46684 - DESENCAMINHANDO A PESQUISA ATRAVÉS DA ANÁLISE INSTITUCIONAL: EXPERIÊNCIA DE FORMAÇÃO EM UM MESTRADO PROFISSIONAL ADRIANA RODRIGUES DOMINGUES - UNIFESP/BAIXADA SANTISTA, LUCIANE MARIA PEZZATO - UNIFESP/BAIXADA SANTISTA
Contextualização A disciplina introdução à Análise Institucional (AI), foi oferecida como disciplina eletiva no Programa de Pós-Graduação Ensino em Ciências da Saúde (Unifesp/campus Baixada Santista). Considerando tratar-se de mestrado profissional para atender demandas do mercado de trabalho, os/as estudantes são convidados/as a interrogar e refletir sobre sua prática profissional, consequentemente, tornando-se também pesquisador/a. Neste sentido, interrogamos a imposição de “distanciamento do objeto” imposto pela ciência. O que coloca em discussão uma possível neutralidade que orienta as pesquisas. Partindo da perspectiva da AI, que compreende que toda pesquisa é uma intervenção, no sentido de fazer “ver entre”, articulando teoria e prática, sujeito e objeto, produz-se outras possibilidades de se fazer e pensar a pesquisa.
Descrição Em se tratando de uma disciplina introdutória aos fundamentos da AI, houve uma preocupação inicial em trazer elementos que pudessem questionar os conhecimentos instituídos a respeito do projeto e campo da pesquisa, mas, sobretudo, da própria prática profissional. O conteúdo programático visava apresentar ferramentas que auxiliassem os/as estudantes-trabalhadores/as-pesquisadores/as a identificar os aspectos institucionais que influenciam sua prática e os dispositivos que permitem refletir e intervir sobre os processos institucionais. Como atividade avaliativa solicitamos o registro do percurso num diário e a produção de uma narrativa, dialogando com conceitos-ferramentas da AI e trechos do diário.
Período de Realização Foi ministrada durante o 1o. semestre de 2023, em formato remoto, via google meet. Participaram 25 estudantes-trabalhadores/as com formação em diferentes áreas: saúde, educação, assistência social e segurança pública.
Objetivos Relatar reflexões que derivam de uma disciplina introdutória de Análise Institucional, oferecida num Mestrado Profissional para um grupo de trabalhadores/as de diferentes serviços.
Resultados Iniciamos apresentando a história da AI na França e no Brasil, destacando as experiências que aconteceram, sobretudo, entre as décadas de 1960 e 1980. Entender a gênese teórica e a gênese social da AI importa para a explicitação da relação entre a formação de saber de uma determinada época, as disputas e jogos de poder vigentes e as práticas sociais que deslocam saberes e poderes. Coloca em evidência os lugares que ocupamos em cada momento histórico e as condições que são dadas para a ruptura de práticas profissionais cristalizadas. Inspiradas nesta ideia, contamos com a participação de uma professora convidada na 2a. aula, com o tema: Desencaminhando a pesquisa através da AI. Partimos da ideia de que a pesquisa não se separa de sua dimensão ético-política. Isto significa assumir que não se produz conhecimento seguindo protocolos e roteiros previamente estabelecidos, desvinculados da relação que o pesquisador tem com a vida e as instituições que o atravessam (RODRIGUES, 2006). Na 3a. aula, com a presença de um professor convidado, trabalhamos com os principais conceitos da AI: instituição, instituinte, instituído, analisador e implicação, que operam como ferramentas e colocam em análise a relação que os/as trabalhadores/as estabelecem com seus processos de trabalho. Na 4a. aula trabalhamos com a abordagem da pesquisa-intervenção e da construção de um diário como ferramenta de análise de implicação com e na pesquisa. A escrita diarística opera no plano dos acontecimentos e acompanha o processo da pesquisa, assumindo um lugar de “não saber”, possibilitando que o/a pesquisador/a seja surpreendido pela experiência e produza novas intercessões e novos sentidos (LOURAU, 1993; 2004). Na 5a. aula discutimos o conceito de dispositivo e de grupo como dispositivo de ação, a partir das contribuições de Foucault (1979) que problematiza tanto sua natureza quanto sua função estratégica. Para Deleuze (1996), o dispositivo é capaz de criar linhas de ruptura e fratura que o compõem, o atravessam e o arrastam sobre o mapa que ele pretende configurar. É nesta direção que apostamos na potência disruptiva dos dispositivos grupais para instalar novos sentidos, tensionar e desfazer códigos, movimentar-se para outros lugares, agenciar e produzir novas conexões, deslocando-se num campo de afecções contínuas (BARROS, 1996).
Aprendizados Refletimos como estamos imersos em atos de submissão ao instituído, mesmo quando nos propomos a interrogar nossas práticas, subverter a ordem, desencaminhar a pesquisa. É imprescindível desconstruir padrões e perspectivas impostas e trabalhar com a pluriepisteme, com horizontalidade e conexões possíveis.
Análise Crítica No debate surgiu a discussão de possíveis articulações com o pensamento decolonial, considerando a escravidão como um analisador potencial dos modos de formação das normas, lógicas, forças e práticas sociais. Na última aula abordamos o tema da análise de práticas institucionais e finalizamos com uma atividade de relatos individuais do percurso.
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