03/11/2023 - 08:30 - 10:00 COC11.2 - Idadismo, gênero e violação de direitos |
46120 - REDES DE SOCIABILIDADE LÉSBICA NA CIDADE DE BELO HORIZONTE ENTRE OS ANOS 1970 E 2000: A POTÊNCIA DOS VÍNCULOS DE AMIZADE SE MATERIALIZANDO EM SAÚDE JANICE APARECIDA DE SOUZA - UEMG, ALESSANDRA SAMPAIO CHACHAM - PUC MINAS
Apresentação/Introdução Um estudo longitudinal iniciado em 1938 na Harvard Medical School, acompanhou, durante 75 anos, a vida de 724 pessoas e constatou a importância que os relacionamentos gratificantes adquirem em nossas vidas. O estudo, que teve como objetivo conhecer o que mantém as pessoas saudáveis e felizes ao longo da vida, apontou a importância das boas relações e concluiu que uma vida boa se constrói com boas relações, envelheceram melhor aquelas pessoas que tinham com quem contar e se apoiaram nas relações com a família, com os amigos e com a comunidade.
Tal estudo corrobora o encontrado na tese Vivências lésbicas na cidade de Belo Horizonte entre as décadas de 1970 e 2000: um retrato falado. Se a saúde depende de vários fatores que se interseccionam, a qualidade dos relacionamentos construídos constituiu-se em um importante pilar de apoio e nutrição em um dos três grupos de lésbicas que pesquisamos, o que aconteceu graças aos relacionamentos que foram construídos na juventude e que se mantém na velhice.
Trabalhamos com mulheres nascidas entre os anos 1933 e 1960 e as dividimos em três grupos: um composto pelas jovens de outrora que compuseram um conhecido grupo que transitou pela cena homossexual belorizontina entre os anos 1970-1990, o Vila Sésamo , e que na velhice constituem uma Confraria, a essas identificamos com conhecidos nomes da literatura mundial; outro composto por proprietárias de bares e boates destinados a receber o público homossexual à época, identificadas com nomes de deusas mitológicas; e um terceiro grupo escolhido aleatoriamente, bastava que tivessem pelo menos 60 anos e frequentado os espaços destinados a receber o público homossexual na cidade de Belo Horizonte, a elas atribuímos nomes de flores.
Eram mulheres que sustentavam a invisibilidade da homossexualidade feminina, tema clássico e caro aos estudos sobre dissidências sexuais, tal invisibilidade pode ser analisada sob a ótica de uma deliberada atitude para autoproteção, dentro do armário elas se protegiam de situações embaraçosas. Uma das entrevistadas - Capitu - afirmou que a invisibilidade das lésbicas da sua geração tem relação com o medo de não serem aceitas na sociedade, de sofrerem “bullying e até agressão”, para ela “expor-se sendo diferente te coloca em uma vitrine para os outros atirarem pedra”.
Há que se considerar que a invisibilidade se relaciona com as dinâmicas que estão postas na sociedade; se intersecciona com outras questões para além do sexo e do gênero; abarca idade, estratificação social, raça e funciona como um dos instrumentos para a manutenção de poder, o qual está fortemente alicerçado na lógica neoliberal derivada do modo de produção capitalista. Para perscrutar esse restrito universo recorremos aos estudos decoloniais que têm iluminado possibilidades de entendimentos mais amplos, a partir da inclusão de novas pautas e perspectivas que escancaram a necessidade da incorporação da luta política, colocando no centro a imprescindível pauta da desigualdade, do poder e a necessidade de dar visibilidade a grupos historicamente subalternizados. Para Lugones (2020), é central compreender a chave da heterossexualidade dentro do sistema moderno colonial, porque o que se entende enquanto heterossexualidade foi construído e não tinham o peso e o significado social, econômico e político que adquiriam na contemporaneidade.
Objetivos Analisar a importância das redes de sociabilidade e solidariedade como fonte de suporte identitário e social e verificar se na velhice, as redes construídas na juventude, ainda existiam e atuavam nesse sentido.
Metodologia Entrevistas em profundidade para colher suas histórias de vida, a seleção as participantes foi por meio da técnica do “snowball” ou bola de neve, na qual as entrevistadas vão indicando outras com as mesmas características.
Resultados e discussão O contato com as entrevistadas escancarou, além da já propalada invisibilidade lésbica, principalmente entre mulheres mais velhas, o valor e o impacto, sobre suas vidas, das amizades que foram construídas e mantidas.
Conclusões/Considerações finais Se entre várias, a ausência de vínculos retroalimentados na convivência foi determinante para trajetórias de vidas menos solares, entre aquelas que compuseram a turma do Vila Sésamo a manutenção dos vínculos e a jovialidade nas relações se mantiveram preservadas, elas envelheceram de forma mais saudável e seguem celebrando a vida e apoiando umas às outras.
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