Comunicação Oral Curta

03/11/2023 - 08:30 - 10:00
COC10.2 - Análise Institucional e a multiplicidade de práticas na Saúde Coletiva

46374 - EDUCAÇÃO PERMANENTE EM SAÚDE, SABER DA EXPERIÊNCIA E PRODUÇÃO DE CONHECIMENTO: ALGUMAS FISSURAS NA ESCOLA DE SAÚDE PÚBLICA DO ESTADO DE MINAS GERAIS
THAIS LACERDA E SILVA - ESCOLA DE SAÚDE PÚBLICA DO ESTADO DE MINAS GERAIS, AMANDA NATHALE SOARES - ESCOLA DE SAÚDE PÚBLICA DO ESTADO DE MINAS GERAIS


Contextualização
Nos últimos anos, a Educação Permanente em Saúde (EPS) tem se consolidado como referencial teórico-metodológico-ético-político que orienta o trabalho na Escola de Saúde Pública do Estado de Minas Gerais (ESP-MG) e as ações de formação ofertadas a trabalhadores do Sistema Único de Saúde (SUS) de Minas Gerais, com destaque aqui para o Curso de Especialização em Saúde Pública (CESP). Institucionalmente, o CESP tem funcionado como um dispositivo produtor de outros modos de pensar, criar e fazer na ESP-MG, porque mobiliza o envolvimento de trabalhadores de diferentes setores e provoca discussões sobre questões relacionadas ao curso e à instituição. Orientadas pela EPS, nós, docentes da disciplina de Metodologia Científica, nos vimos diante de um impasse: havia um movimento vivo de incorporação dos pressupostos da EPS nas ações de formação desenvolvidas na ESP-MG, bem como uma atuação dos docentes do CESP marcada pela problematização dos cotidianos de trabalho e pela valorização dos saberes produzidos pelos trabalhadores do SUS. Entretanto, no âmbito da disciplina de Metodologia Científica e da produção dos Trabalhos de Conclusão de Curso (TCC), seguíamos reproduzindo modos instituídos de produção do conhecimento, mais orientados por um rigor acadêmico que reproduz a lógica de hierarquização de saberes e se fundamenta em um distanciamento entre trabalhador e produção de conhecimento.

Descrição
Relato de experiência do processo de reinvenção da disciplina de Metodologia Científica da Especialização em Saúde Pública da ESP-MG, orientado pela produção de interseções entre a EPS, o conceito de experiência proposto por Jorge Larrosa Bondía e a produção de conhecimento. Algumas perguntas orientaram o processo: Qual o lugar do trabalhador e de seus saberes na produção de conhecimento? Que tipo de conhecimento é produzido no trabalho? Por que a experiência e a EPS nos interessam na produção dos TCC? Tais questões orientaram as discussões e as atividades da disciplina, que envolveram as seguintes etapas: discussão dos conceitos de experiência e de EPS e a sua relação com a produção do conhecimento no SUS; identificação da questão de estudo a partir da problematização do cotidiano do trabalho; contextualização do aluno como trabalhador do SUS e sua relação/implicação com o objeto/questão de estudo; descrição da importância do TCC para o trabalho do aluno e da equipe, para o serviço e para os usuários; definição das categorias analíticas e do tipo de estudo para o desenvolvimento do TCC; discussão sobre o processo de escrita como uma experiência; compartilhamento de processos de escrita e de produção de conhecimento entre alunos-trabalhadores do SUS.

Período de Realização
2019 a 2023

Objetivos
Relatar os caminhos e as estratégias desenvolvidos para a incorporação dos pressupostos da EPS e dos saberes das experiências dos trabalhadores do SUS no processo de produção do TCC.

Resultados
O movimento de produzir interseções entre experiência, EPS e produção do conhecimento no SUS, na disciplina de Metodologia Científica, tem possibilitado romper com a lógica de distanciamento entre sujeito e objeto de estudo, ao dar lugar para a experiência e o saber da experiência no processo de produção de conhecimento, ao aproximar a elaboração do TCC daquilo que faz sentido para o trabalhador do SUS e ao contribuir para a ressignificação do processo de escrita, agora mais implicado com a produção de subjetividade.

Aprendizados
No contexto da ESP-MG, uma escola do SUS e para o SUS orientada pela EPS, torna-se premente realizarmos movimentos de desacomodação e de (re)invenção dos modos de atuação, convocando à problematização sobre os sentidos que as nossas práticas têm produzido junto aos trabalhadores do SUS. Na disciplina de Metodologia Científica, houve um processo de ressignificação da produção de conhecimento no SUS, contribuindo para o reconhecimento daquilo que afeta e inquieta, cotidianamente, os trabalhadores; a valorização da dimensão singular do processo de produção de conhecimento; e a incorporação, na elaboração do TCC, dos sentidos atribuídos pelo trabalhador ao seu cotidiano de trabalho e às questões que atravessam sua atuação.

Análise Crítica
A incorporação da EPS e dos saberes da experiência nos processos de elaboração de TCC tem revelado o quanto as clássicas formas de produção de conhecimento estão imbricadas nos modos de pensar-fazer dos alunos-trabalhadores e dos docentes, ficando evidente o estranhamento em relação à possibilidade de expressar saberes e experiências advindos do trabalho em uma produção científica. Outra questão evidenciada é a percepção de que há uma hierarquia entre o saber científico e o saber produzido no trabalho, a qual reforça a marginalidade e a deslegitimação daquilo que os trabalhadores produzem e fazem circular em seus locais de trabalho. A necessidade de romper com modos de produção de conhecimento instituídos torna-se premente no contexto de uma escola que tem em sua constituição identitária o compromisso com a valorização dos saberes e das práticas dos trabalhadores do SUS.