Comunicação Oral Curta

03/11/2023 - 08:30 - 10:00
COC3.4 - Repensar metodologias no contexto das desigualdades sociais e a formação em saúde

48041 - TEORÍAS FUNDANTES E NOVAS TEORÍAS NA SAÚDE COLETIVA LATINO-AMERICANA: UMA SISTEMATIZAÇÃO DOS APORTES TEÓRICOS QUE MOLDEARAM O ESPAÇO E PERMITEM OUVIR NARRATIVAS OUTRAS
CRISTIAN DAVID OSORIO FIGUEROA - ISC-UFBA, ERNESTINA TECU - ISC-UFBA, MONIQUE AZEVEDO ESPERIDIÃO - ISC-UFBA


Apresentação/Introdução
O campo da Saúde Coletiva (SC) constitui uma ruptura com as tradições clássicas do Higienismo, da Saúde Pública tradicional e da Medicina Preventiva. Como estratégia de distinção foi necessário elaborar construtos teóricos. Autoras analisaram a produção científica na área identificando o afastamento desses construtos e pouca consistência teórica. Argumentamos a importância de sistematizar as diferentes correntes teóricas para a produção científica teoricamente densificada e compromisso ético-político da SC. Apontamos possibilidades teórico-metodológicas para o estudo dos problemas sociais pós-modernos e neocoloniais no século XXI.

Objetivos
Revisitar perspectivas teóricas clássicas e contemporâneas no estudo da Saúde Coletiva Latino-Americana. Identificar propostas teóricas capazes de responder novas questões no contexto dos problemas sociais pós-modernos e neocoloniais do século XXI.

Metodologia
Pesquisa teórico-reflexiva das principais teorias do campo da SC. As perguntas norteadoras foram: Quais os/as principais autoras/es das correntes de pensamento da SC na América Latina? Quais são as prováveis teorias capazes de abordar as novas questões para a SC no contexto latino-americano? Foram consideradas teorias clássicas e contemporâneas da área e as teorias feministas e decoloniais. Os resultados da revisão foram divididos em quatro corpus teóricos: o pensamento crítico em SC na América Latina, as teorias sociológicas clássicas e contemporâneas e as teorias (re)emergentes.

Resultados e discussão
Corpus de pensamento crítico em Saúde Coletiva na América Latina.
Os textos de Asa Cristina Laurell são fundantes para o entendimento da determinação do processo saúde-doença. Cecília Donnangelo inaugura a teoria do trabalho em saúde e a medicalização como produto sócio-histórico. Ricardo Bruno Mendes-Gonçalves estudou o trabalho em saúde para a compreensão da parcialidade política e seus limites práticos. Juan Samaja aportou elementos epistemológicos e ontológicos para o entendimento da saúde-doença.
Mario Testa foi fundamental para o estudo do planejamento como prática histórica e incorpora o poder como categoria explicativa da realidade. Por sua vez, Carlos Matus chama a atenção sobre o caráter normativo e vertical da planificação tradicional. Rivera e Artmann incorporaram a teoria de ação comunicativa de Habermas no planejamento.
A epidemiologia possui as vertentes: crítica (Pedro Luis Castellanos, Asa Laurell, Jaime Breilh, Naomar de Almeida-Filho e José Ricardo Ayres) e a epidemiologia sociocultural (Paul Hersch e Alejandro Cerón). Juan César García teve contribuições importantes sobre a educação médica e as ciências sociais em saúde.
Corpus de teorias sociológicas clássicas
Nos estudos da SC há uma epistemologia marxista que permite enxergar de formas diversas os desafios impostos pela modernidade e as formas de legitimação do poder político. Para o estudo do Estado e sua articulação com a sociedade civil tem sido importante Antônio Gramsci. Assim como os estúdios sobre as relações democráticas de Weber.
Corpus de teorias sociológicas contemporâneas
A fenomenologia é central neste corpus de teorias. A sociologia reflexiva de Pierre Bourdieu tem sido utilizada para a análise sócio-histórica das políticas públicas. A etnometodologia de Harold Garfinkel tem importância para mostrar a relação entre os níveis micro e macro na análise sociológica. O cuidado tem sido estudado desde os aportes de Félix Guattari, Heiddegger e Ricoeur. A epistemologia histórica de Georges Canguilhem é fundamental para compreender o caráter instrumental das práticas de atenção à saúde.
Corpus de teorias (re)emergentes para narrativas outras
O ressurgimento de teorias formuladas na última metade do século passado potencializa o estudo das experiências corporais do processo de determinação social da saúde-doença-cuidado. Essas teorias são capazes de sustentar narrativas outras aos discursos institucionalizados sobre saúde. Colocam em tensão nossos pressupostos sobre experiências de saúde em contextos racializados e situados na intersecção de sistemas de gênero, colonialidade, raça/etnia/cor, classe social, nacionalidade, capacitismo e idadismo, outros.
Destacamos os aportes sobre decolonialidade e a colonialidade do género, os aportes do pensamento do sul-global, as metodologias indígenas de pesquisa e os métodos pós-coloniais, as teorias feministas e, o marco da interseccionalidade como algumas das teorias com o potencial de oferecer narrativas outras sobre o processo de saúde-doença-cuidado.

Conclusões/Considerações finais
Revisitar as teorias ovulares que delinearam o espaço da Saúde Coletiva latino-americana é importante para a densificação das produções de conhecimento. Por outro lado, as novas teorias que vêm sendo incorporadas proporcionam a possibilidade de continuar amadurecendo o pensamento latino-americano e incorporar as perspectivas das/os que habitam a intersecção de múltiplas categorias sociais e encarnam as margens da ciência ocidental.