03/11/2023 - 08:30 - 10:00 COC11.2 - Idadismo, gênero e violação de direitos |
47557 - O ACOLHIMENTO DE PESSOAS TRANS EM SERVIÇOS DE SAÚDE - UMA ANÁLISE QUALITATIVA CAIO BARRETTO ANUNCIAÇÃO - USP-SP, MILTON ROBERTO FURST CRENITTE - USP-SP, WILSON JACOB FILHO - USP-SP
Apresentação/Introdução A pobreza, opressão sexual, racismo e exclusão social estão ligadas à vulnerabilidade em saúde no Brasil. Bairros ricos têm maior expectativa de vida do que áreas menos favorecidas. Envelhecimento é mais favorável para pessoas brancas em São Paulo do que para pretas e pardas. Pessoas transgênero enfrentam marginalização, discriminação e acesso limitado a educação, segurança e saúde. Muitas recorrem à prostituição, resultando em violência e mortalidade prematura. LGBTs têm pior acesso à saúde e menor realização de exames preventivos. Unidades de saúde adaptadas são necessárias para grupos minoritários. Interseccionalidade e estudos qualitativos são importantes para entender e melhorar a saúde dessas populações.
Objetivos Primário:
Descrever e avaliar o discurso de pessoas transgênero na busca por indicadores que elas considerem necessários para qualificar um ambulatório ou serviço de saúde como acolhedor à diversidade.
Secundário:
Elaborar propostas para a implementação de serviços de saúde com atenção focada em pessoas transgênero com 40 ou mais anos de forma mais acolhedora.
Metodologia DESENHO: Foi realizado um projeto de pesquisa qualitativa com pessoas transgênero com 40 anos ou mais. Serão organizados três encontros, incluindo um grupo focal com 4 a 6 participantes. Foram abordados benefícios e desafios para a promoção da saúde. Os discursos do grupo focal foram gravados e analisados posteriormente. Os resultados foram apresentados e discutidos com os participantes.
POPULAÇÃO: A pesquisa incluiu pessoas transgênero com 40 anos ou mais, atendidas no Centro de Cidadania LGBT da região Oeste de São Paulo. Os critérios de exclusão são pessoas não transgênero, com menos de 40 anos, que não são atendidas no centro ou que recusem a assinatura do termo de consentimento.
ROTEIRO DO QUESTIONÁRIO: O questionário incluiu questões socio-demográficas, seguidas pelo grupo focal. As perguntas abordaram o seguimento médico, discriminação em serviços de saúde, atendimento por profissional transgênero e características de serviços de saúde acolhedores à diversidade.
ANÁLISE: Foram realizadas gravações em áudio do grupo focal, com notas escritas sobre expressões e linguagem não verbal. Foi feita uma análise qualitativa dos discursos, identificando palavras-chave e características de serviços de saúde acolhedores. Foi elaborado um relatório unificado com as informações do grupo focal.
METODOLOGIA: O roteiro semi-estruturado foi elaborado conforme o guia COREQ, recomendado pela Red Equator e OPAS. O guia consiste em 32 itens que orientam a elaboração de entrevistas e grupos focais.
Resultados e discussão Foi formado um grupo focal por quatro voluntárias assistidas pelo Centro de Cidadania LGBT+ Cláudia Wonder. Após, apresentado o TCLE, foi realizada a entrevista com o grupo focal em sala privativa no Centro de Cidadania LGBT+ Cláudia Wonder, na presença dos pesquisadores Caio e Milton, além das quatro participantes ( primeira 47 anos, segunda 58, terceira 49, quarta 41). Durante o transcorrer da entrevista, uma das participantes optou por interromper a sua participação e retirou-se da sala. A entrevista seguiu com os dois pesquisadores e as três voluntárias, com duração de 1 hora e 20 minutos. O conteúdo foi registrado em formato de áudio digital e escrito.
Após a entrevista, transcrito o conteúdo, foi feito o levantamento das palavras que surgiram nas falas das participantes e quantificado em frequência das citações dos termos.
Número de citações
Nome social 12
Oportunidade 2
Respeito 3
Vitimizar, mas não é 1
Mulher 16
Banheiro 10
Existir 2
Acolhimento 8
Discrição 2
Diversidade 1
Eu sou o que vocês dizem 1
Trato amoroso 1
Sonho 1
Luta 1
Dignidade 1
Treinamento 2
Valer à pena 2
Trans 17
Exclusão 1
Professora de literatura 1
Manicure 1
Assistente social 1
LGBTQIAP+ 8
Cidadã 1
Eu gosto de conversar com quem me entende 1
Vivo embaixo da bandeira 1
Espaço 10
Voz 3
Estudar 3
Mulher não faz barraco 1
Direito 6
Frases destacadas
“Meu Deus, preciso ir ao banheiro”
“Depois que mudei meu nome, não enfrentei mais esses problemas”
“Nós queremos respeito e não aceitação”
“Um trato amoroso… Poxa, vale a pena vir aqui”
“Eu vivo embaixo da bandeira (LGBT+)”
“Esse público que tem voz, que quer estudar, que tem sonhos”
“Quero ser professora de literatura”
“Eu gosto de conversar com quem me entende”
Conclusões/Considerações finais Mulheres trans enfrentam desafios ao ocupar espaços públicos, especialmente serviços de saúde. Ir ao banheiro é complicado devido à preocupação constante e ao medo de discriminação. Mesmo em locais preparados para acolher a população trans, o desrespeito ao nome social e à identidade é frequente. Essas experiências de exclusão afetam negativamente a saúde dessas pessoas. Um atendimento humanizado é essencial, pois pequenos gestos têm grandes repercussões, principalmente para populações marginalizadas. As equipes de saúde devem receber treinamento contínuo em todos os níveis.
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