Comunicação Oral Curta

03/11/2023 - 08:30 - 10:00
COC10.2 - Análise Institucional e a multiplicidade de práticas na Saúde Coletiva

47732 - SUPERVISÃO DISTRITAL ENQUANTO DISPOSITIVO FACILITADOR DE PRÁTICAS NO CUIDADO COMPARTILHADO
CAMILLA CASTILHO ROCHA LESSA - FEMAR, IZADORA DOS SANTOS PRAÇA - FEMAR


Contextualização
A Supervisão Distrital surge na cidade de Maricá, no estado do Rio de Janeiro em Maio de 2021, num momento de implantação das Equipes Multidisciplinares em Atenção Psicossocial (EMAPS) enquanto dispositivo da Rede de Atenção Psicossocial, baseada no modelo das AMENTS (Equipe Multiprofissional de Atenção Especializada em Saúde Mental), equipes contempladas na Portaria número 3588/2017 (SUS).
​Apesar de prevista numa Portaria em que retrocessos à Reforma Psiquiátrica são observados, a RAPS do município de Maricá, entendendo a necessidade de ofertar cuidado em Saúde Mental de média complexidade de forma mais efetiva e integral, faz uso dessa para oportunizar o desmonte dos Ambulatórios de Saúde Mental Tradicionais para um molde de assistência junto à Atenção Primária, de forma itinerante e integrados nas Unidades de Estratégia em Saúde da Família. A ideia da EMAPS é um trabalho direto com as equipes das USF, apoiando através de interconsultas, matriciamento, construindo um Projeto Terapêutico Singular na direção do cuidado compartilhado.
​Ocupar esse espaço trouxe também desafios, pois propõe numa lógica de cuidado contra hegemônico, rompendo com a forma de cuidado tradicional também das equipes de Atenção Primária que são provocadas a lidar com as demandas da Saúde Mental com mais implicação. Pode-se notar um distanciamento importante no que tange à essas demandas por parte dos profissionais que têm como prática os encaminhamentos à especialidade, o que não oportunizava o exercício nesse cuidado.
​Sendo assim, visando promover aproximação, sensibilização e capacitação nos manejos de práticas antimanicomiais em Saúde Mental, foi proposto o espaço da Supervisão Distrital, a fim de ampliar a prática da supervisão clínico-institucional, já bastante difundida entre as equipes da RAPS, fundamental para manter direções de trabalho éticas, baseada nos conceitos dos SUS e Reforma Psiquiátrica.

Descrição
A Supervisão Distrital ocorre mensalmente, nos 4 Distritos da cidade - acompanhando a divisão das áreas programáticas em Saúde -, tem duração de 3 horas e, em seu formato inicial, eram mediadas pela Supervisora Clínico Institucional das EMAPS. Mas, à partir do segundo semestre do ano de 2022, considerando o fomento do protagonismo nos casos pelos CAPS e pelas ESF (com apoio das equipes dos NASF), os supervisores dos demais dispositivos da RAPS se alternam nesse espaço, trazendo novas formas de discurso por diferentes perspectivas, de acordo com a posição e mandato de cada um dos serviços.

Período de Realização
Início em Maio de 2021 e continua sendo realizada.

Objetivos
O objetivo das Supervisões Distritais é promover, através de discussão de casos emblemáticos e/ou temas pertinentes ao cuidado no território, ressaltando seus marcadores sociais e diagnósticos epidemiológicos; refletir sobre o processo de trabalho e seus atravessamentos; e integrar as mais diversas redes de cuidado. São convidados não somente os trabalhadores da Saúde, como também serviços da Assistência, Educação, Segurança, Cultura, entre outros que possam contribuir numa lógica de integração desses atores nos desafios percebidos.
Levando em conta a extensão maricaense, visando facilitar o acesso e conhecer mais de perto a realidade de cada território, as reuniões acontecem nos mais variados lugares como escolas, espaços religiosos, arenas esportivas, etc. Esse movimento auxilia também no exercício de integração à cidade.

Resultados
Ao longo do processo, pode-se notar uma maior participação não somente quantitativa, mas qualitativa dos trabalhadores em saúde nesse espaço. Observa-se um discurso mais pertencente e uma postura mais propositiva e criativa daqueles presentes. Além do apoio da Gestão que hoje percebe a potência do espaço enquanto prática de educação continuada e maior responsabilização dos participantes.

Aprendizados
As mudanças propostas e realizadas durante o tempo de construção desse espaço ocorreram sempre na direção de promover corresponsabilização do cuidado, maior integração entre as equipes e análise das demandas territoriais. Para isso, foi importante provocar a circulação da palavra e deslocamento do lugar de saber somente na figura dos supervisores; o uso de uma linguagem técnica, porém mais acessível a trabalhadores de todos os níveis de especialidade; alternar o protagonismo dos serviços na apresentação dos casos e temas sugeridos submetidos à supervisão; apoio das gestões locais para incentivo da participação dos profissionais de todas as unidades de saúde.

Análise Crítica
Fica clara a importância de manter também o espaço de Supervisão Distrital em discussão, incluindo nas conversas mensais que a ideia é que seja um dispositivo composto e construído por todos, trazendo para a prática a ideia da Análise Institucional, em movimento instituinte.