Comunicação Oral Curta

03/11/2023 - 08:30 - 10:00
COC3.3 - Mecanismos de equidade na formação: estratégias e vivências nas instituições

46547 - AS RESIDÊNCIAS MULTIPROFISSIONAIS EM SAÚDE E A (TRANS)FORMAÇÃO DA(O) PSICÓLOGA(O) NA SAÚDE PÚBLICA E COLETIVA
EMILLY SALA - UFBA, MÔNICA LIMA - UFBA


Apresentação/Introdução
As Residências Multiprofissionais em Saúde (RMS) se configuram como significativa estratégia para responder às questões levantadas a partir dos (des)encontros da atuação profissional da psicóloga/o e das diretrizes e modos de produção do trabalho preconizados pela saúde pública e coletiva. Propõem-se à formação qualificada dos/as diferentes profissionais da área da saúde, com base nos princípios e diretrizes do Sistema Único de Saúde (SUS) e nas orientações da Política Nacional de Educação Permanente em Saúde (PNEPS). No núcleo de práticas psicológicas, as RMS configuram-se como experiências que têm conseguido produzir efeitos de mudança na formação em saúde, formando profissionais com capacidade de desenvolver práticas afinadas com as necessidades e demandas do campo da saúde.


Objetivos
O presente trabalho objetiva analisar a literatura científica brasileira sobre a formação de psicólogas/os na e para a saúde pública e coletiva, por meio das residências multiprofissionais em saúde, considerando as rupturas, ressignificações e transformações advindas da experiência formativa.

Metodologia
Constitui-se de revisão de literatura que se deu pela busca de artigos completos nas plataformas de pesquisa Portal de Periódicos da CAPES, Biblioteca Virtual em Saúde (BVS) e Periódicos Eletrônicos em Psicologia – PEPSIC, utilizando as palavras-chave Residência Multiprofissional e Psicologia, combinadas pelo operador booleano AND. Como resultado, selecionamos 47 produções científicas, distribuídas entre os anos de 2007 e 2022. Destas, 34 produções discutem a atuação psicológica na saúde pública ou apresentam ações específicas realizadas por psicólogas/os residentes (28 são relatos de experiência sobre práticas profissionais em RMS) e apenas 13 trabalhos se propõem a discutir mais detidamente aspectos da formação profissional da psicóloga/o residente.

Resultados e discussão
Os estudos que abordam a formação e a atuação de psicólogas/os em RMS ressaltam, discutem e problematizam as articulações da psicologia com a saúde pública e coletiva. Um ponto de partida importante é a crítica direcionada à formação de psicólogas/os no âmbito da graduação, descrita, ainda, como uma formação voltada para a clínica tradicional, com poucos elementos e experiências dirigidos para o SUS e suas diversas possibilidades de inserção.
No entanto, a despeito da discussão em torno das lacunas formativas e das necessidades de investimentos na formação profissional, a maioria dos artigos encontrados tem como foco de discussão e análise a atuação nos contextos onde a residência ocorre, em detrimento do aprofundamento do debate sobre a formação nos diversos cenários de prática.
Uma característica que chama a atenção na análise da produção acadêmica, é a quantidade expressiva de relatos de experiência sobre a atuação profissional de psicólogas/os no contexto das residências multiprofissionais. Os relatos indicam a riqueza da experiência formativa e contribuem para a caracterização da prática profissional na modalidade das residências. Porém, não se propõem a realizar discussões e articulações teóricas mais robustas, apenas tangenciando esses aspectos. Ademais, enfatizam, de forma geral, a ampliação do fazer individual e clínico, para um fazer coletivo e diversificado, como uma comprovação do engajamento da práxis psicológica com as demandas dos contextos de atuação, aspecto este que merece ser interrogado e problematizado.
Finalmente, os estudos, que privilegiam a discussão da formação profissional de psicólogas/os no contexto das residências, avançam nas discussões em torno do encontro e das tensões geradas a partir dos conhecimentos e das vivências da saúde coletiva e a formação tradicional da/o psicóloga/o, dos profícuos movimentos de abertura e ampliação das práticas psicológicas nos diversos níveis de atenção e da produção do trabalho interdisciplinar e transdisciplinar em saúde. As RMS têm, portanto, conseguido impactar na formação profissional, por meio da gradual superação do desafio da psicologia de reprodução dos moldes de intervenção clássica individual, aproximando as práticas da realidade e das necessidades dos serviços que compõem o SUS.


Conclusões/Considerações finais
As produções analisadas têm contribuído para produzir sentidos em torno da ampliação das possibilidades de atuação profissional no campo da saúde, dando visibilidade às transformações advindas do encontro entre a formação clássica da/ psicóloga/o e os conhecimentos e vivências da saúde pública e coletiva. Nesse contexto, as RMS têm se caracterizado como espaços contra-hegemônicos de produção de rupturas e cuidado integral em saúde. No entanto, os estudos analisados indicam que a formação acadêmica a nível de graduação não tem sofrido impacto semelhante, ainda com predomínio da formação clínica clássica, e que o foco de análise tem recaído na atuação em detrimento da formação profissional, embora esses dois aspectos estejam intimamente imbricados, merecendo, portanto, novos estudos e análises.