03/11/2023 - 08:30 - 10:00 COC4.3 - Familias, crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade |
46165 - POSSÍVEIS RELAÇÕES ENTRE O ACESSO À ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE E VIOLÊNCIA AOS ADOLESCENTES NO TERRITÓRIO MARIANA VASCONCELOS DOS SANTOS - UFMG, CRISTIANE DE FREITAS CUNHA GRILLO - UFMG, RENATO DINIZ SILVEIRA - PUC MINAS
Apresentação/Introdução A atenção primária à saúde (APS) tem papel fundamental no funcionamento comunitário, uma vez que busca conhecer a população em profundidade e se tornar um ponto de referência para a tessitura de uma rede de cuidado, principalmente através das unidades básicas de saúde.
O vínculo de adolescentes com os serviços de saúde é um tema que ainda circula aqui e ali nos corredores, provocando certo questionamento entre profissionais. Embora a porta de entrada aos cuidados desses sujeitos se dê pelas Equipes de Saúde da Família (ESF), sua presença parece ainda sustentada por demandas mais agudas e espaçadas do que a participação efetiva nas rotinas de prevenção e promoção à saúde.
A Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar (PeNSE) mostra que os índices da procura dos adolescentes por estes serviços avança a passos lentos, mantendo-se praticamente estável de 2015 a 2019, enquanto a autoavaliação desses jovens sobre o próprio estado de saúde parece piorar.
Como profissional formada e atuante na rede pública nutro interesse especial por este público. Ao longo deste percurso percebo como uma constante o desafio de articular políticas, assim como se maneja a clínica, na tentativa de alcançar algo da dor e também do interesse pela vida tão particular a cada um desses sujeitos. Minha percepção pessoal é a de que os adolescentes frequentam os espaços de saúde mais por estrita necessidade do que pela sensação de ter direito àquele cuidado, e talvez por isso o vínculo se comprometa tanto.
Reconhecendo a saúde como um processo infinitamente mais amplo e complexo que o oposto à doença, o tema da violência vem sendo pauta nesse campo de pesquisa. Quais as implicações da violência na manutenção ou perda da saúde das juventudes? O que faz com que adolescentes acessem ou não os serviços da APS?
Objetivos O objetivo principal deste estudo é verificar possíveis relações entre a violência aos adolescentes nos territórios da cidade de Belo Horizonte e o acesso à APS através das unidades básicas de saúde.
Para tanto, estamos trilhando um caminho no qual será necessário investigamos também o papel exercido pela APS frente à violência comunitária, através de trabalhos anteriores. Angariamos informações sobre o uso dos serviços da APS por adolescentes e escutamos, a partir de encontros com esses sujeitos, suas percepções acerca da saúde, políticas públicas, violências, território e sobre o que mais desejarem falar.
Metodologia O estudo está sendo desenvolvido em duas etapas e faz uso de metodologias complementares. Na primeira etapa analisamos dados quantitativos secundários, dos setores de saúde e de segurança pública, para verificar quais são e como se comportam em números ao longo do último ano no Brasil e no município de Belo Horizonte tanto as violências registradas quanto os acessos contabilizados de adolescentes às instituições da APS. A segunda etapa contará com Análise de Conteúdo dos dados qualitativos, obtidos através de grupos inventivos para escuta de adolescentes em todo o município e em diferentes pontos da cidade (escola, serviço de saúde, ponto de atividades culturais, etc.) dos quais participo enquanto pesquisadora.
Resultados e discussão A literatura estabelece como fator de risco aquele atributo que representa para um determinado grupo populacional maior potencial de agravo à saúde do que a outros grupos. Para o recorte de jovens, negros e provenientes sobretudo de territórios marcados pelas vulnerabilidade, a violência é um fator de risco ainda mais pronunciado. Para adolescentes a violência é um fator de risco à saúde, sendo comprovadamente a principal causa de morte por fatores externos. Ainda assim, são sujeitos que frequentam timidamente os serviços de saúde.
Ao escutar esses adolescentes falando sobre sua vida, percebemos que a APS figura ali como um possível recurso em resposta ao processo de adoecimento, mas raramente aparece no lugar da busca pela saúde. As atividades externas, em grupos e inclusive em outros territórios, figuram como escape para situações de violência que sofrem. Estes sujeitos priorizam a construção de resistências que ainda não passam pelas instituições, o que parece refletir um impasse entre o que se oferece como saúde e o que este público entende como cuidado. Há um dissenso entre os serviços oferecidos, sendo o mais mencionado a "consulta médica", sinalizando uma abreviação do conceito de saúde. Iniciativas de monitoramento e articulações comunitárias e de políticas em saúde se tornam invisíveis aos olhos dos adolescentes, o que talvez tire da APS a referência para eles nesses casos.
Conclusões/Considerações finais A relação entre a violência sofrida pelos adolescentes e o acesso deles à APS carece ainda de robustez. Levando em conta que este é um fator de risco já bem estabelecido à vida desses sujeitos, é preciso delinear estratégias de alcance à esta população que sejam mais efetivas e qualificadas. O caminho que vem sendo apontado por esta investigação é a construção de uma maior permeabilidade dos serviços às percepções dos adolescentes sobre saúde juntamente com uma presença mais ampla das políticas de saúde em outros pontos do território, aqueles frequentados por eles. Para construir um projeto de cuidado que os atenda, precisamos identificar e reconhecer as saídas particulares que os adolescentes formulam nos espaços onde efetivamente circulam.
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