47841 - A PRÁTICA PEDAGÓGICA DECOLONIAL NA GRADUAÇÃO EM PSICOLOGIA: RELATO DE EXPERIÊNCIA DE GRADUANDOS SOBRE O ENSINO-APRENDIZAGEM DA VIOLÊNCIA DOMÉSTICA. JANAINA RANGEL DE LIMA PORTO PINTO - CENTRO DE SAÚDE ESCOLA GERMANO SINVAL FARIA/ENSP/FIOCRUZ, GISELI NOGUEIRA DAMACENA - CENTRO UNIVERSITÁRIO AUGUSTO MOTTA, RAIANE BARRETO TEIXEIRA GONÇALVES PEREIRA - CENTRO UNIVERSITÁRIO AUGUSTO MOTTA, CAMILY VIRGÍNIA PEREIRA DOS SANTOS - CENTRO UNIVERSITÁRIO AUGUSTO MOTTA
Contextualização Compreendendo a influência europeia na história da psicologia, e o modo como as racionalidades coloniais se refletem em suas práticas de ensino e bases epistemológicas, torna-se possível reconhecer a potência de uma metodologia ativa no ensino da psicologia. Conforme destaca Martin Baró (1986/2011), as teorias psicológicas hegemônicas na América Latina possuem diversos problemas, entre eles, a adoção de uma epistemologia construída a partir da perspectiva do dominador.
A Psicologia Social (PS) tem como aspecto principal estudar as relações dos sujeitos com seu meio e como esse meio os influencia e transforma. Segundo Silvia Lane (1981,1984), a PS considera a transformação da sociedade e a produção de conhecimento sobre o ser humano e suas relações, “ser um agente em sua história” distanciando-se de práticas que contribuam para desigualdade.
Todavia, segundo o Conselho Federal de Psicologia (2013, p. 47), uma pesquisa
nacional sobre a atuação de psicólogas(os) no programa de atenção a mulheres em situação de violência, apontou despreparo na formação profissional. De acordo com Souto e Castelar (2020), a atuação de psicólogas(os), sem a devida preparação teórico-metodológica gera reprodução de padrões de uma prática psicológica discriminatória e patologizante, e adiciona-se ao pensamento de Rocha Aguiar e colaboradores (2021), pois citam a fragilidade na formação profissional que, muitas vezes, não inclui estudos sobre a violência e suas manifestações. Esse conjunto de ideias está na contramão para a construção de uma futura práxis psicológicas decolonial.
Descrição Este trabalho descreve a experiência de um grupo de alunos de graduação em Psicologia na Competência de Psicologia e Humanidades em uma universidade privada do Rio de Janeiro. Foram realizadas pesquisas em bases bibliográficas, estatísticas e artísticas para embasar os estudos epistemológicos sobre a violência doméstica. A metodologia da docente incentivou um processo de ensino-aprendizagem a partir do diálogo, com a articulação dos saberes de forma dinâmica, interativa, criativa, crítica e decolonial.
Período de Realização A experiência teve início em março de 2023 e perdurou até junho de 2023.
Objetivos Investigar e discutir a pluralidade dos subsídios que contemplam a violência doméstica, partindo de uma prática pedagógica crítica e decolonial para a construção do projeto final da competência.
Resultados Pode-se observar que o ambiente de ensino-aprendizagem implementado pela docente, diferente do cenário tradicional, que compreende o aluno como receptor das informações por meio de exposição e repetição, valorizou o diálogo e o pensamento crítico na construção do conhecimento sobre violência doméstica. Contribuiu para a problematização dos alunos sobre o tema a partir de diferentes camadas do sujeito e da sociedade, refletindo a realidade concreta. Tal fato, possibilitou a ruptura do pensamento colonial, por vezes naturalizados no processo de aprendizagem dentro dos cursos de formação em Psicologia.
O grupo desenvolveu apresentações orais, material didático, vídeos, rodas de conversa, e relatório final. Conceitos, dados e possíveis contribuições do psicólogo no contexto da violência doméstica, foram problematizados com um olhar emancipatório, vislumbrando a transformação social. Ainda foi possível perceber que o grupo abordou o assunto sob uma ótica da colonialidade do poder e a interseccionalidade de gênero, raça e classe, como fatores estruturais e determinantes para explicar os processos de violência.
Aprendizados A experiência ao longo do processo formativo do profissional tem impacto direto na construção de identidade profissional e futura atuação. O conjunto de situações que envolveram o projeto final da competência, estimularam uma reflexão sobre a violência como componente intrínseco às dinâmicas da estrutura social capitalista, para além de considerá la e naturalizá-la exclusivamente como comportamentos agressivos. É indispensável que a violência seja vista dentro de um modelo sistêmico, multicausal e complexo.
Uma experiência decolonial de aprendizagem, vislumbrando uma realidade diferente na formação do graduando em Psicologia, possibilita a contrução de caminhos para resistir e desfragmentar padrões hegemônicos no processo educativo. O caminho indica o trato da violência doméstica como uma vertente interdisciplinar, com troca de saberes, abordagem, e encaminhamento da vítima, a partir de um olhar plural dos profissionais, sem preconceitos ou julgamentos.
Análise Crítica Os processos educativos nas universidades, com frequência disseminam as posições dominantes, quando, na realidade, deveriam incentivar o caminho oposto, o que resulta na psicologização dos problemas sociais e na consolidação de uma cultura profissional que abandona na sua análise as dimensões históricas e políticas dos processos de violência. A educação não é imune às ações do capital, mas também é campo de disputa de sentidos transformadores e emancipatórios por uma práxis psicológica decolonial.
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