03/11/2023 - 08:30 - 10:00 COC4.3 - Familias, crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade |
46314 - VIVÊNCIAS DA MATERNIDADE ADOLESCENTE PLANEJADA ENQUANTO POSSIBILIDADE DE PROTAGONISMO ADULTO VIVIAN STEFFEN HEIMERDINGER - FUNDAÇÃO MUNICIPAL DE SAÚDE DE SANTA ROSA, PATRÍCIA REGINA DE OLIVEIRA - FUNDAÇÃO MUNICIPAL DE SAÚDE DE SANTA ROSA, ELISIANE BISOGNIN - UNIVERSIDADE REGIONAL DO NOROESTE DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL, MARCOS ANTÔNIO LAMARQUE - UNIVERSIDADE REGIONAL DO NOROESTE DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL
Apresentação/Introdução A gravidez na adolescência é uma realidade cada vez mais presente nos serviços de saúde. Nesta fase da vida, a gestação pode representar a possibilidade de mudança e redefinição de papéis, especialmente quando não se percebe outra perspectiva a não ser o planejamento da maternagem como auto afirmação adulta. Acredita-se que a gestação e o cuidado com o filho exijam compromisso e dedicação e, inevitavelmente, este tempo será subtraído de outras vivências. Assim, as adolescentes ficam suscetíveis a possuírem uma baixa escolaridade e ausência de formação profissional, além de dificuldades para inserção no mercado de trabalho e empregabilidade com baixa remuneração.
Objetivos A presente pesquisa objetivou compreender a percepção de mães adolescentes acerca desta vivência em uma condição e escolha de gestação planejada.
Metodologia Fez-se um estudo de caráter descritivo e abordagem qualitativa em 6 ESFs do município de Santa Rosa/RS. A amostra foi composta por 11 mães na adolescência, com filhos de até 3 anos 11 meses e 29 dias, o ponto de corte preconizado na necessidade e dependência por cuidado de forma mais intensificada. A coleta de dados se deu por meio de uma entrevista semiestruturada gravada. Contou com autorização do Comitê de Ética Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul (parecer nº 3.619.279).
Resultados e discussão A partir da leitura e análise das entrevistas e do perfil das participantes, foram construídas três categorias temáticas que subsidiaram as discussões:
1.Representação sociocultural do Planejamento
O planejamento da maternidade foi consequência do que as adolescentes expressaram como desejo. Este ato, não foi associado a nenhuma reflexão ou avaliação sobre suas condições gerais para gestar e receber uma criança. Percebeu-se, uma discrepância entre o imaginário das participantes a respeito do que é planejar a maternidade e aquilo que efetivamente está descrito enquanto política pública de planejamento familiar. O planejamento transcende o desejo de gestar. Ele abrange assistências de saúde mais amplas, que se obtêm a partir do processo de informações e de educação ao casal e sociedade em geral. No estudo compreendeu-se como a maternidade lhes permitiu vivenciar o sentimento ilusório de autonomia, representado pelo poder de decisão sobre o seu próprio corpo planejando suas gestações.
2.O Discurso de Amadurecimento e Responsabilização
Para essas adolescentes o planejamento da gravidez além de externado do desejo, projeta-se em uma maturidade e responsabilização pressuposta por elas na aquisição de bens materiais e de consumo. A maternidade estaria a serviço de um desejo de mudança para uma experiência diferente e talvez capaz de preencher as lacunas sentidas, permeadas pela vulnerabilidade. O discurso de amadurecimento não estava legitimado na prática. Acreditavam que, mesmo sem autonomia, a maternidade pressupunha por si a condição de status adulto.
3.A Maternidade como continuidade do Ciclo Familiar de Vulnerabilidade
As influências culturais e afetivas foram fatores potencializantes para a construção dos significados que a gestação trouxe para cada participante, e permitiu que elas tratassem com normalidade tanto o momento precoce em que o planejamento da maternidade se deu, quanto a perspectiva de abandono de outros projetos em nome da manutenção da realidade social vigente. Houve o encorajamento e apoio do mundo externo a esta decisão, resultando em retaguarda suficiente para relegarem oportunidades de mudança no histórico familiar de vulnerabilidade. O apoio da família, mesmo que de forma inconsciente, amarrou as jovens a conduta repetitiva.
Conclusões/Considerações finais Buscou-se através de reflexões e discussões compreender de que maneira a vivência da maternidade planejada na adolescência estava representada no discurso enquanto perspectiva de um protagonismo adulto. Revelou-se tratar de escolhas conscientes, porém nem sempre consistentes, de implementar a maternidade como um projeto precoce suficiente para elas, em detrimento a outras interfaces da vida. Verificou-se que, no geral, desistiram voluntariamente da escola e da perspectiva profissional. E o fizeram sem previsão ou motivação de retomada. Esvaziou-se de possibilidades reais o desejo de oferecer um futuro diferente para seus filhos. Percebeu-se que, com histórico de poucas perspectivas, só foi possível a perpetuação da vulnerabilidade. A constatação de existir um entorno preparando sujeitos sem o livre arbítrio para escolhas engajadas, tornou relevante que os profissionais de saúde preconizem em suas práticas uma educação em saúde instigadora e questionadora da realidade em debate. E que isso seja possível ainda na infância, adquirindo caráter preventivo em relação às vulnerabilidades sociais legitimadas por laços de cultura e afeto.
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