03/11/2023 - 08:30 - 10:00 COC5.2 - Práticas de cuidado em saúde: relatos de experiência |
48252 - AS VIVÊNCIAS EM SALA DE PARTO NA FORMAÇÃO PRÁTICA DE ESTUDANTES DE OBSTETRÍCIA EM HOSPITAL DO SUS: RELATO DE EXPERIÊNCIAS DE UMA OBSTETRIZ DOCENTE GLAUCE CRISTINE FERREIRA SOARES - USP, NATÁLIA REJANE SALIM - UFSCAR, BIANCA ALVES DE OLIVEIRA ZORZAM - USP
Contextualização O Brasil é reconhecido internacionalmente pelos seus altos índices de cesariana. Em 2000, a taxa nacional era 37,8%, em 2009 ultrapassou 50%, em 2014 chegou a 57% e em 2017 estava em 55,7%, alcançando 56,3% em 2019 e 57,3% em 2020. E essas taxas não correspondem a uma melhoria nos indicadores de saúde materna e infantil, incluindo os de mortalidade e morbidade materna. Nesse sentido, de acordo com diferentes organismos internacionais e com as evidências científicas, investir em enfermeiras obstetras e obstetrizes está relacionado a melhores resultados na atenção obstétrica, diminuição das intervenções desnecessárias e maior satisfação das mulheres.
A OMS preconiza no seu documento “Recomendações da OMS para os cuidados durante o parto, para uma experiência de parto positiva” que é necessário a implementação do modelo de continuidade do cuidado oferecido por enfermeiras obstetras e obstetrizes durante o pré-natal, parto e pós-parto. De acordo com documento elaborado pelo Projeto Enlace (UNFPA, 2022) o fortalecimento de enfermeiras(os) obstétricas(os) e obstetrizes contribui diretamente para a meta dos três zeros: zero necessidades não atendidas de contracepção; zero mortes maternas evitáveis; zero violência e práticas nocivas contra mulheres e meninas. Nesse sentido, investir na formação de obstetrizes com olhar para uma formação pautada nas boas práticas e na experiência positiva de parto para as
mulheres, torna-se fundamental. No entanto, refletir sobre essa formação, buscando o cuidado centrado na mulher e a integralidade, é de suma importância para a transformação do modelo de atenção obstétrica. Ainda, analisar a influencia dos marcadores sociais na atenção obstétrica é necessário para uma formação pautada pelas demandas sociais das mulheres.
Descrição Relato de experiência de uma obstetriz docente com estudantes em estágio prático em sala de parto de um hospital público. Os estágios curriculares acontecem no último ano do curso de graduação em Obstetrícia. Compreendem um total de 240 horas por semestre, vivenciados em serviços públicos no município de São Paulo e municípios vizinhos. Fazem parte das atividades prestar cuidados durante o trabalho de parto, parto e pós-parto, além de aleitamento materno, cuidados com o bebê, entre outros. Nos dias em que não havia demanda de atendimentos, foram realizadas rodas de conversa e simulação realística sobre protocolos de urgência e emergência em Obstetrícia. Busca desenvolver habilidades, conhecimentos e práticas necessários para a formação de obstetrizes.
Período de Realização Fevereiro de 2023 a Julho de 2023
Objetivos Refletir sobre as experiências vivenciadas acompanhando estudantes prestando cuidados às mulheres durante o processo de parto e nascimento em hospital do SUS. Analisar a influência dos marcadores sociais no cuidado prestado às mulheres nos serviços de saúde obstétricos. Refletir sobre a centralidade da mulher no cuidado prestado por estudantes de obstetrícia e sobre as emoções que envolvem o processo ensino-aprendizagem nesse contexto.
Resultados Foi observado durante o período relatado um grande desenvolvimento de habilidades, não apenas de procedimentos técnicos, mas também de avaliação do processo de trabalho de parto, parto e pós-parto, desenvolvimento da autonomia e da crítica em relação aos processos. Em cada situação vivenciada, algumas perguntas parecem ser fundamentais: Qual foi o resultado do cuidado prestado? Como a mulher se sentiu? O que foi feito e o que poderia ser feito de forma diferente? Quais fatores sociais podem ter influenciado nesse contexto? Como promover um ambiente de ensino-aprendizagem com as mulheres exercendo seus direitos reprodutivos?
Aprendizados Os aprendizados são: é fundamental promover abertura de diálogo de forma horizontal entre estudantes e docente para garantir um processo de ensino-aprendizagem de qualidade; a realização de conversas sobre os protocolos de atendimento em temas da obstetrícia em conjunto com a equipe do serviço de saúde promove a aproximação entre a universidade e o serviço de saúde; ouvir as mulheres antes, durante e após o parto, com escuta ativa, buscando promover seus direitos de escolha durante o processo de ensino-aprendizagem contribui para formar profissionais com visão ampliada sobre os cuidados prestados.
Análise Crítica Nesse ambiente hospitalar e no contexto de procedimentos de habilidade técnica, é fundamental promover espaços de análise crítica sobre as demandas das mulheres atendidas. Questionar sobre a influência dos marcadores sociais da diferença e como a medicalização incide de diferentes formas nos corpos das mulheres, a depender de raça, cor, etnia, escolaridade e religiosidade é necessário para uma formação que respeita os direitos reprodutivos das mulheres e promove a centralidade da mulher no cuidado.
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