como a inexistência de capacitação nessa língua para atendimento qualificado por parte dos profissionais de saúde que auxiliem na formação médica durante os estágios práticos. Destarte, surgem múltiplas reflexões sobre a efetividade do processo de ensino-aprendizagem dessa língua em um ambiente que não oportuniza a presença desse público, bem como não oferece uma carga horária teórico/prática suficiente que garanta que os futuros profissionais da saúde estejam capacitados para atender a essa população. Dessa forma, é imprescindível a formação de profissionais de saúde mais críticos e que coloquem em seu horizonte de construção profissional a reinvenção de formas de cuidado, a fim de garantir os princípios de universalidade, equidade, integralidade e o acesso ao sistema de saúde de todos.
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