47218 - A INTERSECCIONALIDADE NAS VIVÊNCIAS UNIVERSITÁRIAS E A POTÊNCIA GRUPAL: UMA EXPERIÊNCIA EM GRUPOS DE ACOLHIMENTO PSICOLÓGICO COM ESTUDANTES UNIVERSITÁRIOS MARIA CLARA ALBUQUERQUE RODRIGUES - UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ (UFC), EMANUEL MEIRELES VIEIRA - UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ (UFC), RODRIGO FERREIRA MACIEL - UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ (UFC), ALÉXIA DE CARVALHO GASPAR - UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ (UFC), TAMIRES DA SILVEIRA ALVES - UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ (UFC), JOÃO ANTÔNIO COSTA AGUIAR - UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ (UFC), MARIANA FERREIRA SILVA ROCHA - UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ (UFC), FRANCISCA THALYA FREITAS - UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ (UFC), JOSÉ DANNILO FERREIRA MARQUES ARRUDA - UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ (UFC)
Contextualização O presente relato de experiência se constrói a partir da participação das/os autoras/es em um Programa de Acolhimento e Incentivo à Permanência (PAIP) da Universidade Federal do Ceará (UFC), o Projeto Cuidado e Diálogo no Cotidiano Universitário - Escuta Ativa. Criado durante o período pandêmico, mais precisamente em abril de 2021, o projeto tem como objetivo principal a oferta de um grupo de apoio psicológico para os estudantes universitários, da UFC, que buscam por uma alternativa de cuidado e acolhimento do seu sofrimento no âmbito acadêmico, vinculado ao VIESES (Grupo de Pesquisas e Intervenções sobre Violência, Exclusão Social e Subjetivação).
Descrição O referido projeto tem como base a modalidade de acolhimento em plantão e o formato de grupo de encontros, de Carl Rogers, sendo os grupos facilitados por estudantes do curso de psicologia vinculados ao projeto sob supervisão. Os encontros são realizados uma vez por semana, com duração média de duas horas e as supervisões, também semanais, usam a ferramenta Versão de Sentido (VS), texto escrito em primeira pessoa em que as/os facilitadoras/es escrevem sobre o que houve de mais significativo no encontro, permitindo-se que o supervisionando descreva e aprecie a relação que estabelece com os grupos de uma forma significativa e presente.
Vale destacar que, ainda que haja uma contextualização inicial da proposta em relação ao sofrimento ligado ao cotidiano universitário, na prática, os conteúdos apresentados nos encontros extrapolam a dimensão deste cotidiano e chegam até os aspectos das vivências impactadas por um sofrimento advindo da realidade social, permeada pelas diversas formas de subjetivação e de violação presentes na comunidade discente.
Período de Realização O relato se refere ao período de funcionamento do projeto após a volta à modalidade de ensino presencial, mais precisamente ao segundo semestre de 2022 e ao primeiro semestre de 2023.
Objetivos Objetiva-se destacar a potência que reside no contato com outro e na promoção de um cuidado integral a partir das experiências acolhidas nos grupos, atravessadas por questões interseccionais e sofrimentos para além do contexto da universidade.
Resultados O grupo abordou temáticas diversas, como violências psicológicas, físicas, abuso sexuais, permanência em relacionamentos abusivos (amorosos ou familiares) e a experiência tornou-se fundamental para o desenvolvimento de um espaço onde discentes poderiam entrar em contato de forma segura e acolhedora com suas próprias questões psicossociais.
Para além desta possibilidade, o movimento em grupo também destacou-se como potencializador para a construção da possibilidade de integração com outros que experienciam também uma vivência constituída de forma ameaçadora para si. Neste contexto, o contato com o acolhimento e a possibilidade de mostrar-se vulnerável em um grupo se constitui também como um aspecto potencializador e agenciador de possíveis formas de resistência a ambientes hostis, sejam eles a própria universidade ou espaços para além dela.
Como exemplificação, uma participante relatou, a partir da resposta em um formulário de avaliação feito no segundo semestre letivo do ano de 2022, sua percepção sobre a experiência em grupo da seguinte forma: "[...] Após ouvir as histórias de cada pessoa e compartilhar um pouco da minha, foi confortante perceber o acolhimento, a ajuda e saber que não estamos sozinhos nessa caminhada da vida. Que compartilhamos sentimentos parecidos e que podemos ajudar o outro com o nosso olhar de vivência. Uma experiência gratificante e potente!"
Aprendizados Todos os aspectos abordados evidenciam a contribuição da prática relatada na composição de uma formação para além do fazer psicologia tradicional, ao possibilitar o contato com questões tão sensíveis e perspectivas metodológicas e práticas que convocam ao deslocamento e ao desenvolvimento de um olhar para além da superfície, construindo uma aprendizagem que vai de encontro com um fazer ético e em contraposição a uma realidade hegemônica.
Análise Crítica O contexto universitário é fundado em uma lógica neoliberal de produção, cobrança e competição, e dialoga com questões relacionadas a outros contextos de vida, como os processos de subjetivação e de violação engendrados pelo machismo, a misoginia, o racismo, a LGBTQIA+fobia, o capacitismo, entre outras problemáticas. Na atuação do projeto, observa-se a criação de uma clínica política enquanto abordagem ética, que ultrapassa os limites da prática clínica convencional observada na Clínica-Escola de Psicologia, perpassando o acolhimento, a escuta e o compartilhamento de vivências com a compreensão de que as questões individuais de saúde mental estão intrinsecamente ligadas a estruturas sociais, políticas e culturais mais amplas. Assim, é reconhecido que os problemas emocionais e psicológicos enfrentados pelos estudantes não são apenas o resultado de fatores individuais e/ou meramente acadêmicos, mas também são influenciados por dinâmicas de poder, desigualdades sociais e contextos opressivos.
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