Comunicação Oral Curta

03/11/2023 - 08:30 - 10:00
COC14.2 - Síndrome Congênita do Zika e Covid-19: aprendizados e desafios

47274 - ‘VENCI A COVID, E AI?’ EXPERIÊNCIA DE PESSOAS APÓS INTERNAÇÃO POR COVID-19
JULLY SALES LIRA SILVA - UFBA, EMILLY LIMA CARVALHO - UFBA, MARCELO EDUARDO PFEIFFER CASTELLANOS - UFBA


Apresentação/Introdução
O Brasil é o segundo país com mais mortes por COVID-19 no mundo. O caráter pandêmico, grave e recente dessa doença, torna ainda mais relevante a análise da experiência de enfermidade dos sujeitos adoecidos. As incertezas e mudanças em relação aos protocolos terapêuticos, o forte esquema de isolamento, especialmente entre pacientes que sofreram internação hospitalar e o remodelamento dos serviços de saúde figuram como elementos singulares, com prováveis implicações para as experiências vivenciadas. As sequelas decorrentes de quadros graves que necessitaram de internação reverberam na vida cotidiana dos indivíduos após a alta. Com isso, às incertezas relativas à fase de reabilitação, somam-se, sobretudo, a situações de vulnerabilidade socioeconômica que figuram como entrave para a plena recuperação física e mental desses indivíduos.

Objetivos
Analisar as experiências de pessoas internadas por Covid-19 após o internamento.

Metodologia
Trata-se de uma pesquisa qualitativa multicêntrica aprovada pelo CEP UFRJ – Hospital Universitário Clementino Fraga Filho (CAAE: 31450720.9.0000.5257). Apresentamos aqui dados relativos à Bahia. Foram incluídos pacientes com COVID-19, com mais de 18 anos, internados em hospitais públicos ou privados de média e alta complexidade, que assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE). A seleção e recrutamento dos sujeitos empregou técnicas mistas (“bola de neve”, mídias sociais e utilização de banco de dados de serviço de saúde). Foram realizadas entrevistas semiestruturadas, remotas, gravadas em vídeo e/ou áudio e transcritas na íntegra. Análise temática de conteúdo foi empregada para identificar os principais desafios enfrentados por pessoas internadas no período pós-internamento.

Resultados e discussão
Foram realizadas doze entrevistas com pacientes hospitalizados na Bahia, em hospitais públicos e privados, com idades variando entre 27 e 58 anos, sendo: sete mulheres e cinco homens, quatro pessoas autodeclaradas branco(as) e oito autodeclaradas preto(as). A análise dessas entrevistas, identificou diversas repercussões na vida cotidiana após a alta: físicas, psicológicas, financeiras, laborais, nas relações familiares e sociais, de identidade e na autoestima. Essas repercussões resultaram em intensas mudanças na qualidade de vida dos entrevistados.
Por terem ficado acamadas por longo período, as pessoas relataram necessitar de reabilitação motora e pulmonar após a alta, a fim de evitar sequelas permanentes. Muitos relataram perceber alterações nos processos cognitivos com perdas de memória frequentes, além de vivenciarem intenso sofrimento psíquico, alterações do sono, crises de ansiedade, medo constante e desânimo.
No entanto, os depoentes, independentemente do sistema onde foram internados (se público ou privado) relataram não terem sido informados sobre esses acometimentos, tampouco foram orientados no momento da alta sobre os locais onde poderiam buscar ajuda para cuidar desses quadros. Aqueles que dependiam exclusivamente do sistema público de saúde relataram inacesso a esse tipo de tratamento, ficando desassistidos. Aqueles que possuíam uma rede de apoio maior ou aporte financeiro suficiente pagaram por esses serviços, ampliando os gastos com saúde. Apenas uma pessoa conseguiu acessar os serviços públicos de reabilitação para covid-19 por indicação de familiar da área de saúde.
Consequentemente, essas pessoas vivenciaram intensas perdas após a internação e por estarem restritas para desenvolver atividades cotidianas, muitas delas tiveram dificuldades em manter-se ativas no trabalho, tendo os vínculos laborais ameaçados.
De maneira geral, a vulnerabilidade socioeconômica ficou evidente no período pós-internamento de indivíduos com covid-19. As pessoas precisaram lidar simultaneamente com um corpo física e mentalmente debilitado e irresponsivo às necessidades pessoais, familiares e laborais.
Logo, os impactos na qualidade de vida se somam a essa experiência, ao longo da fase de reabilitação, sobretudo, em indivíduos em vulnerabilidade socioeconômica atravessados por uma interseccionalidade de desigualdades que enfrentam um agravamento dos sintomas que se tornam presentes no cotidiano.


Conclusões/Considerações finais
Os resultados apontam para a complexidade da experiência pós-internamento por de enfermidade por COVID-19. Após a alta hospitalar, as pessoas internadas por COVID-19 encontram dificuldades para obter suporte para o acompanhamento e tratamento de sequelas, ficando invisibilizadas aos serviços de saúde, peregrinando em busca de ajuda para cuidar de repercussões físicas, psicológicas e sensoriais decorrentes do adoecimento e internação por COVID-19. Essa desassistência repercute negativamente na qualidade de vida dessas pessoas, interferindo na vida pessoal, financeira e laboral (tornando o adoecimento por COVID-19 crônico).